A irresponsabilidade da Veja, de tentar interferir na vontade popular e no resultado das urnas com notícias mentirosas, apenas realça a mais grave crise da mídia nacional na história recente da República brasileira. Pior até mesmo do que na época da ditadura civil-militar (1964-1985), se considerarmos que naquele período o Brasil vivia um regime de exceção.

O mais grave é hoje, em plena democracia, grande parte da imprensa, principalmente aquela controlada ou que representa as forças de extrema direita, desrespeitar os mais elementares princípios éticos, sejam da ética humana ou profissional da área de comunicação. Vale tudo para alcançar os objetivos econômicos e políticos pretendidos. Há muito que a grande maioria dos veículos de comunicação desprezou a sagrada função de informar e formar.

A eleição presidencial deste ano agravou ainda mais as distorções e aberrações que já vêm ocorrendo na mídia há alguns anos, com graves reflexos e prejuízos para toda a sociedade, sem que nenhuma providência seja tomada. Todo o preconceito, discriminação e ódio de classe que tem predominado na campanha eleitoral, foi gestado, estimulado e espalhado por veículos de comunicação e profissionais irresponsáveis.

Nunca a extrema direita verde e amarela, sempre escabreada, introvertida e sonsa, teve tanta coragem para mostrar a cara. Os demônios e monstros do nazifascismo nacional saíram das trevas para ganhar os holofotes. Claro que encorajados por grande parte da imprensa.

Que a tentativa de golpe da Veja contra a vontade popular, ao querer interferir no resultado das urnas em favor das elites, sirva de lição e a sociedade, de forma séria e equilibrada, abra imediatamente o debate sobre a democratização da mídia, instrumento indispensável ao aprimoramento da democracia e à afirmação da cidadania.

· Rogaciano Medeiros é jornalista