Apresentadora do “Hoje em Dia”, Chris Flores iniciou sua carreira jornalística em uma assessoria de imprensa. Logo, seguiu para trabalhar com comunicação corporativa, e passou por jornais e revistas antes de receber o convite para a TV. Mas, antes do jornalismo, Chris teve outras experiências profissionais. Aos 14 anos, enxergou na dança, que praticava desde os três anos de idade, uma oportunidade de trabalho. Além de professora e bailarina, ela também foi vendedora de produtos náuticos. “O pessoal chegava com mala de dólar para comprar uma âncora. Eu falava: "Meu Deus, uma âncora?”, se diverte Chris, que começou a entender o que era responsabilidade naquela época, enquanto dividia seu tempo entre os estudos para o vestibular e o trabalho.

A correria na vida dela segue desde então. “Acordo às 6h, tomo banho e vou para a Record. Tomo café e leio os jornais e sites. Dependendo do dia, tenho gravação à tarde, faço fotos, participações em outros programas, reuniões", enumera. "Tenho meu site pra resolver, meu livro que eu estou pra lançar e outros projetos em paralelo”, continua a mãe de Gabriel, de seis anos, e mulher do fotógrafo Ricardo Corrêa.

Sem babá, ela faz questão de pegar o filho na escola, no fim da tarde. “Às vezes faço ginástica, unha, mas isso sempre fica em segundo plano”, diz a apresentadora que mudou de visual e desabrochou diante do público. Os óculos, que antes eram sua marca registrada, foram deixados de lado após uma cirurgia para correção da miopia. O cabelo, antes na altura da orelha, cresceu e apareceu. Algumas pessoas chegam a perguntar se é aplique. “Não. É meu. Pode puxar”, brinca.

A mudança no visual rendeu, não só elogios, mas um aumento de anúncios comerciais, antes dominado pelas modelos do programa. “A resposta das pessoas foi automática, mas também comercialmente. Explodi de fazer merchandising por causa da mudança. Tudo conspirou a favor. Vi que deu certo e resolvi continuar nesse caminho”.

Consegue imaginar como seria sua vida se você tivesse seguido a carreira de bailarina?
Chris Flores: Acho que eu já teria naufragado (risos). Ser bailarina é uma profissão muito difícil. Quando eu fazia Cisne Negro, todo ano vinha uma inglesa da Royal Ballet para nos avaliar. Ficava com medo e com frio na barriga. Teve um teste e, quem passasse, faria um estágio na Royal. Na época, passei e quis ir. Mas para eu ir, minha mãe disse que teria que vender o piano, que eu também fazia aula, e arranjar dinheiro porque era tudo muito caro lá. Naquele momento, falei: "Acabou aqui".

Durante as fotos, um dos garotos que pediu para tirar foto com você disse que você era mais alta do que ele imaginava. O que você costuma ouvir do público?
Chris Flores: Falam muito sobre a altura. As pessoas imaginam que sou mais baixa porque, minhas referências na TV são pessoas altas. Eu tenho 1m73. Às vezes, falam que sou magra pessoalmente. Já falaram que eu sou diferente. Perguntei: “Diferente como? É bom ou ruim?” (risos). Falam também que sou mais jovem. Na época do óculos era pior, porque ele te envelhece. Foi absurda a resposta nas ruas, com a mudança de visual. Acham que fui obrigada a mudar e não foi nada disso.

Por que você mudou? O fato de ter modelos a seu lado influenciou?
Chris Flores: Isso não, sempre fui muito tranquila. Quando entrei na TV, eu ia com a minha roupa. Até que um dia, o Paulo Henrique (Amorim) perguntou se eu não pensava em passar a minha roupa antes de entrar no ar. Eu falei: “Você tem toda a razão”. Era ridículo eu entrar daquele jeito. Não estava preocupada se os meus óculos eram bonitos ou feios, se a roupa era legal ou não. Minha preocupação era se eu estava levando a informação de conteúdo.

Não era uma mulher vaidosa?
Chris Flores: Era uma mulher normal. Saía de casa e via se eu não estava saindo ridícula. Não usava maquiagem, só um batom, um rímel, no máximo. Uma calça jeans, uma camisa. Não estava preocupada com tendências (risos).

Quando começou a se ver, se descobrir bonita, a querer mudar?
Chris Flores: Quando comecei a ir para o ar, minha preocupação era se eu estava dizendo o português correto, se eu iria passar a informação certa. Quando virei apresentadora, o Vildomar (Batista, diretor da atração na época) teve uma conversa comigo: “Você virou apresentadora. Mudou. Você senta ao lado da Ana (Hickmann). Você tem que se colocar no mesmo nível que ela e se comportar como apresentadora”. A Ana me ajudou muito nesse primeiro momento. Ela me deu toques. Não passava pela minha cabeça usar saia, decote. Pensava: “Sou jornalista, não posso”.

