"Mas nem todo mundo está atento a um dos principais cuidados para manter os olhos saudáveis: a realização de exames periódicos", alerta Mário Motta, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). O ideal é iniciar o controle já no nascimento, com o teste do olhinho, feito ainda na maternidade. Se estiver tudo normal, basta realizar exames a cada dois anos ou anualmente se houver problemas na família.

Faltam estatísticas, mas a SBO calcula que somente o glaucoma, principal causa de cegueira irreversível, afeta 4 milhões de brasileiros. A infância também é atingida – temos cerca de 30 mil crianças cegas, sendo que três das maiores causas de cegueira infantil (retinopatia da prematuridade, catarata e glaucoma congênito) poderiam ser tratadas. Então, marque já uma consulta com o oftalmologista e adote alguns bons hábitos que preservam a saúde dos olhos.

Tempos modernos

Trabalhar horas diante do computador numa sala com luz fluorescente é inevitável para muitas mulheres e também causa frequente de fadiga ocular. Olhos avermelhados, lacrimejantes ou secos, dor de cabeça, sensação de peso nas pálpebras ou na testa e espasmos musculares são indícios do problema. "Uma forma de prevenção é manter o topo do monitor do computador na linha dos olhos ou um pouco abaixo. Também é preciso evitar que as luzes do ambiente reflitam na tela. Um protetor específico ameniza o incômodo", ensina a oftalmologista Denise Fornazari, do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo. Outra medida saudável é estipular um descanso de 15 minutos a cada hora de trabalho. Olhar para um ponto distante por alguns segundos ajuda a diminuir a fadiga, e piscadas frequentes evitam o ressecamento.

Na seca

Quem mora em grandes centros está mais sujeito aos poluentes do ar, que se depositam no globo ocular, ressecando-o. A exposição contínua ao ar condicionado aumenta o desconforto, que pode ser amenizado com a aplicação de lubrificante ocular uma vez ao dia. Se não funcionar, a saída é lançar mão de um colírio conhecido como lágrima artificial, que deve ser prescrito por oftalmologista. "A síndro me do olho seco pode resultar ainda do uso de lentes de contato, antidepressivos ou antialérgicos, de doenças como artrite reumatoide, de alterações hormonais da menopausa e do envelhecimento", diz Denise.

Depois dos 40

A partir dessa idade, ninguém está livre da presbiopia, a popular vista cansada. "É um processo natural de envelhecimento. Causado pelo enrijecimento das fibras do cristalino, a lente natural dos olhos, prejudica principalmente a visão de curta distância", explica o oftalmologista Pedro José Monteiro Cardoso, diretor técnico do Hospital Cema, especializado em visão, em São Paulo. Para compensar a presbiopia, os óculos ainda são o recurso mais utilizado. "Cirurgias a la ser oferecem resultado limitado nesses casos, mas no futuro isso poderá mudar", afirma Denise Fornazari.

Acima dos 50

Aumentam os riscos de doenças relacionadas ao envelhecimento ocular que podem levar à cegueira. A catarata, responsável por tornar opaco o cristalino, é uma delas e pode ser resolvida por meio de cirurgia, na qual o cristalino danificado é substituído por uma lente artificial. Outro problema grave é o glaucoma. Segundo o oftalmologista Sérgio Meirelles, chefe do serviço de oftalmologia do Hospital Municipal da Piedade, no Rio de Janeiro, o problema é causado pelo aumento da pressão no in terior do globo ocular e não apresenta sintomas. O risco de desenvolver a doença é maior para quem tem ca sos na família, para negros e pessoas que usaram corticoides por muito tempo. É tratada com colírios, aplicações de laser e eventualmente cirurgia. Também a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) exige atenção especial nessa fase da vida. Causada pela oxidação da mácula (que fica na retina e concentra as célu las que permitem enxergar cores), a DMRI não tem cura, mas seus efeitos podem ser retardados com medicamentos e suplementos vitamínicos antioxidantes, como o zinco.

