Se você já sentiu aquela raiva ao tentar marcar uma consulta ou exame médico e não contar com o plano de saúde que lhe cobra caro, está na mesma situação que 79% dos usuários de convênio em São Paulo.

Este é o índice de pessoas insatisfeitas com seu plano, segundo pesquisa do Instituto Datafolha

e a Associação Paulista de Medicina (APM). Assim, pelo menos 30% dos pacientes já recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou ao atendimento particular. Foram ouvidas 861 pessoas que precisaram dos planos nos últimos dois anos.

Na Bahia, os planos de saúde não chegam a ser recordistas, mas estão entre os principais serviços que levam consumidores à Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA).

Somente no ano passado, 17 operadoras de planos de saúde – incluindo odontológicos – ficaram entre as empresas com maior número de queixas no órgão. As principais diziam respeito a problemas na cobertura e à negativa de atendimento. O Procon ainda não divulgou um balanço deste ano.

E se engana quem pensa que somente os pacientes estão insatisfeitos. Ontem, quando era festejado o Dia do Médico, a categoria aproveitou para se queixar. Para os médicos, a tendência é cair o número de profissionais credenciados por conta do desrespeito e dos problemas com os repasses.

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O índice de reclamações contra a operadora junto à ANS (3,36), de setembro de 2013, é quase três vezes maior do que a média das demais operadoras de grande porte (1,16).

“O que a gente vê hoje é o aparecimento de planos sem a menor capacidade de atender à população. Quando precisa, a população tem que recorrer ao SUS ou a outra sistemática, já que os planos colocam filtros dos interesses deles”, disse o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães. Para ele, a relação desigual entre planos, médicos e pacientes tem diminuído a rede credenciada no país.

Queixa

A gerente de contas Liliam Carine dos Santos, 35 anos, é um exemplo de insatisfação. Cliente da Amil há cinco anos – operadora contratada pela empresa em que trabalha –, ela teve que suspender um tratamento de fisioterapia há 15 dias por um problema entre o plano de saúde e a clínica.

“Eu faço fisioterapia por causa de uma lesão no pé. Quando fui fazer uma sessão, a atendente disse que a Amil não estava pagando”, contou Liliam, que entrou em contato com a operadora e ainda aguarda uma definição.

“Eu consigo caminhar, mas não consigo usar salto. É também uma questão de autoestima”, disse. Em outra situação, quando precisou fazer uma cirurgia para tratar um problema de rinite, Liliam teve que recorrer a outro plano, já que a burocracia da Amil a impediu de realizar o procedimento. “Vários colegas já tiveram problemas com negativa de atendimento. Se eu pudesse, mudaria de plano”.

A Amil informou, por meio da assessoria de comunicação, que a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) é quem responde pelo índice de reclamações. O CORREIO procurou a Abramge, que não havia se manifestado até o fechamento desta edição.

Diferenças

De acordo com o assessor técnico do Procon-BA, Filipe Vieira, há dois tipos de planos de saúde: os regulamentados, criados após a Lei 9.656/1998 – que define parâmetros de direitos e deveres dos planos –, e os não regulamentados, criados antes da vigência da lei, em 1999.

Mas a lei regulamenta apenas os planos novos e individuais, o que faz com que os anteriores sejam regidos somente pelo contrato.

As diferenças entre as regulamentações também estão presentes nos números de queixas. De acordo com o Procon-BA, somente este ano foram registradas 45 queixas contra planos de saúde regulamentados por descumprimento à oferta do contrato. Com os planos não regulamentados, foram 32 queixas, incluindo não cobertura, abrangência e reembolso.

Para o assessor técnico do Procon-BA, Filipe Vieira, os problemas entre médicos credenciados e planos de saúde não podem atingir os pacientes. “Na relação de consumo, ele é considerado vulnerável. As alterações contratuais devem ser feitas de comum acordo ou com um aviso prévio ao consumidor”, disse. Desde abril deste ano, os planos são obrigados a ter ouvidorias.

Para médico, tendência é que profissionais deixem convênios

De acordo com a pesquisa Datafolha, feita em São Paulo, 60% dos médicos ouvidos afirmam que os planos pagam valores baixos por consultas ou procedimentos. Já 56% dizem que são pressionados a reduzir o tempo de internação dos pacientes. Problemas como esses têm feito cair cada vez mais o número de profissionais que atendem por planos.

“Para se ter uma ideia, hoje não se encontra nenhum pediatra credenciado por plano. E isso vai acontecer com outras especialidades, porque é muito mais fácil fazer um atendimento e emitir um recibo para que o paciente vá buscar ressarcimento”, disse o presidente do Sindimed, Francisco Magalhães.

A pediatra Normeide Pedreira confirma a tese. Ela já deixou de atender por convênios. “A relação com os planos de saúde é complicada e o nosso trabalho desvalorizado”, disse. De acordo com Filipe Vieira, assessor técnico do Procon-BA, quando o plano não dispõe de médico ou especialista em determinada área, o consumidor que tiver gastos particulares poderá solicitar ressarcimento.

*Correio.