Foto: Roberto Filho/R7.

Netinho passou boa parte dos seus 47 anos de idade gozando de ótima saúde e dificilmente tinha sequer uma dor de cabeça ou qualquer dorzinha que o afastasse dos palcos ou de sua rotina acelerada. Mas, no ano passado, ele foi parar no hospital e quase não voltou para casa. Internado em abril com fortes dores na coxa e na virilha, ele entrou no hospital achando que exagerou na malhação, no auge de seus 82 kg, e acabou com 50 kg imóvel em uma cama de UTI e entubado por todos os lados.

Dez meses após a internação, Netinho retoma à vida normal. Neste começo de ano já voltou a morar no Rio para seguir a vida e voltou aos palcos em uma recuperação que surpreende até os médicos. Em uma conversa exclusiva, o cantor revelou emocionado ao R7 detalhes dos sete meses em que viveu a um fio da morte.

— Os médicos chamaram minha família para se despedir de mim. Eles me desenganaram por duas vezes. Depois que eu fiquei bem, os médicos de Salvador vieram me explicar porque fizeram isso. Eles falaram que casos como o meu não há mais solução. Eles aprenderam isso nos livros de medicina. Eles falaram que meu intestino estava com bolhas de ar, que estava necrosado. Ou seja, eu estava morrendo. Dias depois de dizerem que eu iria morrer, eu não tinha mais nada no intestino.

Netinho sabe que pelo que passou e ainda estar vivo não passa de um milagre.

— Foi ele [aponta para o céu] que me deixou vivo. Eu estava realizado, feliz. Já tinha realizado todos os meus sonhos. E faria tudo de novo, tudo. Por isso eu digo que viver é divino. Todas as circunstâncias me levavam à morte. Poderia ter morrido ali. Mas, se ele me deixou, é porque tem um propósito nisso. Ele me deixou vivo por um motivo maior.

Netinho ainda está recuperando a capacidade vocal e caminha devagarinho, por causa das tonturas, que ainda vão levar um tempinho para desaparecer. Falar sobre os meses em que esteve entre a vida e a morte o emocionam ainda mais quando relembra os momentos em que sentia a força vindo de locais que nem ele imaginava.

Como quando conta sobre a demonstração de amor dos fãs. Netinho vai ao choro ao lembrar uma fã que fez plantão na porta do Sírio Libanês em uma madrugada de chuva e muito frio.

— Eu durmo sempre muito tarde e ficava assistindo à TV no hospital. Uma noite, o médico entrou, por volta da 1h da manhã, e falou “Netinho, está ouvindo?” e pediu para eu abaixar o volume da televisão. Tinha uma menina lá embaixo, estava um frio, um gelo em São Paulo e ela gritava “Netinho, eu te amo” lá da rua, no frio e na chuva… (começa a chorar). Foram muitas coisas assim. Este amor me manteve, com certeza.

Netinho não segura a emoção quando pensa que esteve a ponto de partir. Mas garante que o choro é por lembrar de todo este caminho e pensar no tamanho de sua vitória.

— Me desenganaram duas vezes, em Salvador e outra no Sírio. Eu cheguei em São Paulo tão ruim, que eles achavam que não tinha solução. Chamaram minha família para se despedir. Tudo tem um motivo. Não fiquei vivo por nada. Eu nunca pensei em desistir, mas muita gente desiste. Porque a dor não é física, é dentro, é um desânimo.

A internação pegou não só o cantor de surpresa como o público. A gravidade e a dúvida sobre qual seria a doença dele levantaram diversos boatos e suposições, entre eles até de que ele teria AIDS.

— Eu lido com pessoas há muitos anos. Sou artista e preciso lidar muito com as pessoas e por causa disso consigo entender a natureza delas. Do mesmo jeito que tem aqueles que mandam mensagem “força”, “saúde”, “melhoras”, tem aqueles que não.

As pessoas podem dizer o que quiserem. Há pessoas que fingem que não ouviram, só querem saber do mal. É a democratização da internet que causa isso. Porque cada um que entra ali pode dar sua opinião e dizer o que quiser. Você precisa ter essa peneira dentro de você. Tem gente ruim mesmo, que nasce ruim. Vou ouvir essas negativas para o resto da vida.

Com isso, Netinho dá o exemplo de um boato que criaram de que ele era careca e diz que aprendeu a lidar com o que as pessoas inventam.

— Teve uma época em que eu só usava boné e tinha o boato na Bahia de que eu era careca. Depois que eu estava com AIDS. Tem um monte de história que inventam e eu só dizia uma coisa: “deixa o tempo passar”. Não precisa ficar brigando, nem respondendo a isso, quanto mais você responde o mal, você fala do mal. Você tem que ignorar e fazer de conta que não existe. Tratar com indiferença.

*R7