Uma sudanesa nascida em berço muçulmano, mas casada com um cristão, foi condenada à morte nesta quinta-feira (15) por se recusar a se desvencilhar de sua fé cristã, informaram funcionários judiciais e uma pesquisadora da Anistia Internacional.

Meriam Ibrahim, cujo pai era muçulmano e a mãe cristã, foi condenada por "apostasia" no domingo e teve quatro dias para se arrepender e escapar da morte, disseram autoridades. A mulher de 26 anos foi condenada após esse período expirar, segundo os funcionários, que falaram sob condição de anonimato.

Como em muitos países muçulmanos, as mulheres muçulmanas no Sudão são proibidas de se casar com não-muçulmanos, embora os homens muçulmanos possam se casar com mulheres de outras religiões. Por lei, as crianças devem seguir a religião de seu pai.

O tribunal na capital, Cartum, também ordenou que Meriam receba 100 chibatadas por ter cometido "zena" – uma palavra árabe para o sexo ilegítimo – por ter relações sexuais com seu marido, um cristão do sul do Sudão.

O caso dessa sudanesa chamou a atenção das autoridades primeiramente em agosto do ano passado, quando os membros da sua família se queixaram por ela ter nascido muçulmana, mas ter se casado com um cristão. As autoridades a acusaram de "zena" e ela foi levada a julgamento.

A mulher foi detida em uma prisão de Cartum em fevereiro deste ano e acusada de apostasia depois de declarar que havia sido criada como um cristã por sua mãe, de acordo com Manar Idriss, pesquisadora da Anistia Internacional no país. Ela está grávida de oito meses e cuida, na prisão, de seu filho de 1 ano e meio, disse Manar.

Tem havido um grande número de casos de sudaneses condenadas por apostasia ao longo dos anos, mas todos escaparam da forca por reconsiderarem sua fé. Meriam é a primeira condenada à morte por esse tipo de crime, segundo Manar. Os advogados da mulher pretendem recorrer da sentença.

A sentença desta quinta atraiu a atenção das embaixadas ocidentais em Cartum e das organizações de direitos humanos internacionais, incluindo a Anistia Internacional, sediada em Londres.

"O fato de que uma mulher ter sido condenada à morte por sua opção religiosa e açoitamento por estar casada com um homem de uma religião supostamente diferente é terrível e abominável", disse a Anistia por meio de um comunicado. "O adultério e apostasia são atos que não devem ser considerados crimes de maneira alguma". O grupo também pediu a libertação imediata e incondicional de Meriam.

Sudão vivem sob as leis da sharia islâmica desde o início de 1980, que contribuiu para guerra civil que durou 17 anos e terminou em 1972. O sul se separou do restante do país em 2011 para se tornar o mais novo país do mundo, o Sudão do Sul. Atual governante do Sudão, Omar Bashir, é um islâmico que tomou o poder por meio de um golpe em 1989.

Com informações do Ig