MENLO PARK e RIO — O Facebook anunciou na noite desta quarta-feira a aquisição do WhatsApp por US$ 19 bilhões, sendo US$ 4 bilhões em dinheiro e US$ 12 bilhões em ações da rede social. Além disso, o WhatsApp — definido no comunicado do Facebook como “companhia de mensagens móveis em várias plataformas com rápido crescimento”

— terá direito a mais US$ 3 bilhões em “ações restritas” a serem distribuídas aos fundadores do aplicativo e seus funcionários ao longo de quatro anos a partir do fechamento do negócio. É a maior aquisição do mercado de tecnologia desde 2001, quando a AOL comprou a Time Warner por US$ 124 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

— O WhatsApp está a caminho de conectar 1 bilhão de pessoas — disse Mark Zuckerberg ao anunciar a compra. — Todo serviço que atinge uma marca como essa tem um valor incrível. Conheço Jan Koum, fundador e diretor executivo do WhatsApp há muito tempo e estou muito animado por me tornar parceiro de sua equipe, a fim de tornar o mundo mais aberto e conectado.

Por sua vez, o diretor executivo do WhatsApp comentou que a força do aplicativo está na simplicidade das mensagens, que geram “rápido engajamento” dos usuários.

— É uma honra me juntar a Mark e ao Facebook à medida que levamos nosso produto a mais e mais pessoas no mundo — disse Koum.

Nada muda para os usuários

O executivo também fez um post no site do WhatsApp explicando que a operação dará ao aplicativo a flexibilidade para se expandir, enquanto permite que os funcionários se concentrem no coração de seu negócio, as mensagens. “Eis o que vai mudar para vocês, nossos usuários: nada”, garantiu, frisando que a empresa continuará autônoma e operando com independência. “Vocês poderão continuar a usar o serviço por uma taxa nominal, não importa onde estejam ou que smartphones usem”.

Esta é a 44ª aquisição feita pelo Facebook em seus 10 anos de operação, que aliás foram completados no dia 4 fevereiro deste ano. A maior de todas elas até agora foi a do Instagram, em abril de 2012, adquirido por US$ 1 bilhão em ações, sendo finalizada por algo em torno de US$ 750 milhões.

— As empresas que trabalham com internet têm que estar sempre atentas às mudanças do mercado — diz Haroldo Korte, diretor executivo da gestora de fundos de venture capital Atomico, que movimenta cerca de US$ 500 milhões no setor. — Quando o Facebok percebeu que o compartilhamento de fotos agregava grande valor e engajava mais internautas, não perdeu tempo, comprou o Instagram. O mesmo fez a Microsoft, que após lançar sucessivas versões do Messenger comprou o Skype em maio de 2011 por US$ 8,5 bilhões.

Em se tratando de empresas de internet, o valor foi considerado alto por analistas (como termo de comparação, a Google comprou a Motorola, fabricante de smartphones, por US$ 12,5 bilhões em 2011 — se bem que esta acabou vendida à Lenovo por US$ 2,9 bilhões recentemente).

O negócio bilionário coloca foco nos aplicativos de troca de mensagem via web, que substituíram o SMS nos smartphones. No início da semana, o similar Viber foi comprado por US$ 900 milhões pela japonesa Rakuten. Em 2011, a Microsoft adquiriu o Skype por US$ 8,5 bilhões. Para João Moretti, diretor geral da empresa especializada em aplicativos móveis MobilePeople, aquisições como essa não são raras, mas o valor impressiona.

— O WhatsApp se popularizou muito rápido, é difícil encontrar alguém que tenha smartphone e não faça uso dele. Mas o valor da negociação é surpreendente – diz.

A maior interrogação é sobre o modelo de negócio do aplicativo, que cobra US$ 1 por ano de parte dos seus 450 milhões de usuários.

— Não sei como eles vão rentabilizar o negócio, mas é possível que aconteçam mudanças. Nesse mercado é comum empresas comprarem outras pela base de usuários, mas quem usa o WhatsApp também está no Facebook — diz Moretti.

Apesar de Koun afirmar que não haverá mudanças no WhatsApp, a inclusão de anúncios na ferramenta não seria de se estranhar, diz o especialista, já que esse é o foco principal do Facebook desde que a companhia estreou na Bolsa de Valores. Em seu último balanço trimestral, a rede social destacou que anúncios em celulares e tablets representaram 53% do faturamento total com publicidade, o que representa US$ 1,24 bilhão.

Ter uma boa ferramenta de troca de mensagens era quase uma obsessão para o Facebook. No ano passado, a empresa anunciou o “Facebook Phone”, uma espécie de roupagem no sistema Android que facilitava as conversas entre os usuários. A rede social também lançou o aplicativo Facebook Messenger para iOS e Android, que funciona de forma independente ao app do Facebook. No fim do ano, a companhia tentou adquirir o Snapchat por US$ 3 bilhões, mas a proposta foi recusada.

— Com o WhatsApp, eles compraram um líder no mercado de troca de mensagens por celular com uma massiva base de usuários e com forte e constante crescimento — disse Benedict Evans, analista da Andreessen Horowitz em entrevista ao “Financial Times”. — O ponto fundamental é que o mercado de dispositivos móveis se tornou muito maior que o de desktops e as mudanças acontecem de forma muito mais rápida.

*O Globo