Quem está acostumado à estrutura precária do atual Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) ou aqueles estudantes que moram há algum tempo em uma pousada na Graça, por falta de uma vaga nas residências universitárias da instituição, poderão, em breve, mudar de ares.

Dentro de 15 dias começam a ser publicados os editais de licitação para oito obras da universidade. Entre elas estão a construção de uma nova residência universitária, no Canela, e um novo prédio para o Instituto de Psicologia, em São Lázaro.

As licitações das obras sairão separadamente, uma a uma. Haverá também a instalação dos Pontos de Distribuição de Refeições nos campi do Canela e de São Lázaro, a construção da Unidade Hospitalar Integral à Saúde da Mulher e da Criança (Isamco) no Hospital Maternidade Climério de Oliveira, a construção de prédios anexos para a Escola Politécnica e para o Instituto de Ciências da Saúde e a reforma e ampliação das escolas de Dança e Teatro.

De acordo com o vice-reitor da Ufba, professor Luiz Rogério Bastos Leal, a solicitação de recursos para as obras foi feita em fevereiro ao Ministério da Educação (MEC), que pediu projetos e aprovou, agora, a liberação de R$ 130 milhões em recursos do governo federal. Parte das obras deve começar em janeiro do ano que vem e as primeiras devem ficar prontas em um ano.

“Essas novas obras são demandas da Ufba junto ao MEC, porque a universidade cresceu muito nos últimos anos e a gente teve que continuar investindo na infraestrutura. Já tem um volume de obras sendo executadas, mas a gente precisa de mais espaço, salas de aula, laboratório, restaurante, residências”, disse Leal.

Segundo ele, as obras vêm para melhorar a infraestrutura já existente, mas não há, por enquanto, previsão de aumento de vagas. A liberação do dinheiro em oito meses (um prazo considerado curto para esse tipo de investimento) se deve à realização das obras via Regime Diferenciado de Contratações (RDC), sistema utilizado, até o momento, somente em obras da Copa do Mundo.

O RDC acelera o processo de licitação, a apresentação de propostas e a habilitação de empresas para a realização dos procedimentos.

“Esse regime já está sendo utilizado para as obras da Copa e foi aberta a possibilidade, depois que o Congresso aprovou, para que fosse usado também pela Educação e pela Saúde. Dá mais segurança tanto para execução quanto para licitação. A expectativa é de contratar empresas melhores e dar mais celeridade”, disse o vice-reitor, Luiz Rogério Bastos Leal.

Demora

Hoje, 15 obras já estão em andamento nos campi da Ufba (veja texto ao lado) de Salvador e Vitória da Conquista e algumas delas ultrapassarão o prazo previsto. A estudante de Ciências Sociais Marina Fernandes afirmou que o andamento das atuais obras é insatisfatório.

“A dificuldade do prazo de entrega atrapalha muito a vida dos estudantes que necessitam das residências. Algumas obras que já deveriam ser entregues, há meses, ainda não foi levantada nenhuma pedra e muitos estudantes estão em pousadas bancadas pela Ufba”, disse.

O vice-reitor Luiz Rogério Bastos Leal não negou o atraso em algumas intervenções, mas atribuiu o problema às construtoras. “Tem algumas obras que as empresas têm mais dificuldade, porque a gente sabe como funciona essa questão de obras no Brasil. Tem o aquecimento da construção, falta material, mão de obra, mas muitas obras a gente consegue terminar no prazo”, afirmou.

Ele usou como exemplo as obras de reforma que já foram feitas na Faculdade de Comunicação, em Belas Artes e Medicina, além do restaurante do Campus de Ondina. Apesar das queixas, a estudante do 9º semestre do curso de Psicologia Graça Santiago, que vive na residência da Garibaldi, diz que as obras, especialmente a edificação do prédio do Instituto de Psicologia, vão beneficiar muitos estudantes.

Com a estrutura atual, os alunos são obrigados a acompanhar as aulas entre cadeiras quebradas e em salas sem climatização. Por vezes, chega a faltar até água para lavar as mãos no prédio.

“Para nós vai ser excelente. Lembro que desde 2009, quando comecei a faculdade, chegávamos a ficar até duas semanas sem aula por falta de sala disponível. Com esse novo prédio os alunos terão uma estrutura moderna, a dinâmica e rendimento do curso irá fluir de maneira mais positiva”, pontuou.

Plano

Essas obras, que foram anunciadas pela Ufba na sexta-feira passada, não fazem parte da previsão feita em 2009 pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni-Ufba).

De acordo com a universidade, “nesta nova rodada de expansão estão sendo construídos prédios novos que se somam àqueles erguidos no programa Reuni, qualificando ainda mais as atividades acadêmicas da instituição”.

No final do ano passado, foi elaborado o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2012-2016, que estabelece diretrizes para a administração da universidade no período de quatro anos.

A respeito da infraestrutura, foi definido o Plano Diretor de Desenvolvimento Físico e Ambiental (PDDFAm), que já estabelecia o fomento à construção e equipamentos de ensino, pesquisa e extensão.

