Ao som de "Eu sei que vou te amar", canção que tocava em um dos carros que trouxe a família de Paulo Goulart ao cemitério da Consolação, em São Paulo, amigos, parentes e fãs deram seu último adeus ao ator, morto nesta quinta-feira, 13, em decorrência de um câncer renal avançado. Nicette Bruno, com quem ele foi casado por 60 anos, foi amparada durante toda a cerimônia pelos filhos Beth Goulart, Paulo Goulart Filho e Bárbara Bruno. Durante o sepultamento e já com o caixão com o corpo de Paulo dentro do túmulo, Nicette, cercada pela família, fez mais um gesto de amor ao marido, lhe enviando um beijo com a mão.

A atriz também foi muito aplaudida ao fim do enterro e ganhou mais carinhos e beijos dos filhos. "Quanco você morrer, vou jogar um perfume porque, quando eu sentir o cheiro, vou saber que é você", disse Beth para a mãe.

Minutos antes do caixão seguir para o sepultamento, apenas os mais íntimos se reuniram na capela do cemitério. E, ao chegar no local, o corpo de Paulo foi recebido com aplausos por fãs do ator que já o aguardavam para a última homenagem. Entre os amigos da família, estavam Beatriz Segall, Marcos Caruso, Othon Bastos, Françoise Forton e Vida Alves – atriz que deu o primeiro beijo da TV brasileira, na década de 50.

Velório marcado pela emoção e carinho dos fãs

O velório do ator no Teatro Municipal de São Paulo durou cerca de 14h. Nicette Bruno, casada há 60 anos com Paulo, e os filhos do casal, Bárbara Bruno, Paulo Goulart Filho e Beth Goulart, receberam o carinho de amigos.

Durante a amanhã desta sexta, 14, Beth, muito abalada, se aproximou do corpo do pai e lhe deu um beijo no rosto. "Meu pai era um símbolo de amor. De um homem dedicado à família, à mulher, ao trabalho, aos filhos, ao próximo, ao país, no sentido de participação, cidadania, consciência social, ele queria ajudar a sociedade de alguma forma, através da sua arte. Ele foi um homem de uma dignidade imensa, nos deixou um legado de bons princípios, ética, moral, ele foi o melhor exemplo de homem que poderíamos ter nas nossas vidas. Um exemplo de amor, de dedicação, era um gentleman, gentilíssimo com a minha mãe. Então, isso nos ensinou uma generosidade de vida".

No meio da manhã, o velório foi fechado para os mais íntimos. Mas, do lado de fora, os fãs prestavam homenagem a Paulo e susa família. Neste momento, Nicette e os filhos também apareceram na sacada do teatro e retribuíram a homenagem dos admiradores. De acordo com a assessoria de impresa da TV Globo, de 10 a 11 mil pessoas passaram pelo local.

Também muito emocionado, Paulo Goulart Filho falou sobre o pai durante o velório do ator na madrugada desta sexta-feira, 14. “Esses últimos dias foram difíceis, complicados em termos de saúde. Ele estava bem abalado, mas a família, graças a Deus, sempre unida, sempre junta, eu, minhas irmãs, os netos. Posso dizer que ele fez uma passagem como a gente gostaria que fizesse. Ele está lá em cima, agora, vai começar uma nova temporada lá em cima. Tem um elenco grande esperando por ele, e estaremos juntos, ele vai continuar trabalhando lá em cima”, disse Paulo.

Amigo da família, Ney Latorraca considerou uma perda irreparável pra toda a classe artística a morte de Paulo. "Vai fazer uma falta muito grande. Éramos amigos pessoais, morávamos no mesmo prédio no Rio de Janeiro", disse durante o velório.

Trajetória

Paulo Goulart, ou Paulo Afonso Miessa, seu nome de batismo, acumulou, durante os 62 anos de carreira, 40 novelas, 27 filmes e 9 minisséries. Estreou nas novelas em 1952, em "Helena", da TV Paulista, adaptação de Manoel Carlos do romance de Machado de Assis. Depois migrou para a Excelsior, onde participou de sucessos como “A muralha”. Estreou na Globo em 1969, na novela “A cabana do pai Tomás”. Entre as grandes obras da TV que ele participou estão as novelas “Uma rosa com amor” (1972),“Éramos seis” (1977), “Plumas e paetês” (1980), “Roda de Fogo” (1986), “Mulheres de areia” (1993), além da microssérie e filme “O auto da compadecida”. (1999). Seu último trabalho em tramas longas foi em “Morde e assopra”, que chegou ao fim em outubro de 2011.

O sobrenome artístico veio do tio, o radialista Airton Goulart. Natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, seu primeiro trabalho foi como DJ, operador de som e locutor de uma rádio fundada pelo pai em Olímpia, também no interior do Estado. Apesar de ter estudado Química Industrial em busca de ter uma profissão, o rádio o seduziu, fazendo parte da Tupi como radioator de 17 para 18 anos.

Em 1952 conheceu Nicette Bruno, na companhia Teatro de Alumínio e os dois se casaram. O ano ainda foi significativo em sua vida com a estreia no teatro com a peça “Senhorita Minha Mãe”. O início no cinema se deu em 1957, com o filme “Rio Zona Norte”.

No mesmo ano em que estreou na Globo, em 1969, foi um dos protagonistas da novela “Verão vermelho”, de Dias Gomes . Muitas novelas depois, em “Fera radical” (1988), escrita por Walther Negrão, seu personagem, Altino Flores, vivia em uma cadeira de rodas. Além da Globo, Excelsior e Tupi, ele teve passagens por outras emissoras. No SBT participou do remake de “As pupilas do senhor reitor” (1994) e, na Band, de “A idade da loba” (1995).

Prêmios

Em 1974, por sua atuação na peça “Orquestra de Senhoritas”, de Jean Anouilh, com direção de Luís Sérgio Person, ganhou os prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o Molière de Melhor Ator. Em 2006, a família do ator foi homenageada na 18ª edição do Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro. Paulo Goulart, Nicette Bruno e os três filhos, Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho, receberam um troféu especial trabalho desenvolvidos nos palcos em mais de 20 anos de carreira.*Ego.