Localizada em Simões Filho, para adentrar à comunidade é preciso passar pela guarita da Vila Militar ligada à Base Naval de Aratu que cerceia o lugar, além de enfrentar a burocracia dos militares que limitam a entrada apenas aos “posseiros cadastrados”.

A comunidade, com cerca de dois séculos de existência, vive sob a tensão de um conflito com a Marinha do Brasil, desde os idos de 1960, devido à divergências sobre a posse das terras. Segundo relatam moradores do Rio do Macaco, residiam na comunidade cerca de 500 famílias. Hoje, restaram apenas 43.

Rosimeire disse que a situação está difícil. "Está tendo violência no local e nada foi feito. A gente foi registrar uma queixa e a delegacia não aceitou porque é a Marinha. Ela pode fazer o que quer. No sábado, o cabo Diego sacou uma arma pra mim duas vezes pra atirar, porque a gente ia receber uma visita no local e eles proibiram. Eu procurei saber o porquê que meus colegas não iam entrar. Ele falou que era pra conversar com o sargento Paulo César. O sargento falou que o comandante quem deu a ordem. Procurei saber o nome do comandante e ele falou que não ia dar. Após isto o cabo levantou a voz, colocou o dedo em meu rosto e mandou eu sair dali. Eu disse a ele que não era 'cachorra' e pedi pra ele tirar o dedo do meu rosto. O cabo sacou a arma, destravou, puxou [o gatilho] e ia atirar. Nossa comunidade está proibida de receber visita de fora, até o SAMU. A gente só sai e entra se eles quiserem", conta.

Ela disse ainda que não foi resolvido nada até o momento. "Faltam três meses para sair da comunidade. A gente tá vivendo na escravidão. Muita gente está dizendo que já resolveu, mas não resolveu nada. A Marinha não está de brincadeira, eles tão fazendo violência com a comunidade e tá tudo debaixo do tapete".

"Eu vou morrer, eu vou pingar a última gota de sangue que tenho no corpo, mas eu vou lutar. Os únicos políticos que têm apoiado são Luiza Maia (PT) e o Deputado Luiz Alberto. O Incra até hoje não veio, eles falaram que vem no dia 06. Na minha opinião tá muito parado. Essa comunidade vai sair do local sem direito a nada e quilombos não trocam nem vendem. A gente não vai aceitar trocar, nem vender. Quilombo não se vende, nem troca", desabafou.

Luiza Maia

A deputada Luiza Maia (PT) manifestou repúdio à atitude da Marinha em relação à comunidade." O que a Marinha está fazendo não tem cabimento. A escravidão já acabou no Brasil".

Ela salientou que marcou uma reunião com Rosimeire na Assembleia Legislativa. "Ninguém mais vive sob pressão de uma Força Armada que não tem o menor respeito por uma comunidade de 100 anos, uma comunidade quilombola. Pedi apoio à Assembleia e vamos pedir uma audiência com o comandante da Marinha, porque ele vai ter que rever como é que estes subrodinados têm tratado esta comunidade.

A deputada sugeriu ainda aos prefeitos de Salvador e Simões Filho a abertura de uma via para a comunidade circular.

"Eles têm direito, são de uma comunidade remanescente. Tem pessoas ali há mais de 100 anos. O povo precisa mostrar também o seu poder e a sua força se organizando e dizendo também o que quer, porque afinal de contas nós vivemos em uma democracia. Então eu quero registrar aqui o meu protesto, o meu repúdio à Marinha do Brasil com as atitudes que está tomando com essa comunidade", concluiu.