Uma nova pesquisa relacionada ao novo coronavírus (Covid-19) foi divulgada nesta semana. Realizada por um grupo de mais de 70 pesquisadores brasileiros, esse estudo aponta como a infecção causada pelo vírus age no cérebro humano, provocando a morte de neurônios não somente nos pacientes que apresentam quadros graves ou moderados, mas também nos pacientes considerados leves que não precisaram de tratamento hospitalar na fase aguda.

O artigo com os resultados foi publicado em versão pré-print na plataforma medRxiv e segue em avaliação por uma revista científica internacional.

O estudo é coordenado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e também contou com a participação da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).

Nos resultados obtidos pelos pesquisadores é destacado que o vírus promove alterações significativas na estrutura do córtex (região do cérebro mais rica em neurônios e responsável por funções complexas, a exemplo da memória, atenção, consciência e linguagem).

Em outro trecho, os pesquisadores ressaltam que o vírus infecta e se replica nos astrócitos (células mais abundantes do sistema nervoso central e possuem o formato de estrela).


Foram observadas ainda atrofias em áreas relacionadas, por exemplo, à ansiedade, um dos sintomas mais frequentes no grupo estudado.

Em seu relato, Clarissa Lin Yasuda, pesquisadora da Unicamp, frisou: “Nós encontramos muitos pacientes que, mesmo já tendo se curado da Covid-19 há cerca de 2 meses, continuavam apresentando sintomas neurológicos, como fortes dores de cabeça, sonolência excessiva, alteração da memória, além de perda de olfato e paladar. Em alguns casos raros, até convulsões, e esses pacientes nunca tinham sentido isso antes”.


Ainda conforme explica os pesquisadores, foram realizadas duas significativas descobertas em relação ao mecanismo de ação do vírus. Quando ele entra no cérebro, o ataque acontece como uma espécie de célula de apoio responsável pelos processos metabólicos, dificultando assim a produção de energia e a nutrição dos neurônios e, consequentemente, podendo levar à morte do tecido cerebral.

Outros estudos já haviam demonstrado a presença da Covid-19 no cérebro, porém, desta vez, os experimentos comprovaram que a infecção e replicação nos astrócitos.

A presença do vírus do novo coronavírus foi confirmada nas 26 amostras estudadas, coletadas atráves de autópsia minimamente invasiva realizada em pacientes que morreram por causa da doença.

Ademais, a pesquisa também traz mais indícios de que a via de acesso para o cérebro é o nariz.

“Nos pacientes graves, a morte de neurônios já era esperada porque eles têm baixa oxigenação do sangue e isso prejudica muito o cérebro, mas uma pessoa leve ou moderada ter uma modificação significativa como esta é muito mais preocupante”, diz Daniel Martins-de-Souza, pesquisador da Unicamp e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), um dos líderes do estudo.

Os pesquisadores frisam que a principal contribuição da pesquisa é ajudar a encontrar alvos para o tratamento da doença.

“Se eu souber que o Sars-CoV-2 mexe com os astrócitos, eu posso inventar uma droga que não deixe ele entrar nesta célula, ou que fortaleça essa célula, ou eu posso, talvez, criar uma medicação que possa ser utilizada por via nasal para ajudar a evitar que o novo coronavírus entre no organismo. Isso aumenta as nossas chances de combate à doença. Quando eu não sei com quem eu vou brigar, como eu vou me defender?”.

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