Foto: Mauro Akin Nassor/Correio.

Para o Titanic afundar, bastou um iceberg no caminho. Para destruir o poder do traficante Titanic e de toda a sua esquadra, foram necessários mais de 200 policiais civis e militares e uma operação especial, a Destroyer, deflagrada na madrugada de ontem, no bairro de Cosme de Farias e em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Com seu bando, a versão soteropolitana do Titanic tocava o terror em Cosme de Farias. Tiago Guimarães Pinto, ligado à facção Comando da Paz, era apontado pela polícia como o líder do tráfico no bairro e suspeito de envolvimento em cerca de 30 homicídios.

Tiago, que há duas semanas havia alugado uma casa em Camaçari, foi morto no imóvel durante uma troca de tiros com a polícia. De lá, ele comandava o tráfico, segundo as investigações. Seu irmão, Jacson Guimarães Pinto, e Diogo dos Santos também morreram no confronto em Camaçari.

Além disso, em Cosme de Farias, oito membros do grupo foram presos: Jucicleide Silva de Jesus, 25, Éder Gonzaga de Jesus Santos, 21, Dênis Apolônio Mercês, 22, Diogo Rocha Carvalho, 23, Edielson dos Santos Gomes, 22, Sandro Ferreira Ventura Júnior, 20, Lucas Silva dos Santos, 21, e Leandro dos Santos Silva, 20.

Dois adolescentes foram apreendidos e encaminhados à Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). Foram apreendidos ainda 13 quilos de maconha, cocaína e crack, mais de 30 celulares, duas pistolas de calibres 9mm e .40 e dois revólveres de calibres 32 e 38.

Um mês “Fizemos a operação simultaneamente em Cosme de Farias e Camaçari, para combater focos de organizações criminosas. Foi o resultado de investigações dos últimos 30 dias, com a população se queixando da opressão da quadrilha”, explicou o delegado Odair Carneiro, titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM).

Segundo ele, a operação não estava prevista para ontem. “Mas, depois do incidente de ontem (quarta), resolvemos antecipar, já que houve um alto índice de violência”, disse, referindo-se a um crime registrado em Cosme de Farias.

Policiais abordam moradores durante buscas em Cosme de Farias. No fim do dia, oito foram presos com drogas, armas e celulares

Na ocasião, informou a polícia, Tiago ordenou a morte de Leandro Alves Pereira, 28. Ele estava em casa com a namorada, Camila Arruda, 18, e o filho dela, Cauan, de 1 ano e 10 meses. Todos foram atingidos pelos tiros e o bebê morreu.

“Leandro cometeu um homicídio na segunda-feira, matou um parente de Sandro. Foi uma retaliação”, explicou, fazendo menção à morte de Vinicius dos Santos Monteiro. Na mesma noite, Leandro também teria baleado Rubens Santos da Luz.

A polícia ainda atribui a Titanic e seu bando crimes como o assassinato da líder comunitária Cleonice Cardoso da Silva, 46 anos, no mês passado. Eles também seriam responsáveis pela morte do lavador de carros José Carlos dos Santos, 43, executado na Avenida Bonocô no dia 1º deste mês. “Ele (José) era usuário de drogas e devia a Tiago”, afirmou Carneiro.

O delegado também revelou que dois jovens presos, no mês passado, como autores do crime contra Cleonice não tiveram envolvimento com a morte. “Eles continuam presos, porque são acusados de tráfico de drogas”.

Operação

A Operação Destroyer, que durou cerca de sete horas, cumpriu 13 mandados de prisão, expedidos pela 1ª Vara de Tóxicos e pelo 1º Juízo da 2ª Vara de Tóxicos. Um deles era destinado a Titanic.

Às 5h de ontem, a polícia cercou a casa de Titanic em Camaçari. “Como intensificamos a presença da polícia em Cosme de Farias, ele foi para Camaçari”, disse o delegado Daniel Menezes, também da DHM.

Segundo ele, Tiago, Jacson e Diogo estavam dentro da casa. “Quando cercamos o fundo, eles não tiveram como sair. Reagiram, mas acabaram mortos”, contou Menezes. Enquanto isso, em Cosme de Farias a busca por outros membros da quadrilha já estava em curso. Durante toda a manhã, a polícia bateu de porta em porta.

Para o tenente Hianderson Ribeiro, comandante da Rondesp Atlântico, o sucesso da ação veio da ajuda dos moradores. “A população vivia refém. Titanic comandava a região através do terror. Qualquer morador que fizesse oposição era assassinado”.

