Levar os filhos para a escola de manhã tem tirado o sono dos pais: menos pela preocupação com o horário, mais pelo medo de assaltos. Duplas armadas aproveitam o trânsito intenso em frente às escolas particulares para roubar pais e alunos presos em congestionamentos.

Ontem, por volta das 6h40, próximo ao Colégio Antonio Vieira, no Garcia, cinco carros foram abordados por dois homens em uma moto verde, da marca Tornado, na Rua Pacífico Pereira, conhecida como Ladeira da Curva Grande.

“Pensei que eles iriam discutir com alguém. Um deles bateu no vidro, mas aí um puxou a arma e deu pra ver a mulher dando o celular”, contou um motorista que estava atrás da moto com os assaltantes e que havia acabado de deixar duas crianças no colégio.

Segundo ele, os bandidos não usavam capacetes. “Depois, eles puxaram a moto, bateram em outro carro e a segunda mulher ficou desesperada, gritando muito. Um deles ainda parou de novo em outro e quando desci, vi mais dois carros parados e as pessoas conversando que também tinham sido assaltadas”, relatou.

A testemunha chegou a ligar para o 190, mas a ligação não foi atendida. “Eles estavam com um revólver 38 velho. Vi que as crianças ficaram assustadas. A gente fica preocupado né? Espero que amanhã não tenha nada”, disse o pai.

Registro

Até as 16h, apenas uma das vítimas havia prestado queixa na 1ª Delegacia (Barris): uma administradora que levava a filha de 13 anos e duas filhas de uma amiga, uma de 11 e outra de 13.

Ela relatou que dois homens bem vestidos com calça jeans e camisa polo apontaram a arma para a janela do carro e pediram que ela abrisse o vidro.

“Abri e pedi calma a eles, enquanto as meninas gritavam dentro do carro. Falei que passaria tudo. Enquanto um pegava meus pertences, outro assaltante apontou a arma para minha filha”, contou. A menina que estava sentada no banco da frente não conseguiu assistir aula ontem.

Para a vítima, que pediu para não ser identificada, uma das estratégias para evitar novos incidentes vai ser mudar o caminho. “Estou com medo. Como é que não fica? Vou tentar ir pelo Campo Grande, mas vamos falar com a prefeitura para colocar uma viatura (da Guarda Municipal) ali e pedir para que as pessoas prestem queixa”. Segundo ela, outra vítima foi uma professora do colégio e outra era também mãe de um aluno.

A mãe das duas meninas que estavam no carro explicou que vai tentar chegar mais cedo para evitar o congestionamento que dura cerca de 20 minutos. “Não tem muito para onde correr, né? Temos que esperar mais policiamento”, relatou.

Funcionário de um depósito de águas na rua em que os assaltos aconteceram, Uiliam Jesus destaca a insegurança do bairro como um todo. “Aqui não tem hora não. Os carros da fila ficam esperando para ser assaltado. Ele bate com uma arma no vidro, quem é que não vai abrir?”, questionou.

Insegurança

O diretor da escola, padre Domingos Mianulli, ressaltou que apenas, ontem, foram entre três e quatro assaltos, mas seria a primeira vez que isto acontece.

“A situação de insegurança não está limitada ao Garcia, aqui não oferece mais risco que outras áreas da cidade”. Segundo ele existem alguns casos de pedestres que também furtam pertences.

Ele conta que a direção já fez contatos com os órgãos públicos para pedir segurança outras vezes. “Não é de hoje que temos um canal aberto com a polícia, mas eles dizem que depende do número de ocorrências. No final do mês, as estatísticas têm que pesar e a maioria não registra”.

Uma funcionária do colégio disse que ocorrências do tipo são comuns no congestionamento em frente à escola. “Se você vier aqui de manhã, vai ter pai saindo do carro para falar com você. É muito comum, mas nessa proporção nunca teve”, ressaltou. Reginaldo Cardoso, dono de uma delicatessen perto ao colégio, já foi vítima de diversos assaltos e conta que teve que buscar o filho, estudante da 8ª série do Vieira, no meio da aula. “A notícia correu e ele me ligou assustado, falando sobre os comentários e pediu que fosse buscá-lo”.

O filho costuma voltar andando do colégio para a casa do pai. Sobre os assaltos a seu estabelecimento, Reginaldo diz que já perdeu as contas. “Entre uns 15 a 20. Algumas registrei queixa, outras não. Não adianta, a cidade toda está assim e quando os caras querem, eles vão no lugar mesmo”.

O estabelecimento já conta com câmeras de segurança e há um ano que não é assaltado. Mesmo recorde do Mercado Conquista, vizinho do colégio Antonio Vieira. “Estamos aqui há uns 5 anos, mas já perdi as contas viu? Acho que umas 10 vezes. No ponto de ônibus aqui tem assalto direto. Roubar celular já virou brincadeira”, diz a funcionária Edna Souza.

Ronda

Procurada, a 41ª Companhia Independente da PM Garcia/Federação confirmou a ocorrência dos assaltos. Uma guarnição foi deslocada, mas não encontrou os assaltantes. A tenente Flávia, coordenadora da área, qualifica o evento como pontual e, segundo ela, há uma dupla de policiamento que faz ronda na região, além de uma viatura.

*Correio.