As obras, segundo o PDDFAm, precisariam contemplar intervenções nos restaurantes dos campi, fazer a instalação de equipamentos de uso coletivo, além de projetos de investimentos em unidades participantes do Reuni.

O PDI mencionava a implantação de mais de 50 projetos, incluindo novas construções, ampliações e reformas. A maior parte delas deveria ser entregue até o final deste ano.

Leitos

De acordo com o vice-reitor Luiz Rogério Bastos Leal, das oito obras anunciadas na semana passada, a Unidade Hospitalar Integral à Saúde da Mulher e da Criança (Isamco) deverá ser a última a ficar pronta. “Deve levar uns dois anos, porque é um hospital, demanda mais tempo”, justificou.

Segundo ele, a unidade acrescentará mais 130 leitos ao hospital maternidade. O Isamco funcionará como uma unidade auxiliar de ensino, pesquisa e assistência. A área total construída será de 16.745 m², em um prédio verticalizado de cinco pavimentos acima do nível do solo e outros três no subsolo.

Plano prevê construção de nova Residência Universitária no Canela

Dentre as obras, a Residência Universitária do Canela atende diretamente a demandas de muitos estudantes. O novo prédio, que será construído entre as ruas Conde Filho e Almirante Japiaçu, terá capacidade para 363 estudantes, segundo a Ufba. Serão 92 apartamentos, sendo 15 deles adaptados para pessoas com deficiência. A expectativa é que 102 estudantes que vivem numa pousada na Graça tenham prioridade na ocupação do novo prédio. A estudante Madlene Souza, que mora na pousada, disse que a estrutura lá não atende às necessidades dos residentes.

“Temos uma sala de estudo que é mal estruturada, não tem ventilação. Numa residência fixa, poderemos estudar confortavelmente”. Hoje, os estudantes da Ufba se dividem em quatro residências oficiais: Residência Universitária I, no Corredor da Vitória (90 estudantes), Residência Universitária II, no Largo da Vitória (34) e a Residência Estudante Frederico Perez, na Garibaldi (199), além da pousada na Graça.

Em 2009, parte do teto da antiga Residência III, no Canela, desabou. Na ocasião, a Ufba transferiu os estudantes para duas pousadas. A reforma mais recente em residências aconteceu em março, na RII, do Largo da Vitória, que chegou a ser considerada a pior residência universitária do Brasil.

Instituição tem planejamento para expansão de estrutura até 2016

Dos cerca de 50 projetos que compõem o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2012-2016, pelo menos 16 já estão em andamento, segundo o vice-reitor da Ufba, Luiz Rogério Bastos Leal. Entre as obras em curso estão a reestruturação da Faculdade de Farmácia, dos institutos de Geociências, Química e Física, construção do prédio de Ciências Contábeis e reforma da Faculdade de Direito, por exemplo.

O PDI prevê ainda que, até 2016, a universidade vai ganhar um novo Complexo Esportivo e Educacional, uma Unidade de Pesquisa no Parque Tecnológico do Estado da Bahia e um Centro Cultural. No documento, está indicado que, “apesar dos esforços da atual gestão em recuperar e manter prédios com mais de 50 anos, esses demandam frequentemente altos investimentos em restauração e manutenção”.

Ainda segundo o documento, o Campus da Ufba de Camaçari também deverá ficar pronto até 2016. Para a estudante Helga Moraes, do curso de Nutrição, as novas obras são extremamente necessárias. “É importante essa ampliação. Isso aumenta as oportunidades. É uma política que prejudica os estudantes se aumentar o número de cursos e não aumentar a estrutura”.

Reuni: Ufba não alcançou metas de Educação Tecnológica

Implantado em 2008, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) estabeleceu algumas metas para a Ufba até 2012. Entre elas estava o oferecimento de 2.530 novas vagas em cursos noturnos, a ampliação do número de matrículas em cursos presenciais para 37.807 (projeção),implantação de 28 novos cursos de graduação, sete cursos de Educação Superior Tecnológica e quatro Bacharelados Interdisciplinares.

As metas de vagas em cursos noturnos, número de estudantes matriculados em cursos de graduação, implantação de novos cursos (67 em 2008 para 112 quatro anos depois) e Bacharelados Interdisciplinares foram cumpridas. No entanto, dos sete cursos de Educação Superior Tecnológica, somente dois estavam implantados no final do ano passado.

De acordo com dados do Serviço de Seleção, Orientação e Avaliação (SSOA), existem hoje 113 cursos na Ufba: 101 tradicionais e outros 12 que estão divididos entre Bacharelados Interdisciplinares, cursos tecnológicos e licenciaturas especiais.

No mesmo ano, 7.951 novos estudantes se matricularam, chegando ao total de 41 mil, somadas às vagas já existentes. Ainda de acordo com a Ufba, a instituição contava, até 2012, com 2.400 professores e 3.600 funcionários.

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