Quando Amanda Knox e sua família desembarcaram em Seattle na terça-feira, chegavam ao fim exaustivos quatro anos de um esforço judicial, de lobby e de relações públicas que finalmente funcionaram quando um tribunal italiano reverteu sua condenação por homicídio e a libertou da prisão.

A família de Amanda contratou uma empresa de relações públicas especializada em gestão de crise logo após sua prisão em 2007, seu primeiro ano no exterior, na italiana Perugia, acusada juntamente com dois homens de assassinar sua colega de quarto Meredith Kercher durante uma agressão sexual. Voluntários – incluindo os pais de ex-colegas de Amanda na escola Seattle Prep – criaram um website em que publicaram saudáveis fotos dela em família. Tudo isso fazia parte de um esforço para combater representação pelo Ministério Público italiano e pela imprensa europeia como um "demônio".

A certa altura, um juiz de Seattle foi advertido por usar papéis oficiais do tribunal para escrever para autoridades italianas. E a senadora Maria Cantwell, democrata de Washington, defendeu seu caso falando com oficiais americanos e italianos.

Uma lacrimejosa Amanda agradeceu seus defensores na noite de terça-feira, em uma breve coletiva de imprensa no Aeroporto Sea-Tac. "Estou muito emocionada neste momento – eu olhava pela janela do avião e parecia que nada era real", disse, depois que seus pais a lembraram de falar em inglês. "Para mim é importante apenas agradecer a todos que acreditaram em mim, que me defenderam e apoiaram a minha família."

Em alguns aspectos, seus partidários tiveram um trabalho difícil. Amanda havia sido acusada de cometer um crime lúgubre, suas declarações à polícia foram inconsistentes e as provas de DNA apresentadas no julgamento pareciam colocá-la no local durante o ato. Seu caso – com elementos de um pesadelo de uma jovem americana envolta em um caso de assassinato com detalhes sexuais na Itália – trouxe notoriedade internacional para ela. Os tabloides britânicos passaram a chamá-la de "Foxy Knoxy" ("Knoxy Maliciosa", em tradução livre), adotando um apelido que ela mesma tinha usado em suas páginas do Facebook e MySpace. (Sua família disse mais tarde que o apelido se referia a suas habilidades no futebol e não à sua vida amorosa)

Mas, quando deixou a prisão italiana na segunda-feira, a interpretação do público sobre Amanda já era muito diferente: muitos veículos de mídia, pelo menos nos EUA, retrataram-na como uma jovem boa, estudante de linguística da Universidade de Washington, que foi vítima do sistema de justiça italiano ao passar o primeiro ano de faculdade no exterior.

Ninguém pode dizer com certeza se a reabilitação cuidadosa e calculada de sua imagem ajudou a influenciar os tribunais italianos. Em última análise, foi um relatório oficial questionando a evidência de DNA usada no caso que levou à sua exoneração. Mas o frenesi da mídia foi mencionado pela acusação e pela defesa no mês passado.

Um dos promotores, Giuliano Mignini, reclamou em tribunal da "exaltação mórbida da mídia" feita em relação a Amanda e seu ex-namorado Raffaele Sollecito, que também havia sido condenado pelo assassinato juntamente com um segundo homem, Rudy Guédé.

"Esse lobby, essa mídia e esse circo político, essa interferência pesada, esqueçam tudo isso!", disse ao tribunal, de acordo com a Associated Press. Os advogados da americana responderam que sua cliente tinha sido "crucificada" pela mídia.

O tribunal de apelações que anulou a condenação de Amanda e Sollecito manteve a condenação dela de difamação por acusar o dono do bar onde trabalhava, Diya Lumumba, de cometer o crime – levando-o a ser preso e depois libertado. (Ela disse mais tarde que a polícia a pressionou a acusá-lo)

A condenação por homicídio do terceiro réu, Guédé, em um julgamento separado, foi confirmada em segunda instância.

Pelo menos uma faixa dizendo “Bem-Vinda Amanda” podia ser vista na terça-feira em seu bairro – apesar de pedidos de seus pais para que não fossem colocadas em respeito a Meredith, a vítima, cuja família estava em estado de choque com a reviravolta no caso.

Reabilitação da imagem

O esforço para mudar a imagem de Amanda começou logo após sua prisão, em 2007. Seu pai, Curt Knox, entrou em contato com a Gogerty Marriott, uma empresa de relações públicas de Seattle, por meio de um colega na Macy’s, onde ele era vice-presidente na época. A família queria ajuda para lidar com a avalanche de telefonemas da mídia, mas, num primeiro momento, não sabiam o que isso poderia dizer.

