Em 2010, Adriano chega à delegacia para falar sobre compra de moto Foto: Guilherme Pinto / 25.03.2010

A denúncia feita pelo Ministério Público do Rio contra o jogador Adriano nesta terça-feira frisa a proximidade entre o atleta e o traficante Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, de 36 anos, que liderou por anos a venda de drogas na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio. Nascido na favela, mesmo depois do sucesso Adriano continuou frequentando a comunidade, onde, segundo a promotoria, fortaleceu a amizade com Mica, de quem foi colega de escola.

“Insta observar que, apesar de ter ganho dinheiro e fama internacional, o primeiro denunciado (Adriano) continuava a frequentar a Vila Cruzeiro, local onde se envolveu em diversos episódios escusos, conforme amplamente divulgado na imprensa”, frisa o texto.

Além dos dois, também foi denunciado por tráfico de drogas e por associação para o tráfico Marcos José de Oliveira, de 43 anos, amigo pessoal do atacante. A pena para o primeiro crime é de até 15 anos de prisão; para o segundo, é de até dez anos. Na denúncia, também chama a atenção o trecho inicial, que logo cita o jogador: “Adriano Leite Ribeiro, vulgo Imperador”. A palavra “vulgo”, vale lembrar, costuma ser usada para identificar o apelido dos criminosos — como no caso do próprio Mica.

A denúncia tem como base uma investigação policial sobre a compra de duas motocicletas por parte de Adriano. Uma delas foi adquirida em nome de Marlene Pereira de Souza, mãe de Mica, e a outra no do próprio jogador. Segundo o MP-RJ, Marcos José esteve em uma concessionária portando documentos pessoais e um cartão de crédito do atacante, utilizando-os para comprar os veículos. Uma moto era preta, e a outra de cor vermelha, “numa clara alusão ao clube de preferência” de Adriano, no entender do promotor.

As motos foram entregues na casa de Marcos e, em 14 de julho de 2007, já estavam emitidos os certificados de registros dos veículos pelo Detran. O texto afirma ainda que o Adriano e o amigo “consentiram que outrem utilizassem de bem de que tinham propriedade e posse, para o tráfico ilícito de drogas”.​ Isto porque Mica, como chefe do tráfico na Vila Cruzeiro, era a “pessoa que autorizava ou não a entrada e saída de pessoas e a realização de eventos na região”. Para evitar problemas com a polícia, “os traficantes necessitavam de veículos velozes, em especial motocicletas, pela agilidade no tráfego, que fossem legalizados e não levantassem suspeitas quando transitassem fora das comunidades dominadas pela organização criminosa”.

O traficante Mica, quando foi preso em 2012 Foto: Fernanda Dias / 20.02.2012

Adriano e Marcos foram denunciados também por falsidade ideológica, pois teriam fraudado o documento de posse do veículo em nome da mãe de Mica. Analfabeta, Marlene não sabe ler nem escrever, e sequer teria conhecimento de que fora envolvida no esquema.

O caso, agora, está nas mãos da 29ª Vara Criminal do Rio, que vai decidir se acata ou não a denúncia feita pela 1ª Central de Inquéritos do MP-RJ. Embora não peça a prisão do atacante, o promotor solicita que seu passaporte seja recolhido, pela “possibilidade de fuga do jogador, por ser ‘pessoa com elevados recuros financeiros’”. Recentemente, Adriano viajou para a França e está praticamente acertado com o Le Havre, clube da segunda divisão local.

Jogador comprou moto para um amigo por R$ 35 mil

Em setembro de 2009, Adriano fez um registro, na Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), de apropriação indébita. No depoimento, ele disse que comprara duas motos, por R$ 35 mil cada, sendo uma para ele e outra para um amigo que identificou só como Marquinho.

O atacante foi para a Europa e teria deixado as duas motos com o amigo. Na volta, Adriano disse que estava ligando para Marquinho, mas não conseguia pegar a moto de volta. A polícia não conseguiu identificar o amigo de Adriano, mas descobriu que a moto, já no nome de outra pessoa, tinha sido roubada em três meses antes, em Vila Isabel, na Zona Norte.

Adriano, no entanto, não conseguiu explicar à polícia como Marquinho conseguiu vender a moto para outra pessoa, sem a sua assinatura no documento de compra e venda. Amigos dele dizem que o atacante suspeitava de falsificação de assinatura.*Extra Globo.