A Chris Flores mudou além do visual?
Cris Flores: Mudei muito. Você começa a entender o seu corpo e a se valorizar. Percebi que podia ficar mais feminina, mais mulher. As pessoas poderiam se espelhar em mim sem ficar vulgar, que era o meu maior medo. Eu tinha uma preocupação tão grande de conteúdo que eu achava que as pessoas iam achar que eu perdi todo meu conteúdo e que queria ficar gostosa. Preferia ser a feia inteligente do que a bonita burra. Tinha muito medo. Principalmente quem estuda, se prepara. Cheguei ali por causa do conteúdo e não pela beleza.

Já se achou feia?
Chris Flores: Nunca me achei uma mulher bonita. Hoje, acho que estou melhor do que eu estava. O mais legal é que eu fiz uma melhora sem recorrer à cirurgia. Comecei a limpar o rosto, passar creme, cuidar do meu cabelo, tirei os óculos, coloco uma roupa que me valoriza. Não vou ser considerada menos se eu ficar bonita. E o que eu falo sempre no ar, quando posso comentar uma matéria é: estude muito que vale a pena. Quando consegui conquistar tudo isso na televisão, foi uma conquista para todo mudo. Nós, que trabalhamos com celebridades, somos muito desacreditados. Viramos escória do jornalismo. Eu já fiz política e é a mesma coisa.

Faria uma cirurgia plástica?
Chris Flores: Não acho ruim quem faz plástica. Se for para melhor, se a pessoa se sente bem com isso, por que não fazer? Eu tenho medo. Fui para uma cesariana morrendo de medo. Tenho medo de anestesia (risos).

Você pensa em ter mais filhos?
Chris Flores: Tenho vontade. Eu queria ter uma menina, mas fico pensando. Fui muito presente e sou com o Gabriel. Não tive babá. A família vai se ajudando, se revezando. Hoje eu já não teria uma gravidez tão tranquila porque eu tenho que estar no ar. Eu enjoei muito com o Gabriel. Já pensou eu, no ar: “Gente, espera aí que agora não dá” (risos). E depois, como é que vou fazer para amamentar? A gente só tem férias no Natal e Ano Novo. Fico pensando como é que vai ser essa realidade.

Com toda essa mudança no visual, surgiu algum convite para fazer algum ensaio sensual? Você aceitaria?
Chris: Não, não tenho nem um pouco de curiosidade. Não consigo nem fazer de brincadeira para meu marido (risos). Pelada, pelada, só fiz foto na gravidez. Fico imaginando uma situação em que tivesse que tirar a roupa na frente de um monte de gente e ainda fazer pose sensual. Para mim, realmente não dá.

Mas já recebeu convites?
Chris Flores: Pelo menos nunca chegou até mim. Até encontrei outro dia uma diretora da Abril, que trabalhou comigo e que é superintendente da "Playboy". E ela falou: “Nossa, você está linda. Já está podendo fazer 'Playboy'”. E eu falei: “Nem começa”. Mas eu acho que eu também nem inspiro isso.

Falando um pouco de TV, em um evento do SBT, Silvio Santos falou que lutar contra a Globo é impossível. Como que é vocês conseguem superar o canal?
Chris Flores: É legal porque a gente pega três programas da Globo no ar. Já chegamos a pegar cinco. Aí teve uma época que eles brincavam: a gente tirou o “Sítio do Pica-pau Amarelo” do ar, a Xuxa do ar, empurramos a Ana Maria mais para frente. A manhã é uma questão resolvida para a Record, mas é uma briga diária. É minuto a minuto.

Na falsa morte de Amin Khader você se acabou de chorar durante o programa e, de repente, descobriu que a informação não era real. O que você sentiu naquele momento?
Chris Flores: Na hora, foi muito louco, porque a gente estava lá e a Geanne (Albertoni) falou: “Nossa, aqui está falando que Amin morreu”. E eu disse que era impossível, que ele tinha deixado um recado para mim. Comecei a ligar para ele, e só dava caixa postal. Na casa dele, ninguém atendia. O Celso falou umas 50 vezes: “Eu não vou dar essa notícia, vamos confirmar isso aí”. Até então, eu estava bem. Só que aí, falaram: “O Rio de Janeiro vai entrar ao vivo. Está confirmado pela família”. Ah, eu desabei na hora. Comecei a chorar porque gosto muito dele. Ele me chama de mãe. A mãe dele morreu, o pai dele morreu, a família dele não gosta dele porque ele é gay e eles são muçulmanos. Entrei em pânico na hora. Daí, 30 minutos depois que o programa acaba, vem a notícia de que ele está vivo. A gente queria cortar os pulsos. Para mim, ótimo que ele está vivo. O que ficou para a gente de raiva, de ódio, de frustração, é saber que demos uma notícia que não era verdadeira e que fomos enganados também.

