A diarista Maria Aparecida Tenório Silva, de 46 anos, foi internada no Hospital das Clínicas de São Paulo em outubro do ano passado com um cisto no ovário com volume de 16 litros. A barriga saliente, que lembrava a de umagrávida, fazia com que tivesse dificuldade para se movimentar e até para dormir.

Poucos dias depois, pesando 24 quilos a menos, ela teve alta. O cisto gigante foi removido com apenas três minúsculos cortes – um de 1,2 cm no umbigo e dois de 0,5 cm no abdômen – utilizando a técnica de videolaparoscopia. O Hospital das Clínicas é a primeira instituição brasileira a adotar essa técnica minimamente invasiva para retirar cistos gigantes, com mais de 10 litros de volume. O cisto é como uma cápsula preenchida por líquido que se forma dentro do ovário.

Nos últimos dois anos, a técnica já foi aplicada com sucesso em 11 pacientes da instituição e os resultados serão apresentados em novembro em Washington, no Congresso da Associação Americana de Laparoscopia Ginecológica. O caso de Maria Aparecida foi o cisto de maior volume operado pela equipe, segundo o ginecologista Sérgio Conti Ribeiro, chefe do Setor de Laparoscopia Ginecológica do HC.

“Não existe nenhuma outra publicação de outro local no Brasil sobre o uso dessa técnica para cistos com volume de mais de 10 litros. Mesmo fora do país, esses casos são raros”, diz Ribeiro.

No caso da retirada de cistos pequenos, a técnica de videolaparoscopia já é praticada há vários anos no país. Segundo o médico, os instrumentos utilizados na retirada de cistos gigantes são os mesmos usados na retirada de cistos pequenos.

O primeiro passo da cirurgia minimamente invasiva de retirada de cistos de grande volume é o acesso direto ao interior do cisto através do umbigo. Nesse primeiro momento, o conteúdo de dentro do cisto é sugado por meio de um sistema de aspiração, que reduz o volume da cápsula.

O segundo passo é a abordagem do cisto, procedimento orientado palas imagens de uma câmera introduzida no abdômen da paciente. No caso das pacientes mais velhas, segundo Ribeiro, o ovário todo é retirado. Nas mais jovens, separa-se o tecido sadio e preserva-se o ovário. O procedimento leva de 60 a 90 minutos.

Hoje, a cirurgia comumente adotada para os casos dos cistos volumosos no Brasil envolve uma incisão de cerca de 15 centímetros no abdômen da paciente. “A paciente laparoscópica tem alta no dia seguinte. Na outra cirurgia, a alta pode levar 3 dias”, diz Ribeiro. Outras vantagens, segundo o médico, são menos dor no pós-operatório e cicatrizes bem menores. A alternativa minimamente invasiva, porém, só pode ser utilizada em casos benignos.

Demora no diagnóstico

Maria Aparecida conta que os primeiros sintomas do cisto foram cólicas fortes no período menstrual. “Eu ia ao posto para fazer exames, fazia o papanicolau e diziam que eu não tinha nada. Pedia para ver um ginecologista, mas diziam que não precisava”, conta.

“Um dia, quando deitei de bruços, senti um caroço do lado direito da barriga. Já sentia que ela começava a crescer de baixo para cima, como quando se está grávida”, diz. Maria Aparecida insistiu para ser atendida por um médico e foi encaminhada para o clínico geral. “Ela pediu um bocado de exames, inclusive um ultrassom pélvico, e disse que não tinha dado nada. Então ela começou a dizer que era barriga d’água.”

Depois de mais insistência por parte da paciente, ela foi encaminhada para um gastroenterologista. “Só de eu entrar no consultório, ele disse: ou é tuberculose ou é problema no ovário. Ele pediu tomografia e exames de sangue”, conta. Finalmente, ela foi encaminhada para o Hospital das Clínicas e, seis meses depois, foi internada para a realização do procedimento.

“Estava com muita dificuldade para andar com todo aquele peso. Fiquei muito fraca. Foi um grande alívio ficar livre de todo aquele peso”, diz a paciente, que foi internada com 79 kg e saiu do hospital com 55kg. Ela conta que não teve dor no pós-operatório e logo voltou às atividades cotidianas.

Segundo Ribeiro, de 3% a 4% dos cistos ficam grandes como o de Maria Aparecida, o que ocorre devido à demora no diagnóstico.

*Globo.com