Depois de tanta polêmica no Porto da Barra, as novas tendas padronizadas começaram a se espalhar pela orla. Na tarde de sexta-feira (7), sete kits foram entregues da praia de Piatã. Mas, enquanto na Barra os barraqueiros receberam kits com dez sombreiros, dez banquetas e 20 cadeiras de alumínio, em Piatã foi diferente. Cada permissionário recebeu 20 banquetas, 20 sombreiros, 40 cadeiras, 20 lixeiras de 15 litros e duas lixeiras de 100 litros, além de uma tenda móvel.

Segundo o presidente da Associação dos Comerciantes de Barracas de Praia, Alan Rebelato, ao total, 21 permissionários de Piatã devem receber os kits. Ontem, apenas os kits da Schin foram distribuídos. Os kits de Piatã fazem parte das 200 tendas móveis que serão distribuídas entre Ondina e Ipitanga. Já os equipamentos como os da Barra devem se espalhar por praias como São Tomé de Paripe e Tubarão. Segundo a secretária municipal de Ordem Pública, Rosemma Maluf, a diferença é que esses permissionários, que atuam em áreas onde nunca houve barracas, serão registrados como ambulantes.

Recepção

Em Piatã, os comerciantes comemoraram a chegada dos equipamentos. Pelo horário, não montaram as tendas – dois barraqueiros afirmaram que deixariam para estrear amanhã. Mesmo assim, usaram os sombreiros, as cadeiras e as banquetas. “Estava sem condição de trabalhar com cadeiras e sombreiros velhos. Pelo menos vai ter organização na praia”, disse o barraqueiro Carlos Santos, 69 anos.

Já o colega Cosme Evangelista, 43, elogiou o material. “É reforçado, ótimo”. Eles garantem que não cobram pelo aluguel das cadeiras e sombreiros, como acontece em praias como o Porto da Barra. “A gente pede uma contribuição ao cliente, para ajudar nas despesas de carreta para trazer tudo, gelo. É uma taxa de serviço, até uns R$ 5, mas eles só pagam se quiserem”, afirmou Cosme. Quem testou, aprovou. Apesar de frequentar o Porto da Barra, a vendedora Milena Machado, 36, estava, ontem, em Piatã e gostou de não precisar pagar. “Acho desrespeito, porque sempre consumo. Aqui, não precisei pagar. Achei lindo (o equipamento)! Se eu pudesse, levava para mim”, brincou.

Foto: Betto Jr.Sete Kits foram entregues na praia de Piatã

Queixas

Mas nem tudo em Piatã é tão bom quanto a sombra e a água fresca que Milena estava tomando. Apesar de ter aprovado os kits, o barraqueiro Vanderlei Cabana, 37, lamentou o número de cadeiras. “Nós trabalhamos com 20 mesas de quatro cadeiras, daí caiu para a metade. Tive que fazer cortes e diminuir o número de funcionários. De nove, passamos para dois”. Contudo, para a secretária Rosemma, os barraqueiros não vão ter prejuízo, já que o número de permissionários diminuiu. “A concorrência era bem maior. Agora, as praias vão ficar com um aspecto mais leve do que com os antigos equipamentos”.

Impasse

Enquanto isso, no Porto, os comerciantes voltaram a usar os equipamentos padronizados ontem. Na última quinta-feira, oito dos nove barraqueiros não usaram os kits. Eles preferiram utilizar os equipamentos antigos, em protesto contra a proibição da cobranças pelo aluguel. “Os fiscais vieram hoje (ontem) e avisaram que todo mundo teria que descer os equipamentos. Mas não vou cobrar mais. Vou esperar até o dia 15, para ver”, afirmou o comerciante Severino Silva, 56, referindo-se à data prevista para a entrega dos kits das outras cervejarias.

No entanto, nem todo mundo deixou a cobrança de lado. A vendedora Edna da Rocha teve que pagar R$ 28 por cinco cadeiras, uma mesa e um sombreiro com um barraqueiro. “Nós confrontamos eles, porque sabíamos que era gratuito. Mas disseram que era propaganda enganosa”. O dono da barraca preferiu não comentar o caso. No entanto, um funcionário que não quis se identificar explicou que o aluguel ajudaria a pagar as despesas. “São os barraqueiros que limpam, cuidam, trazem e guardam todo o dia. Como vamos sobreviver, sem esse retorno?”, questionou.

Para o superintendente do Procon, Ricardo Maurício, a princípio, há indícios de abuso dos direitos do consumidor no aluguel da Barra. “Mas estamos fazendo estudos, porque é uma questão complexa. Precisamos estar articulados com a prefeitura para analisar o regime jurídico da licença”. Por isso mesmo, o Procon vai se reunir com a Semop na terça-feira. “Como existem várias interpretações, vamos convidar especialistas para discutir o que pode ser cobrado. Em todo caso, consumação mínima e venda casada são itens proibidos pelo Código de Defesa do Consumidor”, afirmou Rosemma.

Mesmo que algum tipo de cobrança venha a ser permitido, os barraqueiros ainda não têm essa permissão. “Em toda a cidade, apenas duas pessoas, no Porto, tinham licença para alugar cadeiras. Nós já tínhamos pedido a suspensão temporária dessas licenças”, diz Rosemma. Segundo ela, quem recebeu os kits tem licença apenas para atividade comercial vendendo bebidas.

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