Você conversou com ele depois, para saber se foi realmente a sobrinha dele que passou a informação, se foi uma brincadeira…
Chris Flores: Ele jura que não foi e ele não sabe até agora porque isso aconteceu. Não sei quem armou essa história, só sei que fomos todos enganados. Mas a maior vítima foi o telespectador, que estava ali e recebeu aquilo. Porque eu chorar, eu choro mesmo. Passei ridículo? Passei. Meu problema era a preocupação com o telespectador. Nós passamos seis anos desse programa para as pessoas acreditarem na gente, passando informação, prestação de serviço, e uma notícia errada de uma pessoa que trabalha aqui, pode comprometer todo o trabalho. Agora é assim: “Morreu? Não sei”. Vamos checar até a última possibilidade e se precisar, não vou dar a notícia. Prefiro não ter o furo do que dar o furo n’água.

Quem são suas referências na TV?
Chris Flores: Admiro qualquer pessoa que consiga sobreviver na televisão. Porque não é fácil, anda mais nos dias de hoje. Óbvio que eu admiro a Hebe (Camargo), o Silvio (Santos). São referências, não tem jeito. O Fausto (Silva), a Ana Maria Braga, eu respeito muito. O Luciano Huck acho que é um grande talento. O Rodrigo (Faro) nem se fala. Hoje é o novo grande talento da televisão. A Angélica, gosto muito dela também. A Xuxa é um ícone. A gente tem que olhar para cada um e tentar pegar um pouquinho de cada. O Tom (Cavalcante) é um humorista completo. O Celso Freitas lê um off que não tem igual. É muita gente. William Bonner e Fátima Bernardes. Ela é referência para mim. É uma jornalista completa, uma pessoa culta, fez coberturas internacionais brilhantemente, ela cobriu a Copa! E muito bem, com simpatia. É uma pessoa simples, na dela, uma supermãe. E foi bailarina também (risos).

Na época em que tinha o Britto Jr. e a Ana Hickmann no programa, foi quando mais se comentou da diferença de salários entre os apresentadores do “Hoje em Dia”. E você afirmou que está fazendo bastante merchandising. Diminuiu essa diferença de salário entre vocês quatro?

De verdade, eu não sei. Por contrato, a gente não pode falar sobre isso. Eu, de verdade, nunca soube o quanto eles ganhavam. Sabia o quanto eu ganhava, e aumentou. Não posso falar em valor, mas posso te garantir que está muito melhor.

E esse "muito melhor" está na casa dos 5, 6 ou 7 dígitos?
Chris Flores: Não posso falar valor, mas sei que hoje tenho coisas e posso fazer coisas que antes eu não podia. Posso fazer uma viagem bacana de uma maneira mais confortável. Posso e preciso ter um carro blindado, que era algo que eu não me importava, até o dia que eu saí da Record e uma pessoa pulou em cima do meu carro. Às vezes, a gente começa a ter algumas coisas, que são necessidade. Hoje posso me dar ao luxo de algumas coisas, de ter uma casa mais confortável, mas meu luxo é esse.

Não tem nada que você consuma que seja além das necessidades?
Chris Flores: Não. Não sou uma pessoa que entra em uma joalheria e fala: “hum, hoje eu vou comprar uma joia”. Para mim, é viagem com a família, uma casa legal com um quarto legal para o meu filho, uma cama bacana, confortável. É isso. Roupa, não ligo.

Não é do tipo de mulher que tem 100 pares de sapato?
Chris Flores: Só tenho os que eu uso. Não tenho nenhum par lá que nunca usei. Uso até gastar. Bolsas, tenho algumas. Nem tenho nenhuma Chanel ainda (risos). Não que eu não gostaria. Tem coisa que a gente gosta, acha bonito. Mas tem coisa que acho absurdo. Eu ajudo muita gente também, amigos, família. Eu posso fazer essas coisas hoje. E eu guardo também, porque não sei o dia de amanhã. Sou jornalista e estou apresentadora. Essa é minha realidade. Televisão é muito vulnerável e quem deixa a gente no ar é o telespectador. Hoje estou bem, graças a Deus. Quero trabalhar. Para mim, não interessa ficar na geladeira ganhando dinheiro.

As informações são do IG.