Cebola perdeu visão de um olho após sair de facção. Depois, criou a sua

“Isso é problema de gangue, daí a gente assassinou todo mundo”. Foi com essas palavras que Fábio Conceição Brito, 25 anos, mais conhecido como Cebola, admitiu ser o autor e o mandante de uma chacina que deixou cinco mortos no mês passado.

As cinco vítimas — mortas por tentarem disputar a boca de Cebola — foram executadas em Fazenda Coutos e desovadas em Valéria. Ao ser apresentado na sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP), no CAB, ontem à tarde, Cebola não se fez de rogado: admitiu ter cometido pelo menos outros 15 homicídios. “Assumo os meus, que são uns 20”, completou.

Ele foi preso na madrugada de domingo, em casa, na localidade da Cidade de Plástico, em Fazenda Coutos. A prisão de Cebola foi uma operação da Polícia Civil, com a Polícia Militar, por meio do Grupo de Apreensão e Capturas (Grac).

Além de Cebola, foram presos Adenilton Nascimento da Silva, vulgo Foguinho, Sandro Dias dos Santos, o Bulha, Ailton Pereira do Couto Garrido, o Garrido, Lucas Costa Souza Santos, conhecido como Neguinho, e Jocimara Santos de Matos, a Galega.

Todos são apontados pela polícia como integrantes da facção de Cebola, que dominava o tráfico de drogas na Cidade de Plástico. De acordo com o delegado Jorge Figueiredo, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a quadrilha é composta por pelo menos dez pessoas.

“Por alto, posso avaliar dez pessoas com atribuições dentro do bando. Mas há, ainda, os olheiros e aqueles que servem de avião”, explicou. A ação para capturar a quadrilha começou às 4h da manhã e se estendeu até as 14h, segundo o major Washington Costa, comandante das Operações Especiais Gêmeos, da PM.

“Fizemos o isolamento da área e entramos nas casas do grupo”, lembrou. O major contou que os acusados estavam escondidos em seus barracos. “Eles reagiram e houve troca de tiros”.

No confronto, um dos suspeitos de ser do bando de Cebola morreu. “Ainda não conseguimos identificá-lo, mas ele era chamado de Meio-Dia. Também estava com uma das armas da chacina de Valéria”, afirmou o delegado Odair Carneiro, titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos.

Carneiro informou, também, que quatro mandados para integrantes da quadrilha ainda devem ser cumpridos. Depois que foi capturado, Cebola teria entregado alguns dos comparsas, segundo o delegado. “Ele foi levando os policiais até cada um”.

Ainda assim, na disputa com a polícia, alguns fugiram, como o suspeito identificado apenas como Gago. “Na hierarquia, Gago era o segundo. Mas temos equipes fazendo diligências em busca deles”, disse o delegado.

Disputa

Cebola não aceitava que ninguém tentasse vender drogas na sua área, que era toda a Cidade de Plástico, segundo o delegado Odair Carneiro.

Por esse motivo, teria ordenado e executado as mortes de Tiago Batista dos Santos, 19 anos, Neilton da Silva Santos, 29, Larissa Santos Oliveira, 17, Jéssica Maísa dos Santos Figueiredo, 19, e Josélia Nascimento dos Santos, 16 anos, no mês passado.

“O objetivo maior era executar Tiago, mas todos faziam parte de uma quadrilha de Mata de São João”, disse Odair Carneiro. Após o Carnaval, o grupo veio para Salvador e se instalou na Lagoa da Paixão, também em Fazenda Coutos.

“A partir do momento em que eles começaram a vender droga e o Cebola e o Gago identificaram que eles faziam parte de outra facção, o encontro foi armado para a execução”.

O grupo de Mata de São João foi morto na Cidade de Plástico, mas arrastado até a Estrada Velha de Valéria. Depois de ter dominado os cinco, Cebola confessou que deixou Tiago de joelhos e o executou. “Os demais foram executados juntos por Galega, Gago e pelos demais”, afirmou Carneiro.

A distância entre o local da tortura e a desova é de cerca de 5 quilômetros, segundo o major Washington Costa. “Eles foram torturados, depois levados até Valéria. Depois, o carro foi abandonado”.

Ficha

Cebola entrou no crime aos 19 anos, segundo o major. Depois, começou a fazer parte do Comando da Paz (CP), uma das maiores facções do estado. Há quatro anos, contudo, levou um tiro no rosto, que prejudicou a visão do olho direito. O atentado seria uma retaliação a uma suposta traição ao CP. “Então, ele saiu e conseguiu levantar a quadrilha dele”, disse o major.

Na operação, também foram apreendidos sete quilos de droga (cocaína, crack e maconha), cinco revólveres calibre 38, duas pistolas ponto 40, munições, duas balanças, três máscaras. Também foram encontrados um colete à prova de balas, R$ 2,1 mil, anotações da venda de drogas, além de oito celulares e dois carros e uma motocicleta roubados.

Cebola foi preso por duplo homicídio em 2011, mas foi liberado no São João do ano passado. Nem a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) nem o Tribunal de Justiça (TJ) souberam informar por que Cebola foi solto .

Chacina: vítimas tiveram membros queimados e foram amarradas

No dia 8 de março, moradores da Estrada Velha de Valéria encontraram cinco corpos amontoados no local. Eram de Tiago Batista dos Santos, 19 anos, Neilton da Silva Santos, 29, Larissa Santos Oliveira, 17, Jéssica Maísa dos Santos Figueiredo, 19, e Josélia Nascimento dos Santos, 16.

Cobertas de sacos de aniagem, as vítimas tiveram membros quebrados e queimaduras. Todos estavam com as mãos amarradas e tinham, cada um, cerca de 20 perfurações de bala.

De acordo com a polícia, eles faziam parte da Quadrilha do Cemitério, de Mata de São João, liderada por Tiago, o Negão. Na época, um agente, que não quis se identificar, disse ao CORREIO que a quadrilha era muito violenta. “Eles traficavam, assaltavam e faziam sequestro- relâmpagos”. Fonte: Correio