"Isso aconteceu principalmente porque os advogados de Amanda na Itália não queriam que eles dessem entrevistas", disse David Marriott, o veterano de Relações Públicas que lidou com o caso. No início, ele pediu que alguns dos amigos da escola da Amanda dessem entrevistas para depor sobre seu caráter.

Mas alguns familiares, amigos e vizinhos começaram a ficar preocupados com a sua imagem, que estava sendo moldada pelos tabloides britânicos e procuradores italianos. Um grupo de voluntários formou o Friends of Amanda (Amigos de Amanda, em tradução literal) e poucos meses depois colocou seu website no ar. Ali eles rebatiam o retrato lúgubre de Amanda com fotos dela com um chapéu em sua festa de aniversário de 7 anos e, mais recentemente, brincando com seu cachorro, Ralphy.

"O que vimos acontecer, no início, foi esse imenso dilúvio de coisas negativas sendo ditas sobre ela que sabíamos que estavam totalmente erradas", disse Tom Wright, 58, que ajudou a formar o grupo porque sua filha Sara frequentou a escola com Amanda.

Michael Heavey, vizinho de Amanda que é um juiz da corte superior em Seattle, abordou o caso com Cantwell, um amigo. Quando a americana foi condenada em 2009, Cantwell emitiu uma declaração dizendo: "Tenho sérias dúvidas sobre o sistema de justiça italiano e sobre se o antiamericanismo não prejudicou esse julgamento."

Heavey foi advertido no ano passado por usar funcionários do tribunal para escrever três cartas sobre o caso de Amanda a autoridades italianas em papel timbrado do tribunal. Em um acordo feito com o Estado, ele reconheceu que "sua compulsão por corrigir algo que achava incorreto prejudicou seu juízo".

O elemento de base foi importante, segundo Wright, porque a família Knox não era rica – ele afirmou que os pais de Amanda fizeram uma segunda hipoteca de sua casa para pagar por despesas jurídicas. Embora seu grupo e um fundo de defesa legal tenham arrecadado mais de US$ 100 mil para a família, ele estimou que suas despesas somam mais de US$ 1 milhão.

Mas, com o tempo, Marriott disse, os advogados de Amanda deram permissão à família para conceder entrevistas – o que fizeram assiduamente. Em entrevista ao The New York Times na Itália neste verão (no Hemisfério Norte, de junho a setembro), enquanto a decisão do recurso estava pendente, a mãe de Knox, Edda Mellas, explicou seu ponto de vista.

"A mídia tem sido uma maldição, mas isso significa que Amanda não foi esquecida. Ela não está apodrecendo longe dos olhos", disse. "O dia em que não tiver que falar com outro repórter ou conceder outra entrevista será uma benção. Mas, enquanto isso significar ajudar a Amanda, então é algo que continuarei a fazer."

Gerald L. Shargel, um advogado que não estava envolvido no caso, mas que representou outros clientes muito comentados na mídia, disse que ninguém sabe ao certo o quanto a opinião pública pode influenciar um caso. Mas ele disse que a imagem de Amanda sofreu uma mudança considerável desde os primeiros dias.
"Isso não aconteceu da noite para o dia, mas sua imagem foi retocada ao longo dos últimos anos, e agora ela é a garota americana, que é apresentada como uma jovem convencional vivendo no estrangeiro, mas que estava no lugar errado na hora errada", disse.

O interesse da mídia foi enorme. A âncora da ABC, Elizabeth Vargas, foi enviada à Itália sete vezes. A NBC enviou seu principal âncora de fim de semana, Lester Holt, para a Itália por vários dias em determinado momento, e na semana passada chegou a enviar seu principal âncora do programa Today, Matt Lauer.

Agora as emissoras disputam uma entrevista. Representantes de vários programas de televisão estavam no mesmo voo que Amanda na terça-feira, segundo dois executivos. E alguns analistas de mídia preveem que o próximo passo pode ser a venda de um livro, o que ajudaria a custear as despesas jurídicas.

"A sua história tem todos os ingredientes de um livro entre os mais vendidos e um filme para a televisão", disse Lee Kamlet, reitor da escola de comunicações da Universidade Quinnipiac e ex-executivo de notícias da emissora ABC.

Retirado do Portal IG