O risonho Adson aproveitava falhas de segurança para invadir prédios

A sensação de impunidade e a experiência adquirida nas dezenas de assaltos praticados em prédios de luxo já estavam garantindo a Adson Santos de Jesus, 37 anos, a confiança para colocar em prática ações mais ousadas.

“Na quinta-feira (amanhã) eu ia pegar (assaltar) um (prédio) grandão do Itaigara, atrás do shopping Iguatemi. Esse tinha câmera e tudo, mas eu ia meter as caras”.

Estas palavras, ditas entre risos, são do autor confesso de assaltos a prédios residenciais em áreas nobres de Salvador, prática que aumentou desde o final do ano passado.

Os planos para o roubo que seria realizado amanhã só tiveram que ser abortados porque Adson foi preso na segunda-feira no Largo do Tanque, por agentes de três delegacias que se juntaram em operação.

“Eu escolhia os (edifícios) da Graça, Pituba, Ondina, Barra. Só bairro de barão”, lista Adson, justificando encontrar nesses locais produtos de maior valor. A polícia ainda atribui a ele assaltos no Rio Vermelho e do Costa Azul.

As ações, segundo o próprio assaltante, tinham o apoio do irmão Ednei de Jesus. Juntos, eles monitoravam o prédio escolhido como alvo por cerca de duas semanas.

As imagens de câmeras dos condomínios mostram que os assaltantes entravam com fardas e aproveitavam brechas na segurança, a exemplo de quando um agente da Coelba entra em um dos prédios.

“Usava crachá de empresa para enganar os porteiros e entrar mais fácil nos prédios”, revelou o assaltante, apresentado ontem pela polícia. “Ele é bastante perspicaz e mostra o quanto as administrações dos prédios precisam investir em treinamento dos seus profissionais. Ele aproveitava os vacilos ou uma fragilidade do prédio quanto à segurança”, diz a delegada Jussara Souza, titular da 7ª Delegacia (Rio Vermelho).

Método

Falastrão, Adson mostra que não era seletivo só quanto aos bairros. Ela tinha um critério para escolher qual dos apartamentos ia roubar – em média dois por edifício. “Às vezes passava antes na garagem. ‘Metia’ os apartamentos depois de ver quem tinha carrão na garagem”, conta.

Segunda a delegada Jussara Souza, as ações eram violentas, com ameaças com arma de fogo. Geralmente, os assaltantes trancavam os moradores no banheiro enquanto roubavam eletroeletrônicos, eletrodomésticos, joias, mochilas, CDS e DVDs, relógios, roupas e cosméticos.

Na casa de Adson, em Boa Vista de São Caetano, muitos destes bens foram encontrados pela polícia, além de três camisas com logomarcas de duas empresas diferentes e crachás. De acordo com a polícia, os porteiros dos prédios eram confundidos com ofertas de serviços de construção ou jardinagem, até serem ameaçados com uma arma.

De branco, assaltante entra em edifício junto com técnico da Coelba

Histórico

Adson era foragido da Colônia Penal de Simões Filho. Ele foi beneficiado, em 2011, com a saída temporária do Dia dos Pais e não retornou para cumprir a pena por assalto. Segundo o delegado João Cavadas, titular da 14ª Delegacia (Barra), havia três mandados de prisão em aberto contra ele. Seu irmão, Ednei, também já cumpriu pena por roubo e agora está sendo procurado, após vítimas o reconhecerem por foto.

O delegado titular da Pituba (16ª DT), Nilton Tormes, afirma que conta com a ajuda da população para encontra Ednei. Denúncias anônimas podem ser feitas através do telefone 3235-0000.

Tormes lembra que o apoio da população é crucial para o combate deste tipo de crime. Na Pituba, moradores criaram um conselho de segurança. “O conselho é importante para ajudar na prevenção, já que não temos condições de ter um policial em cada esquina. Se um porteiro estiver ajudando o outro, atentos, acionam a polícia. Isso faz diferença”.

Uma das últimas ações de Adson e Ednei foi o roubo de dois apartamentos do edifício Beatriz, na Graça, há uma semana. Ali, eles renderam quatro moradores e dois funcionários do condomínio.

Ameaçando as vítimas com um revólver calibre 38, a dupla levou joias, um carro, um relógio, um celular, um notebook, e R$ 899. Um dos moradores acreditou se tratar de operários e deixou que os irmãos entrassem. Os ladrões fugiram no carro da síndica.

Objetos levados de apartamentos encontrados na casa de Adson

Bando que também assaltava edifícios foi preso em janeiro

Enquanto Adson e Ednei atormentavam os moradores dos condomínios de Salvador, outra quadrilha também vinha invadindo os edifícios utilizando método semelhante ao dos irmãos. O bando, comandado pelo morador de rua Ademir Ribeiro dos Santos, o Polegar, de 32 anos, realizou assaltos em prédios na Federação, Ondina e Costa Azul, entre dezembro e janeiro.

A quadrilha, presa no dia 8 de janeiro, contava com mais um homem, duas mulheres e uma adolescente de 17 anos. Em todas as ações, os suspeitos renderam os moradores, levaram bens dos apartamentos e até veículos.

No dia 14 deste mês, reportagem do CORREIO mostrou que, com a onda de assaltos, as empresas que oferecem projetos e equipamentos de segurança condominial aumentaram as vendas em cerca de 25%. Fonte: Correio