Após meses consecutivos de cortes de pessoal, o total de empregados na indústria já é 8,7% menor do que o pico registrado em julho de 2008, segundo Fernando Abritta, economista da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O patamar do emprego no setor é o segundo mais baixo da série histórica da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, iniciada em janeiro de 2001. "O nível de emprego só não foi mais baixo do que o de outubro de 2003", contou Abritta.

Na comparação com outubro de 2013, a redução de 4,4% no número de trabalhadores foi resultado de demissões em todos os 14 locais pesquisados. Em São Paulo, a queda foi de 5%, com cortes em 16 das 18 atividades investigadas.

O setor que teve maior impacto sobre o total de ocupados foi o de meios de transportes tanto em São Paulo (com queda de 7,4% no emprego) quando na média do Brasil (recuo de 8,1%). "São as montadoras, fábricas de autopeças, motocicletas", explicou Abritta.

O pesquisador ressalta que o emprego na indústria já não escapa de uma retração no fechamento do ano, porque já acumula uma queda de 3% de janeiro a outubro. "Mesmo que em novembro e dezembro venha com taxas positivas, não dá para evitar a queda no ano, porque os dez primeiros meses puxam o resultado para baixo. Só tem dois meses pela frente, não serão suficientes para reverter essa perda", afirmou.

O recuo no emprego industrial em 2014 deve ser mais intenso do que o registrado nos dois anos anteriores. Em 2012, a retração foi de 1,4%, e, em 2013, redução de 1,1%. "Esse ano está com queda mais intensa", notou Abritta.

Segundo ele, o quadro conjuntural é difícil para a indústria: taxas de juros elevadas, inflação no teto da meta, crédito em desaceleração, menor consumo das famílias, consumidores mais endividados, estoques altos, e balança comercial desfavorável, com redução de exportações para a Argentina.

"Então o cenário não é favorável para a indústria nos próximos meses, e isso se reflete no emprego, tanto é que cai há três anos e um mês (na comparação mês contra mesmo mês do ano anterior)", lembrou.

Abritta confirmou ainda que os resultados negativos registrados no número de horas pagas podem se refletir em novas demissões. "Pode ser que sim, ainda mais que a indústria vem com um desempenho fraco. Apesar da melhora na produção nos quatro últimos meses, não foi suficiente para recuperar a queda acumulada em meses anteriores", apontou.*Estadão Conteúdo