A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou hoje uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que reserva vagas para parlamentares de origem negra na Câmara, nas assembleias legislativas dos Estados e na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O texto segue para a análise de uma comissão especial que será criada pela Câmara para discutir o tema. Se aprovado, terá que passar por duas votações no plenário da Casa, onde precisará de 308 votos dos 513 deputados.

De acordo com o texto, a reserva de cadeiras corresponderá a dois terços do percentual de pessoas que se tenham se declarado pretas ou pardas no último censo realizado pelo IBGE. Esse número, no entanto, não poderá ser menor que um quinto do total das vagas no Parlamento ou maior que a metade das vagas.

No caso da Câmara dos Deputados, seriam cerca de cem cadeiras. A PEC é assinada pelos deputados petistas Luiz Alberto (BA) e João Paulo Cunha (SP). Na justificativa, Luiz Alberto afirma que, apesar dos indícios de que o Brasil se encontra em processo de democratização em várias áreas da convivência social, é preciso avançar na representação racial no Legislativo. “Os negros estão colocados à margem na política”, disse João Paulo. “No Congresso temos um senador negro [Paulo Paim, do PT-RS] e menos de dez deputados.”

O parlamentar afirmou que a medida vai estimular os partidos a lançar candidatos para as vagas reservadas. No Estado de São Paulo, por exemplo, que tem 70 deputados federais, 14 dos eleitos teriam que ser negros. “Um partido como o PT poderia lançar até 28 candidatos para essas vagas”, disse João Paulo. Na prática, se houver um número de concorrentes inferior ao das cadeiras reservadas, um postulante negro poderia ser eleito até mesmo com um único voto.

Os políticos teriam que se declarar negros à Justiça Eleitoral no momento do registro da candidatura. João Paulo admite que o sistema não impediria que brancos se inscrevessem para essas vagas, como acontece eventualmente em universidades que adotam cotas em vestibulares. “A diferença é que ele [candidato] vai entrar na disputa eleitoral. A própria campanha vai mostrar se ele é negro, e a população decidirá”, afirmou.

Segundo a PEC, a cota teria validade por 20 anos, podendo ser prorrogada por igual período. João Paulo destacou seu caráter transitório. “Após cinco legislaturas, assim que os negros estiverem inseridos no Parlamento, essa cláusula será retirada”, disse o petista, que afirma ter estudado exemplos de países onde há cotas para segmentos da população, como os indígenas.

*FolhaPress.