Uma ação civil movida pelo Ministério Público do Trabalho pode determinar que funcionários terceirizados da empresa de papel e celulose Suzano, no extremo sul da Bahia, sejam demitidos. Baseada em denúncias sobre más condições de trabalho, a ação é contra a terceirização das principais atividades florestais e pede a suspensão imediata de todos os serviços terceirizados desenvolvidos pela Suzano na Bahia.

"A terceirização ilícita é aquela contratação de uma atividade, de um trabalhador, para a realização de uma atividade que é finalista da empresa, aquela finalidade essencial para a qual a empresa foi aberta, foi instituída, através de um intermediário, de uma empresa que se interpõe nessa relação. A gente entende que esse tipo de contratação deve se dar diretamente pela empresa com o trabalhador. Em regra, essa terceirização ilícita implica em um patamar remuneratório inferior, ou seja, uma condição de salário pior do que a daqueles empregados que são contratados diretamente, e também piores condições de saúde e segurança, ou seja, levando a risco de acidentes e até de mortes no trabalho", explica o procurador Rômulo Barreto de Almeida.

No acordo firmado entre a Suzano e o Ministério Público ficou estabelecido um prazo de três anos para a empresa acabar com as contratações terceirizadas. A Suzano informou por meio de nota que atua há mais de 25 anos no extremo sul da Bahia e que é importante para o desenvolvimento da região. A empresa diz ainda que está disposta a discutir novamente a questão com o Ministério Público do Trabalho.

Para o presidente da Associação das Empresas Prestadoras de Serviços, no extremo sul da Bahia, a ação do Ministério do Trabalho não levou em conta as atividades desenvolvidas por estas empresas que comprovam uma preocupação especial com as condições de trabalho dos funcionários.

"Todas as empresas associadas garantem EPI [Equipamento de Proteção Individual], fiscalização do uso dos EPIs, treinamento, conscientização, ambiente de trabalho adequado, condições adequadas para alimentação. Quatro mil pessoas diretas que trabalham nessas empresas, citando apenas as nove empresas da associação. Ou seja, são quatro mil empregos diretos, que vão ser transformados em quatro mil desempregados de imediato", afirma Igor Carpegiane, presidente da Associação das Empresas Prestadoras de Serviços no Extremo Sul (Apes).

Foto: Reprodução/ TV Santa CruzFuncionários temem desemprego após ação.

Empregos

Leandro é gerente administrativo de uma das prestadoras de serviços mais antigas no município de Teixeira de Freitas. Ele diz que cerca de 900 funcionários estão com emprego ameaçado.

"Nós contratamos alguns funcionários que não são alfabetizados, mas são funcionários nossos porque prestam um bom serviço, fazem um trabalho com qualidade e nós contratamos. As multinacionais, a Suzano por exemplo, não contrata esse tipo de mão de obra, porque ela precisa de uma certificação de que o funcionário seja alfabetizado, então são desempregados potenciais. No meu caso por exemplo, a Suzano não tem gerente administrativo aqui na região, parte da gestão é em São Paulo, então eu serei desempregado", diz Leandro Cruz, gerente admistrativo de uma das empresas terceirizadas.

Osmar Rufino dos Santos é um dos funcionários que teme perder o emprego. Aos 58 anos, ele passou metade da vida em florestas trabalhando para prestadoras de serviços na área de celulose.

"É mais difícil, não tem como conseguir outro [emprego] fácil. Os novos não estão achando fácil, os mais velhos da nossa idade não têm como arranjar tão fácil assim", avalia Osmar, ajudante florestal.

Manoel Ribeiro também trabalha em uma prestadora de serviços e afirma que o trabalho é a única fonte de renda da família dele.

"A Suzano não vai me aceitar na minha idade, que eu tô dentro da área dela, no caso, porque ela trabalha com isso, porque estou nas empreiteiras. E quando eu estiver na rua, vou viver de que?", questiona Manoel, ajudante florestal. *G1