Além de ter sido preso injustamente por um crime que não cometeu, o ator Vinícius Romão foi vítima de outro erro da polícia. Até hoje, um mês após a prisão, ele ainda não recebeu de volta os pertences que usava no momento em que foi abordado, no viaduto do Méier. Encaminhado à 25ª DP (Belford Roxo), ele foi orientado pelos policiais a deixar o par de tênis que usava, seus dois celulares, uma braçadeira e um fone de ouvido no chão, na porta da cela, para que os pertences fossem entregues a seus familiares. Na manhã seguinte, quando seu pai, Jair Romão foi à delegacia para encontrar o filho, os agentes só entregaram a carteira de Vinícius, com documentos e R$ 10.

— A última vez que vi meus pertences foi no momento em que trancaram a cela. Como já havia feito estágio como atendente na 23ª DP (Méier), conhecia o procedimento. Os policiais botam num saco e dão para os parentes. Fiquei surpreso quando, 16 dias depois, saí da cadeia, e meu pai me disse que não haviam dado nada a ele — contou o ator, que, desde então, usa um celular emprestado por uma amiga.

A denúncia foi feita, na última sexta-feira, na 25ª DP pelo próprio Jair. Ele deixou na delegacia um bilhete ao delegado titular, Niandro Lima, afirmando que não havia sido informado pelos policiais de que havia outros pertences do filho no local.

Quando foi detido, o ator calçava um tênis Oakley modelo Hillcrest comprado havia seis meses por R$ 469,00 — a caixa do sapato e a nota ainda estão guardadas no quarto de Vinícius. Na braçadeira comprada por R$ 150, estavam seus dois celulares, um Motorola Nextel i296 e um Nokia x300 — cada aparelho custou cerca de R$ 100. O fone que estava usando no momento da abordagem custou R$ 50. Hoje, Vinícius e seu pai farão a denúncia em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil.

— No registro feito na delegacia na noite em que meu filho foi preso, os agentes não mencionaram que ficaram com os pertences. Guardei todas as notas dos produtos para não pensarem que estamos mentindo. Quando receber a conta dos celulares no mês que vem, vou mandar para a delegacia — reclamou Jair.

Delegado vai abrir sindicância

O delegado Niandro Lima, titular da 25ª DP, informou que vai abrir uma sindicância para averiguar o desaparecimento dos pertences de Vinícius. Ele ainda não estava lotado na distrital, mas afirmou que é praxe a devolução dos bens.

— O procedimento correto seria o policial que fez a prisão guardar os pertences num saco plástico com o nome do preso e entregar ao pai. A família argumenta que isso não foi feito. A denúncia será apurada. Vamos chamar para depor os policiais que tiveram contato com o Vinícius — afirmou.

O agente Waldemiro Antunes de Freitas Júnior, hoje lotado na 11ª DP (Rocinha), e o delegado plantonista William Lourenço Bezerra estão sendo investigados pela Corregedoria da Polícia Civil por irregularidades na prisão de Vinícius. Na ocasião, o fato foi registrado como flagrante, apesar de Vinícius não estar com os bens da pessoa roubada.

Confira, na íntegra, a entrevista com Vinícius Romão.

Um mês depois de ser preso por um crime que não cometeu, como está a sua vida?

Minha vida mudou muito. Eu era uma pessoa que gostava de sair de casa, de me divertir com amigos. Hoje, por medo, não saio na rua sozinho. Só vou para algum lugar se estiver com mais dois ou três amigos. Nem voltei a trabalhar ainda.

Por quê? Por medo?

Sim. Trabalhava numa loja no Norte Shopping. Quando saí da prisão, meu gerente perguntou se eu queria voltar. Quero muito, lógico. É com esse emprego que vou financiar um curso para ser ator. Mas o shopping é público. Qualquer pessoa pode entrar lá e já sabe onde me encontrar. Não sei com que tipo de pessoa estou lidando.

O que você achou da prisão do outro suspeito pelo roubo?

Esse é o trabalho da polícia. E ele foi bem feito. Mas não podemos esquecer os erros que foram cometidos. Os 16 dias na prisão não podem ficar impunes.

*Extra Globo.