O procurador de Justiça Francisco Cembranelli, que foi o promotor do caso Isabella Nardoni, afirma que um novo laudo sobre o assassinato da menina não será capaz de provocar uma reviravolta na condenação. O relatório, feito nos Estados Unidos a pedido do advogado de defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, mostra que os ferimentos no pescoço de Isabella não teriam sido feitos por mãos.

Cembranelli disse que a perícia contestada pelo novo laudo não é a única que coloca o casal na cena do crime. Isabella foi morta em 2008, aos 5 anos. Em 2010, o pai e a madrasta da menina foram condenados pelo assassinato. O procurador questiona a isenção do relatório feito pelo diretor do Instituto de Engenharia Biomédica da George Washington University, James K. Hahn, a pedido do advogado do casal, Roberto Podval. "Não tive acesso ao material, mas me parece que foi encomendado pelo advogado de defesa. Quando você contrata um parecer, a opinião é ao gosto do freguês, é o que o cliente espera para utilizar em sua defesa."

Segundo Cembranelli, a conclusão dos peritos de São Paulo sobre os ferimentos foi determinada por profissionais que "tiveram Isabella nas mãos durante 9 horas e não apenas por fotografias". "Os peritos manusearam o corpo, fotografaram, deram depoimento na Justiça. Essa prova não foi feita por um cidadão que pegou o caso por fotografia, cinco anos depois, e comparou com um molde das mãos do casal."

O procurador afirma ainda que perícias brasileiras apontam que o arbusto do jardim estava intacto após a queda da menina. "É mentira que ela tenha arranhado o pescoço no arbusto (uma das possibilidades apontadas pelo laudo americano)." Sobre a possibilidade de a Justiça aceitar a análise de contestação das provas em habeas corpus, ele afirma que não vê probabilidade de o relatório ser aceito.

"Não se costuma permitir a discussão do mérito em habeas corpus. Mas como no Brasil tudo é possível e os habeas corpus são interpostos a cada semana, tratando o mesmo tema, pode ser até que algum tribunal aceite discutir essa questão. O importante é que não vai alterar nada, temos outras provas."

Provas – Entre os documentos levantados pelo Ministério Público está o GPS que coloca o casal no apartamento no momento em que a menina foi jogada, além de perícia nas roupas do casal e reagentes que indicaram sangue pelo apartamento. "Há ainda a reprodução simulada do fato, feita por uma equipe de 20 profissionais, no próprio edifício em que ocorreu o crime. Foram também ouvidas pelo menos 80 pessoas no processo que trouxeram toda a história de vida dos envolvidos e as testemunhas que ouviram no prédio ao lado o casal discutindo imediatamente após a menina ter sido jogada."

Ele diz ainda que o caso está sendo discutido no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Entre as questões levantadas pelos advogados estão a alegação de cerceamento de defesa e a divulgação do caso pela imprensa além do que deveria, o que poderia ter comprometido o entendimento do júri. "São questões periféricas que não têm a ver com o mérito", ressaltou. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.