Depois de impor uma série de derrotas à presidente Dilma Rousseff no Congresso, o PMDB – partido que formalmente é o principal aliado do governo -, negocia com a oposição a aprovação da quebra dos sigilos telefônicos do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, via CPI da Petrobras.

A legenda que detém a vice-presidência da República e sete ministérios de Dilma encontra, no entanto, resistência do principal adversário do governo, o PSDB: os tucanos querem o fim do sigilo apenas de Cardozo. O ministro e o procurador tiveram encontros fora da agenda antes da divulgação da lista de investigados levada ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República.

Rebelada no Congresso, parte do PMDB alega que o ministro da Justiça teria influído na decisão de Janot de pedir inquéritos contra dois de seus principais líderes – os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL). Ambos são investigados por suspeita de recebimento de propina no esquema de corrupção da Petrobras. O requerimento para a quebra dos sigilos de Cardozo e de Janot foi apresentado por um aliado de Cunha, o deputado opositor Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), em 12 de março, quando o presidente da Câmara foi voluntariamente à CPI e acusou Janot de incluí-lo entre os investigados por motivação política.

Além de Paulinho, quatro peemedebistas apresentaram pedidos de esclarecimento dos dois: Carlos Marum (MS), Darcísio Perondi (RS), Édio Lopes (RR) e Celso Pansera (RJ). A aliados, Cunha disse que faz questão de que ambos prestem depoimento e tenham os sigilos quebrados para que sua relação seja exposta. Procurado, o presidente da Câmara não comentou o assunto. O PSDB prefere evitar o desgaste institucional da Procuradoria-Geral da República, pois tem interesse nas investigações da Lava Jato, que atingem em cheio o PT e seus aliados, apesar de um tucano, o senador Antonio Anastasia (MG), aparecer na lista de suspeitos.

O empenho maior do PSDB, agora, é focar a artilharia em Cardozo, na torcida para que a revelação de eventuais contatos seus com empreiteiras complique sua permanência no governo. Cardozo afirma que não há indício "minimamente razoável" para qualquer apuração sobre ele, e que a Polícia Federal sempre desfrutou de "total autonomia". Disse ainda que tem tratado "rotineiramente" com Janot e outros procuradores sobre temas "diversificados". A procuradoria-geral informou que Janot não falaria sobre o tema.

Com informações do Estadão