Óculos, lentes de contato e cirurgia são os recursos para corrigir defeitos de refração, como a miopia (dificuldade de enxergar à distância), a hipermetropia (deficiência que compromete a visão de perto) e o astigmatismo (que causa deformações na imagem ou o duplo contorno delas). "Práticos, duráveis e relativamente baratos, os óculos incrementam o visual e ainda são o método mais usado para compensar esses distúrbios", diz Mário Motta. Aos poucos, porém, as lentes e as intervenções a laser conquistam adeptos.

Pequenas notáveis

A grande novidade em lentes de contato são os materiais ultraflexíveis, como o silicone hidrogel, que deixa a córnea respirar e quase não causa reações adversas. Algumas podem ser utilizadas durante o sono e até continuamente, por 30 dias e noites. Elas convivem com as lentes tradicionais, para uso apenas nos períodos em que se está acordada, e com as descartáveis. Algumas versões possuem proteção contra os raios UVA e UVB, o que dispensa os óculos escuros. E há as lentes colori das, que mudam a cor da íris e ainda corrigem o grau da vista cansada. "Mas é preciso atenção. Mesmo as lentes cosméticas, cuja única função é alterar a tonalidade dos olhos, só devem ser adotadas com a indicação de um oftalmologista", observa Denise. Também é fundamental respeitar as orientações do fabricante em relação à higiene e ao tempo de uso para evitar inflamações. Por último: não entre em piscinas e saunas com lentes, pois o risco de contaminação é grande.

Laser à vista

Para quem busca uma solução definitiva, as cirurgias a laser permitem remodelar a curvatura da córnea com resultados promissores. "Temos sucesso em mais de 95% dos casos de miopia com grau passível de correção e em cerca de 80% das intervenções de hipermetropia e astigmatismo", afirma Motta. Elas só são recomendadas, porém, depois que o problema estabilizou – o que normalmente ocorre a partir dos 20 anos. Há dois métodos: o PRK e o Lasik. O primeiro é indicado para distúrbios de refração leves (em torno de 4 graus de miopia e de 2 graus de hipermetropia e de astigmatismo). "O pós-operatório é um pouco doloroso e a visão demora entre cinco e 15 dias para se normalizar", afirma o oftalmologista Eurípedes da Mota Moura, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O Lasik corrige graus mais elevados – cerca de 12 de miopia, 4 de hipermetropia e 5 de astigmatismo. Alguns pacientes ficam com os olhos secos ou com a visão embaçada por até seis meses após a operação, mas isso passa.

Em movimento

Após um dia de trabalho. A professora de ioga Karin Witte Barbosa, de São Paulo, ensina dois exercícios que todo mundo pode fazer. Mas antes tire os óculos ou as lentes de contato

1. Sente-se com a coluna ereta e a cabeça centralizada em relação aos ombros. Sem movê-la, olhe para a esquerda, para baixo, para a direita e para cima. Os movimentos devem ser lentos e contínuos. Repita dez vezes e relaxe

2. Estique um dos braços à frente, na altura do olhar. Posicione o polegar para cima e fixe o olhar nele. Lentamente, aproxime o polegar do nariz sem desviar o olhar. Repita dez vezes e faça o mesmo com a outra mão.

Alguns mitos

Verdade

Tomar sol sem óculos é melhor do que usar um sem lentes antiUV. Lentes que só escurecem o olhar são prejudiciais à visão, pois fazem a pupila dilatar e receber uma quantidade maior de raios nocivos. Isso aumenta o risco futuro de catarata e degenerações na retina. O selo de proteção colado nas lentes nem sempre é confiável. Grandes óticas têm equipamentos para testes.

Mentira

Quem usa lentes de contato deve colocá-las depois do make. Coloque antes de começar a maquiagem para evitar contaminá-las com resíduos de rímel ou lápis.

Verdade

Quem pratica esportes ao ar livre deve usar lentes polarizantes. Esse tipo de lente ajuda a neutralizar a radiação indesejável e consegue reduzir o desconforto causado pelo reflexo dos raios solares sobre areia, neve e água.