Foto: Edilson Lima. Ag. A Tarde

Para receber a última parcela de um empréstimo da Caixa Econômica Federal (CEF), no valor total de R$ 110 milhões, o Hospital Espanhol decidiu modificar seu modelo de gestão durante uma assembleia realizada na noite de terça-feira, 11. Com a mudança, a Fundação José Silveira assume a gestão plena da unidade de saúde, com o apoio do conselho administrativo.

A decisão foi tomada com base no cumprimento de metas designado pela Caixa, como contrapartida ao pagamento parcelado da verba que, desta vez, servirá para pagar médicos, funcionários e fornecedores. Em maio do ano passado, a instituição já havia modificado o estatuto e incluído em seu conselho um representante da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) e outro do Planserv.

Por conta da falta de recursos, os profissionais do hospital ainda estão com salários atrasados. Além disto, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral estava fechada desde o dia 31 de janeiro, com previsão de ser reaberta nesta quinta-feira, 13. O motivo foi a falta de médicos especializados na área para atender os pacientes que necessitam de tratamento adequado.

O diretor médico da instituição, Álvaro Nonato, explica que as outras duas UTIs – cardiológica, com 15 leitos, e neonatal, com 10 leitos – permaneciam lotadas. Dois pacientes que chegaram à unidade na noite de segunda-feira, 10, tiveram que ser atendidos na emergência.

"Um dos motivos para a falta de médicos é que o mercado de terapia intensiva na Bahia é muito restrito, tanto no serviço público quanto no privado. E o hospital está em processo de recuperação, com momentos de instabilidade, após ficar fechado durante três meses no ano passado. Por isso, temos dificuldades em atrair médicos intensivistas para trabalhar aqui", revela.

O fechamento da UTI geral, que possui 10 leitos disponíveis, está ligada diretamente à falta de médicos por conta dos atrasos nos salários. O diretor médico afirma que, na última terça, 11, o hospital recebeu uma verba que vai garantir o pagamento parcial dos salários dos funcionários, enquanto o recurso principal não é liberado. Já os médicos que não são funcionários recebem o repasse de honorários em dia. Além disto, o hospital continua adquirindo insumos e equipamentos.

Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed-BA), Francisco Magalhães, uma reunião entre representantes da Caixa Econômica Federal, da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), do sindicato e do hospital, realizada há cerca de duas semanas, discutiu a negociação do financiamento, resultado de um acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab).

"Entretanto, faltaram R$ 25 milhões, que serviriam para pagar as dívidas da instituição e os salários de médicos, funcionários e fornecedores. O pessoal não está satisfeito, e muitos médicos já saíram", ressalta Francisco.

Histórico

Após realizarem uma paralisação de três semanas em fevereiro de 2013, os médicos da emergência do hospital iniciaram outra greve em abril, por conta da falta de pagamento dos salários e do não cumprimento de um acordo feito junto ao Ministério do Trabalho, que previa a melhoria das condições de trabalho e contratação de novos profissionais. Apesar disto, os médicos da UTI não aderiram ao movimento.

Na época, Francisco Magalhães afirmou que a situação do hospital era um reflexo da crise vivida há dez anos, devido ao endividamento para pagamento de dívidas trabalhistas e pelo custeio da construção de um prédio anexo, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A crise financeira piorou com uma dívida da prefeitura no valor de R$ 2 milhões, relativa à contratação de serviços e procedimentos de média e alta complexidade. Por meio de um pacto com o município, o hospital atendia 129 pacientes que faziam hemodiálise, mas não possuía verbas para os procedimentos, alimentação e medicamentos.

No mês de maio, o hospital concordou em modificar seu estatuto e incluir no conselho da instituição dois representantes externos à Real Sociedade Espanhola de Beneficiência, sendo um da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) e outro do Planserv, como contrapartida ao empréstimo da Desenbahia.

*A Tarde