Saída da Fonte Nova na noite de quarta-feira, quase quinta. Do lado de fora da arena, as torcidas deixam o estádio curtindo a habitual zoação pós-clássico. Chama a atenção um transeunte em especial. Feijão, na dele, fica na resenha com alguns conhecidos. Nem parece que acabou de vencer um Ba-Vi. Fernando Schmidt, presidente do Bahia, passa de carro e oferece carona. O jogador, com o seu jeito simples, rejeita e continua o papo. Esse é Feijão, o novo xodó da torcida tricolor.

O volante não participou de nenhum dos dois gols da partida, mas esteve no centro das atenções. Cada vez que pegava na bola, a torcida cantava: “Ão, ão, ão, Feijão é Seleção!”. Após o apito final do juiz, o jogador foi em direção à torcida e, eufórico, ensaiou uma dança da vitória. Mas apesar do clamor da arquibancada, ele quer manter os pés no chão. “Estou muito novo pra isso (Seleção). Tem nada disso, não. Vamos focar no Goiás”.

Não faltam motivos para Feijão se candidatar a novo ídolo do Bahia. A história de vida do jogador já o alça a esta condição. Em uma infância sofrida na comunidade da Brasilgás, em Pirajá, Feijão, que é Antônio Filipe, no RG, se recusou a treinar no Vitória. O sonho era jogar e conquistar títulos no clube do coração. Já alcançou metade da trilha.

Subiu este ano para o profissional. Dentro de campo, sobram raça e determinação. No dia a dia, é querido entre os jogadores. “Feijão é um cara que, quando cheguei aqui, vi que era um amigo. Um garoto novo, eu também sou novo, mas um pouco mais rodado. Passo sempre experiência pra ele. É super gente boa, bem descontraído. Daquele jeito mesmo, sempre sorrindo”, conta William Barbio. “A torcida sempre vem gritando o nome dele e ontem (quarta) mais ainda pelo fato da torcida do Vitória tê-lo xingado antes do jogo. E ele respondeu no campo, fez uma grande partida e ajudou a gente a sair com a vitória”, comentou.

A diretoria sabe da identificação que Feijão tem com o Bahia. Não à toa, colocou o garoto no comercial do plano de sócios do clube e quer prorrogar até 2018 o contrato que acaba em abril de 2015. E por ser Bahia de coração, Feijão causou polêmica antes do clássico. Falou que tinha “nojo” e “ódio” do Vitória. A torcida tricolor ficou efervescida. A diretoria preferiu blindar o jogador. Por ordem de Anderson Barros, nada de entrevista ou exposição. Mas a torcida ele já ganhou. E só tem 19 anos.

*Correio.