A Corregedoria da Polícia Militar investiga a conduta do major e de agentes da 6ª CIPM, que atuam na cidade de Rio Real, região nordeste da Bahia. Eles têm sido denunciados por tortura, homicídios, agressões e milícia pela Prefeitura, Câmara, Justiça e moradores há mais de dois anos.

O juiz de Direito da Vara Única, Josemar Dias Cerqueira, explica ao G1 o teor das acusações. Ele é uma das pessoas ouvidas nesta segunda-feira (25) por representantes da Corregedoria e afirma que já pediu proteção judiciária após o caso vir à tona com os seus relatos. "A cidade parece que está em um eterno cortejo fúnebre, as pessoas estão com medo, com receio da segurança. Eu estou sozinho, deixei a família em outro lugar", desabafa. O Ministério Público da Bahia instaurou procedimento, mas a investigação está sob sigilo.

Segundo Cerqueira, o caso mais grave foi de um advogado agredido dentro da delegacia em janeiro e morto em novembro do ano passado. "Ele denunciava o esquema e processava os próprios policiais. Quando foi morto, estava fazendo novas denúncias. Este ano, começaram a aparecer vários homicídios parecidos: com uso de armas de grosso calibre, duas pessoas em moto ou em um carro preto. Tivemos 15 homicídios este ano, o que é atípico na cidade", relata.

Entre as vítimas das ações do grupo, aponta o magistrado, parte atua no tráfico de drogas e tem relatado há pouco tempo como acontecem as torturas feitas pelos policiais. "Pessoas envolvidas no tráfico passaram a relatar que são objetos de torturas. Afirmam que colocam sacos plásticos na cabeça e uma toalha molhada na boca, quando os policiais despejam água na toalha, o que vai sufocando a pessoa", aponta.

Homicídios e torturas são parte das denúncias. Agentes da 6ª CIPM são acusados de prática de invasões a casas de moradores da cidade ou de agredir cidadãos em via pública.

Josemar Dias, que mora em Rio Real há nove anos e é o único juiz do local, descreve como os casos ocorrem. "Eles não entram mais nas casas na madrugada, agora, é às 23h, cada dia mais cedo. Antes, a pessoa que aparecia morta tinha passagem pela polícia por alguma razão. Ultimamente, crimes são cometidos contra pessoas sem carteira de habilitação, por exemplo. Em um dos casos, uma pessoa estacionou o carro um pouco afastado da calçada, a viatura passa, acha errado, desce chamando de folgado ou vagabundo e se inicia uma série de tapas", afirma.

O magistrado classifica o grupo como de extermínio e afirma que eles também formam milícias, na tentativa de controlar praticamente todo o comércio da cidade, que fica a 200 km de Salvador e tem cerca de 40 mil habitantes, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerqueira descreve que os policiais cobram R$ 30 por semana em troca de proteção. "Se podemos encontrar um lado de humor negro, a cobrança foi descoberta porque um policial militar fez uma pesquisa de qualidade e assinou a própria pesquisa. Eles dão recibo", conta.

O juiz afirma que, ao longo desses dois anos, as denúncias já foram repassadas à Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), mas que não houve providências, o que foi revertido nos últimos dias após ampla repercussão na imprensa.

"Procuramos a PM, a SSP e não tivemos celeridade adequada para o problema. Em março, teve troca de delegado e o que saiu enviou uma série de inquéritos abertos sobre crimes da PM. No mês de outubro, foi encaminhado um ofício ao MP assinado por mim, pelo presidente da Câmara [Municipal] e pelo prefeito, que foi também encaminhado à SSP", diz. Ele reclama que a falta de um promotor fixo na cidade dificulta o andamento das investigações.

As informações são do G1.