Das janelas das casas, os moradores acompanhavam o movimento. Com medo de represálias, ninguém quis falar sobre a operação. Durante a ação, um traficante identificado apenas co mo “Tosca” conseguiu fugir mesmo ferido. Por isso, a polícia informou que está monitorando os hospitais.

Ainda de acordo com o delegado Daniel Menezes, a Polícia Militar continuou a ocupação ostensiva em Cosme de Farias, após a operação. Além da DHM e da Rondesp PM, a ação envolveu o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o Departamento de Narcóticos (Denarc), Companhia de Operações Especiais (COE) e equipes das Operações Apolo e Gêmeos da PM.

‘O negócio de Titanic era matar’, afirma major da PM

“Com ele, ninguém sobrava em pé. O negócio dele era matar”. Foi assim que o major Saulo Roberto, comandante das Rondas Especiais da Polícia Militar definiu Tiago Guimarães Pinto. E, segundo o major, esse era o motivo para Tiago ser chamado de Titanic. “Ele agia com atrocidade. A população estava encurralada. Bastava que ele achasse que a pessoa tinha ligação com a polícia, que mandava matar”, comentou.

Titanic, que não teve a idade confirmada, estava na mira da polícia há dois anos, mas só assumiu o comando do tráfico em Cosme de Farias há um ano, de acordo com o delegado Daniel Menezes, da Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM). Ele comandava um grupo com cerca de dez pessoas – que, segundo a polícia, é ligado ao Comando da Paz. “Ele foi escolhido do presídio. A essa altura, os presidiários já devem estar escolhendo quem vai assumir depois dele”.

Ainda segundo Menezes, Titanic cobrava “pedágio” dos moradores de Cosme de Farias. “Se alguém tivesse um comércio, ele comia sem pagar. Se tivesse um mercado, ele mandava fazer compras sem pagar. Também ameaçava comerciantes que tivessem câmeras de segurança. Elas tinham que ficar desligadas, porque, se registrassem um crime, a polícia não teria acesso”, explicou o delegado.

Também era comum que o traficante atirasse contra casas de policiais e contra viaturas. “Ele era um psicopata, que não tinha peso na consciência. Atirava em pessoas à luz do dia. Não importava nem que tivesse criança por perto. As mortes serviam para ele mostrar força. Mas ele também matou gente que não tinha nada a ver com o tráfico, como a líder comunitária, porque achava que ela era informante da polícia”, disse, referindo-se a Cleonice Cardoso da Silva, 46, morta em janeiro, em sua casa.

Ainda segundo Daniel Menezes, os traficantes da quadrilha de Titanic vivem em disputa com uma quadrilha de Campinas de Brotas. “São duas facções no presídio. Aqui fora, elas disputam também. Se uma se bater com a outra, eles se matam”, afirmou. Entretanto, o delegado evitou dar mais detalhes sobre a facção rival e sobre a disputa territorial na região.

Corpo de bebê sepultado após ataque em casa

Foi sepultado, ontem, o corpo do bebê Cauan Neri Cruz, de 1 ano e 10 meses, baleado em casa, na quarta-feira, junto com a mãe, Camila Arruda, 18, e o padrasto Leandro Alves Pereira, 28. O menino foi atingido no abdômen e não resistiu. De acordo com a polícia, Dênis Mercês e Sandro Júnior, dois dos homens presos ontem como integrantes da quadrilha de Titanic, participaram do ataque na casa de Leandro, em Cosme de Farias, que resultou na morte de Cauan.

Durante o sepultamento, no Cemitério Campo Santo, parentes da criança e amigos da família chegaram a passar mal. Dentre eles, o pai biológico de Cauan, o encanador Joeliton da Silva Cruz, que estava em Recife quando tudo aconteceu. De acordo com a assessoria da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o estado de saúde de Leandro e Camila é considerado estável.

Eles estão no Hospital Geral do Estado (HGE). Segundo Maria de Lourdes Arruda, mãe de Camila, a jovem estava grávida de dois meses, mas perdeu o filho após ser atingida pelos tiros. A Sesab não confirmou a informação.

Além disso, a assessoria do órgão declarou que é muito cedo para confirmar outra informação passada pela família da jovem, de que ela ficará paraplégica. Entre os parentes de Camila, a tese é de que o ataque foi encomendado pela ex-mulher de Leandro, de quem ele está separado há mais de um ano. As informaçõe são do Correio.