Os dois novos ferries, Zumbi dos Palmares e Dorival Caymmi, operam há menos de dois meses. Para quem embarca a pé ou de carro, pelo menos um aspecto é consensual: a estrutura do saguão das embarcações impressiona.

Há bancos com estofados de couro marrom acolchoados; mesas, cadeiras e um bar, além de ar-condicionado e TVs de tela plana.

No entanto, bastaram poucas viagens das embarcações que vieram da Grécia para que o bonito cenário se tornasse alvo de depredação. Rasgos em bancos. Pinos do estofado arrancados. Riscos nas mesas. Papel jogado no vaso sanitário. E até tentativa de roubo dos abajures que decoram o imponente saguão.

A partir daí, mais uma polêmica com os novos ferries se estabeleceu. É que, segundo funcionários da Internacional Travessias Salvador, empresa que opera o sistema, a solução encontrada para evitar novos "ataques" foi impedir o acesso de usuários a pé. As embarcações levariam somente os que estivessem com veículos.

"Ficou assim por menos de um mês, mas o povo começou a reclamar. Agora, estamos colocando só aos poucos. Cem no máximo", contou um funcionário que não quis ser identificado.

A questão é que o Zumbi tem capacidade para 1.700 passageiros e 174 veículos. Já o Dorival comporta 1.400 passageiros e 138 veículos.

O diretor-executivo da Agerba, agência que regula o sistema, Eduardo Pessoa, nega que tenha ocorrido o bloqueio de acesso de usuários a pé. "Não está levando passageiro a pé mesmo, não até acabar o treinamento. Só quando há muita gente no saguão de espera é que leva, mas não há relação com os atos (depredação)", afirmou.

No entanto, Eduardo confirma que ocorreram prejuízos. "Houve realmente atos de vandalismo. Trocamos uns bancos e conseguimos segurar um rapaz que tentava arrancar um abajur", acrescentou. O rapaz não foi levado à delegacia, segundo o diretor da Agerba.

Ele não soube informar a partir de quando os ferries poderão levar passageiros de acordo com as capacidades anunciadas na inauguração.

Vandalismo

Funcionários reclamaram de "falta de educação" do povo. "Parece que o navio está batendo em algumas pessoas e elas querem descontar. É coisa de outro mundo. Teve gente que entrou uma vez e já queria rasgar o banco", frisou outro funcionário.

Há quem culpe até as filas de embarque do sistema. "É gente que tem raiva porque demora muito para embarcar. Quando entram, querem se vingar", disse a vendedora Sandra Alves, 38.

O aposentado Luiz Pena, 67, afirmou que falta fiscalização: "Tinha que botar segurança dentro e fiscalizar. O povo destrói tudo, não merece ter. Não sou contra nem a favor de impedir quem está a pé, mas, quanto mais gente, maior é a bagunça".

A técnica de enfermagem Nadjane Gonçalvez, 39, disse que é contra. "Acho uma discriminação. Quem vai destruir pode estar de carro ou a pé", frisou.

Na sexta-feira, 5, A TARDE acompanhou a travessia do Zumbi dos Palmares e foi permitido que pedestres entrassem. "A gente está colocando, mas sempre aos poucos. Não tem como controlar esse povo todo lá dentro", ressaltou um funcionário da embarcação.

Já uma funcionária que também não quis ser identificada afirmou que, "se for para continuar com o povo botando pé em cima e rasgando estofado, é melhor pegar só carro mesmo".

A Internacional informou que, por estar em operação assistida, o número de embarques nos novos ferries "está condicionado às capacidades estabelecidas nos certificados de segurança da navegação (CSN) provisórios".

"A quantidade de pessoas que embarcam fora de veículos é controlada de acordo com o número de pessoas que embarcam no interior de veículos", destacou . A orientação da Agerba, segundo a assessoria da empresa, é de "não ultrapassar lotações de pessoas. Os CSNs vigentes preveem capacidade de 600 pessoas para o Zumbi e 480 para o Dorival".*A Tarde.