Sempre que uma manifestação começa, uma bomba em um caixa eletrônico precisa ser desativada, ou uma ocorrência grave ocorre no estado, um grilo começa a cantar no celular do novo comandante do Choque da Polícia Militar de São Paulo, coronel Carlos Celso Savioli.

Há 11 dias à frente da tropa de 3 mil homens, o oficial gosta de ser informado por uma mensagem de texto sempre que seus homens são acionados. “Coloquei o som de um grilo para eu saber que é coisa séria, algo 'cri cri' que tenho que me preocupar”, brinca.

Ele assume o cargo após críticas de supostos excessos durante as manifestações em junho e julho, que culminaram com a saída do ex-comandante César Morelli.

Aos poucos, Savioli começa a fazer mudanças: segundo ele, nas próximas manifestações, os pelotões (de até 20 PMs) que atuam nos protestos terão, em vez de 3 atiradores com munição de borracha, apenas um, que só fará disparo mediante ordem.

“Eu sou contra o uso de elastômero (borracha). Não vou proibir, porque se um manifestante acende um coquetel molotov, o policial precisa fazer o disparo para prevenir.

Minha ideia é apenas um atirador, treinado, que só atira mediante ordem. Não tem necessidade de mais. A munição química (gás) é mais do que suficiente”, afirmou ele em entrevista ao G1 nesta terça-feira (20) na sede do Comando do Choque, na Luz, no Centro de São Paulo.

"O Choque é acionado em última instância, quando já se esgotaram todas as capacidades da PM. Eu entendo que nossa atuação não deva ser como linha de contenção, como fator de dissuasão, como acompanhamento.

Se existe vandalismo e depredação, chegamos para dispersar e prender quem está quebrando. O Choque não vai para ficar assistindo à manifestação, nossa ação é rígida”, afirma.

Para o oficial, não há dificuldade em diferenciar quem está atuando pacificamente. “Os próprios baderneiros usam um uniforme que os identificam. Faz parte do minuto de fama do vândalo deixar o ato e agir isoladamente para chamar a atenção”.

Há 29 anos na PM, o coronel trabalhou mais de 10 anos no Choque: passou pelas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), pelo Comandos de Operações Especiais (COE, especializado em patrulhamento de áreas de difícil acesso) e comandou o batalhão responsável pelos estádios e grandes eventos.

Entre seus objetivos para os próximos meses, diz que está empregar a Rota como uma “arma contra a facção e o crime organizado” no interior do estado e na Baixada Santista e também aumentar o efetivo das Rondas Ostensivas com Apoios de Motocicletas (Rocam), atualmente de 80 PMs, para se transformar numa "ferramenta para combater roubo a banco" devido às dificuldades do trânsito da capital.

Punições na PM

Savioli evita comentar, porém, as críticas sobre as manifestações dos dois últimos meses, pois ainda não teve acesso às investigações dos casos de uma jornalista e de um fotógrafo que foram feridos por tiros de bala de borracha. Mas defende a conduta dos policiais.

“É difícil para as pessoas de fora entenderem que o soldado que está na linha de frente é uma pessoa igual a você", diz ele. "Se há um confronto de um grupo de 20, 30 policiais contra 2 mil, 3 mil manifestantes, isso dá medo.

Por melhor que o PM esteja preparado, fica tenso. Se ele receber ordem para usar munição química, se é o que ele tem, ele usa. Eles são pessoas, não são máquinas. Se houve ou você viu excesso, pode ser porque estava se sentindo acuado”, defende.

Há uma fila de espera para entrar no Choque. "Faz 15 dias que cheguei aqui e uns 12 oficiais já me procuraram querendo vir e dezenas de praças. Ninguém ganha um centavo a mais para estar no Choque, só ganha mais serviço.

É o policial mais dedicado e bem treinado da PM. Mas o mais corajoso é aquele da radiopatrulha (o policiamento das ruas, que atende 190)", afirma.

No último dia 14, Savioli atuou pela primeira vez quando manifestantes que reclamavam de suspeitas de irregularidades em contratos do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos tentaram invadir a Assembleia Legislativa, na Zona Sul da capital paulista. Na ocasião, ele disse que conversou com os policiais buscando que entendessem os protestos como "atos normais". O Choque não chegou a ser usado.

"Precisamos entender que manifestação faz parte da vida democrática, as pessoas têm direito de se manifestar. Não podemos parar a polícia por causa de manifestação. A própria corporação tem que se acostumar com os problemas do trânsito provocados por isso”, entende.

Se houver erros, diz, os líderes da tropa é que serão punidos. “Aqui não temos conduta individualizada. Se alguém tiver que ser afastado, é o tenente e daí pra cima. O soldado não, o soldado age sob comando. Sempre, não age nunca isolado”, afirma.

Copa do Mundo

O comandante diz que não teme o acirramento das manifestações em 2014. Segundo ele, a PM está comprando caminhões tanque que podem lançar jatos de água, água com gás e com tinta que servirão para prevenir incidentes durante a Copa do Mundo e proteger os turistas.

“Jogar só água é gostoso, é diversão. A vantagem da tinta é que identifica o grupo que fez a desordem por um tempo, facilitando a prisão”, diz.

O coronel não tem planos de aumentar o efetivo do Choque para conter eventuais protestos e defende que o estado de São Paulo não peça ajuda federal durante os jogos.

“Eu não quero dar uma impressão de que esteja esnobando, mas a PM de é grande o suficiente para resolver qualquer problema sem apoio da Força nacional, apoio das Forças Armadas, e até sem apoio do Choque. A PM territorial é muito bem estruturada”, diz.

Carandiru e família Pesseghini

Savioli chega ao comando do Choque em um momento crítico que, segundo ele, deixou "o clima pesado" e a "triste" e diz sentir "o peso da responsabilidade".

Além dos protestos, outos dois episódios recentes repercurtiram internamente: a condenação de policiais da Rota por 111 mortes em 1992, no episódio conhecido como Massacre do Carandiu; e as mortes do sargento da Rota Luiz Marcelo Pesseghini e de mais quatro pessoas da família, segundo a polícia provocadas pelo filho do PM, Marcelo, de 13 anos.

"Esta é uma cadeira cobiçada, onde eu sempre sonhei estar. Para estar neste comando é preciso ter legado no Choque e não se preocupar com o nome, não ter vaidades. As decisões aqui tem que ser rápidas, com segurança. E qualquer decisão que eu tomar vai repercutir. Não posso ter medo de errar”, acredita.

Rota no interior

Para Savioli, “o interior de São Paulo está carente de policiamento mais forte”. Por isso, ele pretende usar a Rota na região metropolitana, no centro do estado, região de Piracicaba e na Baixada Santista como uma “ferramenta” no combate ao crime organizado. “Não me preocupo com a Rota, está em boas mãos.

A Rota é a melhor força policial do Brasil atualmente, estão totalmente técnicos e profissionais", diz. As informações são do G1.