Era para ser apenas mais um dia de aula no Colégio Estadual Américo Simas, em Lauro de Freitas, mas a vida do estudante Jacó Silva dos Santos, 17 anos, mudou quando um colega da mesma idade entrou armado na escola e atirou contra ele.

A ação aconteceu dez minutos antes do início das aulas, às 7h30. Um dos tiros atingiu Jacó na cabeça, outros dois no abdômen e um quarto, no polegar direito. Projéteis recuperados pelos policias da 23ª Delegacia indicam que a arma usada foi um revólver calibre 32.

Alunos da instituição contam que ouviram seis disparos e que a vítima chegou a correr, refugiando-se em uma sala. Um colega da turma F do 1º ano do ensino médio conta que queria ajudá-lo, mas não sabia como socorrer o amigo. “Fiquei com medo de acabar machucando ele ainda mais. Ele saiu da escola consciente, mas não disse por que fizeram isso com ele”, diz.

Segundo os estudantes, os disparos foram feitos próximo a um corredor de salas. Os alunos relatam que no momento houve muita correria e desespero na escola.

Jacó foi socorrido por uma ambulância para o Posto Nelson Barros, em frente ao colégio, e transferido em seguida para o Hospital Roberto Santos, onde passou por cirurgia. Segundo a assessoria da unidade, quatro disparos acertaram o adolescente, que não corre risco de morte.

Motivações

O agressor não é conhecido de nenhum dos cerca de 20 estudantes ouvidos pelo CORREIO na porta da escola, mas a direção da unidade confirma que vítima e agressor são alunos do colégio e que não têm histórico de brigas ou discussões na escola que pudesse justificar a agressão.

Segundo a diretora da escola, Edmar Passos, o autor estava devidamente fardado, mas a vítima estava calçada com sandália, em vez do tênis. “Quando uma funcionária do colégio estava questionando o motivo para ele estar de sandália, simplesmente foi surpreendida com o aluno que sacou a arma e começou a fazer os disparos. E logo depois fugiu”, conta.

Segundo a mãe de Jacó, Laudicélia Silva, o rapaz não apresentou mudanças no comportamento nos últimos dias e não havia reclamado de problemas no colégio. “Não sei por que esse rapaz fez isso com meu filho. Ele é um menino bom, tranquilo e muito querido pelos vizinhos e na escola”, disse, emocionada, no hospital.

Colegas confirmam o temperamento pacífico do jovem. “Ele é meio nerd, não tem namorada, super tranquilo, a gente não entende o que pode ter acontecido”, comentou uma estudante. “Ele fala com todo mundo, não parecia ter inimizades”, completou uma colega.

Segundo levantamento dos investigadores da polícia, vítima e autor são vizinhos na Vila Praiana, em Lauro de Freitas. Jacó mora na Rua Gregório Pinto; já o agressor mora na Rua Seis do mesmo bairro. A delegada Dilma Leite, da 23ª Delegacia, responsável pela investigação, coletou depoimentos dos pais do agressor, da diretora e da vice-diretora e de professores. O agressor não havia sido localizado até o fechamento da edição, às 22h.

Aulas

As aulas foram interrompidas ontem, mas, segundo a direção da unidade, serão retomadas na segunda-feira. Em nota, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) lamentou o ocorrido e informou que a diretoria do colégio tomou todas as providências após o fato. A escola tem sistema de videomonitoramento nos corredores e, segundo a direção, o material já foi disponibilizado para ajudar nas investigações.

“Não queremos que haja essa imagem da escola como lugar da violência, isso não procede, não é algo que é cotidiano nos colégios”, afirma Luiz Henrique Bottas Peixoto, diretor da Diretoria Regional de Educação 1B (Direc 1B).

A diretora da unidade também ressaltou a anormalidade do fato. “Foi uma fatalidade, não tem o que ser feito, nenhum aluno em lugar nenhum é revistado antes de entrar na escola. Temos um procedimento para visitantes, que precisam se identificar, mas aluno não tem revista”.

Aluno armado com facas assaltou turma na quarta

A tentativa de homicídio no Colégio Américo Simas é o segundo caso da semana de violência em escola. Na quarta, o aluno Caíque Fonseca da Costa, 19, do Colégio Estadual Governador Lomanto Junior, em Itapuã, invadiu a escola com mais dois jovens e fez um arrastão em uma turma com cerca de 15 alunos.

Armado com faca, Caíque entrou no colégio pulando o muro da escola. Na sala assaltada, o jovem ameaçou colegas com uma faca, enquanto outro jovem, estudante do Colégio Estadual Rotary, na Ladeira do Abaeté, recolhia celulares dos estudantes. Um terceiro rapaz ficou na porta da sala, observando a movimentação.

Segundo o boletim de ocorrência registrado na 12ª Delegacia (Itapuã), foram levados oito celulares, mas o delegado Antônio Carlos Magalhães Santos, titular da unidade, estima que 12 estudantes tenham sido roubados. Os três fugiram pelo mesmo muro por onde entraram. Na quinta-feira, Caíque e um adolescente se apresentaram na 12ª DP. O delegado afirmou que pedirá a prisão de Caíque e encaminhará o adolescente ao Ministério Público. As informações são do Correio.