O motorista que tiver o hábito de reduzir a velocidade instantes antes de cruzar os radares vai se dar mal. Até o final do mês começa a instalação dos 326 novos equipamentos de última geração, capazes de registrar o veículo por 120 metros de distância – seis vezes mais que os antigos.

Além de fechar o cerco contra os motoristas apressados e contra os que avançam sinal, os novos radares serão capazes de autuar quem trafegar em locais proibidos pela prefeitura – é o caso de alguns trechos da Barra, região que receberá os primeiros fotossensores -, e até de reconhecer, pela placa, se o motorista está devendo IPVA, além de detectar caminhões circulando em horário proibido para a via e flagrar os motociclistas que cometem infrações entre os carros.

Ontem, foi publicada no Diário Oficial do Município a empresa vencedora da licitação para implantação dos radares inteligentes. A Velsis, empresa do Paraná, venceu a concorrência, no valor de R$ 60,5 milhões para prestação dos serviços de fiscalização automática de trânsito por três anos.

Os equipamentos antigos (80 em toda a cidade) serão substituídos gradativamente. “Eles estão sob renovação de contrato até o final do ano. À medida que foram vencendo, serão trocados”, explicou Marcelo Corrêa, diretor de Trânsito da Superintendência de Transportes de Salvador (Transalvador).

A expectativa é de que até o final do ano todos os aparelhos estejam instalados. Os 326 equipamentos, que funcionam a laser, serão colocados em 208 pontos de fiscalização em 67 vias – alguns pontos terão mais de um equipamento.

“É o que tem de mais moderno no Brasil em fiscalização de trânsito. Já é adotado em São Paulo, mas Salvador será a primeira capital a ter 100% do parque tecnológico de fiscalização eletrônica com o uso do laser”, explicou Corrêa, destacando que o objetivo é reduzir o número de mortes no trânsito. “Hoje, temos 260 pessoas morrendo em acidentes de trânsito por ano em Salvador. A nossa meta é reduzir em 50%”, disse.

O gerente comercial da Velsis, Roberto Ferreira, explicou que os radares podem ser configurados para exercer várias funções ao mesmo tempo, a exemplo de avanço de sinal e detecção de excesso de velocidade. “É um modelo único, com sensor, câmera, iluminador e um computador”, explica, destacando a velocidade da informação. “O laser sai do equipamento, bate no carro e volta com os dados para o equipamento em 1 milésimo de segundo”.

Blitze

Dos 326 radares, 12 serão móveis e serão utilizados nas blitze de licenciamento. As câmeras desses radares filmarão as placas dos veículos e os dados serão encaminhados automaticamente para um banco de dados para a Central de Avaliação de Imagens da Transalvador (CAI), que funcionará na unidade do órgão, nos Barris.

Ali, o sistema confrontará as informações com o Registro Nacional de Veículos (Renavan) ou com os dados do Departamento de Trânsito (Detran) e será capaz de detectar se o veículo tem pendências. “Se o veículo estiver em situação irregular, e for montada uma blitz em um determinado trecho da via, o motorista será parado”, comentou Corrêa.

Barra

Segundo o diretor de Trânsito da Transalvador, a implantação dos fotossensores começará pela Barra e será finalizada até o dia 11 de junho. Serão sete, no total, instalados nos trechos das obras de requalificação, onde só será permitida a circulação de carros com as placas cadastradas. “Já tenho o pré-cadastro dos moradores. Agora falta só confirmação. Devo iniciar em 15 dias”, disse. Os trechos onde será restrita a circulação serão entre a avenida Princesa Isabel e Barão de Itapuã e entre o edifício Oceania e a rua Marquês de Caravelas.

Caminhões e motos

Depois da Barra será a vez dos corredores de grande acesso, como as avenidas Paralela e a Bonocô, onde o objetivo maior é fiscalização da lei de carga e descarga. “Se o caminhão passar em horários e locais proibidos será autuado”, alertou Corrêa. Através dos dados do Detran, será identificado o tipo do veículo e a aplicação da notificação.

A tecnologia permitirá ainda que os motociclistas que cometerem infrações sejam punidos, o que raramente acontecia anteriormente. A potência de alcance das lentes será capaz de flagrante a moto que trafega entre os carros. Também vai flagrar os veículos que circularem em faixas exclusivas, a exemplo da Paulo VI.

Dois radares já foram testados na Paralela e Magalhães Neto

O funcionamento dos novos radares está previsto para o final deste mês, mas os aparelhos já foram testados pelos motoristas de Salvador sem que eles soubessem. Os testes foram realizados em abril, quatro dias antes da Semana Santana. Os pontos escolhidos pela Transalvador foram as avenidas Paralela e Magalhães Neto. As vias foram selecionadas devido ao fluxo intenso de veículos. Os testes foram realizados nos horários de pico. Para o teste, foi considerado um limite de velocidade de 30 km/h. “Teoricamente, quem passava na via era autuado porque a gente queria avaliar o rendimento do equipamento, porque nessas vias todo mundo passa acima de 30 km/h”, explicou Marcelo Corrêa, diretor de Trânsito da Transalvador, garantindo que, nessa circunstância, os veículos não serão notificados.

Para o diretor de Trânsito da Transalvador, os dois aparelhos tiveram resultados satisfatórios. “O fotossensor da Paralela deu 98% de aproveitamento de imagens e o outro, da Magalhães Neto, deu 98,5%”, disse. Na Paralela, o radar foi instalado embaixo do viaduto da avenida Luis Eduardo Magalhães, sentido Centro. Na Magalhães Neto, foi instalado em frente ao Hospital da Bahia.

Especialista elogia radares, mas destaca necessidade de educação

(Por Edvan Lessa)

A professora do Departamento de Engenharia de Transportes e Geodésia da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ilce Marília Dantas Pinto, observa que Salvador precisa de um trabalho amplo em relação à melhoria da sua mobilidade. “Se acompanhássemos essas mudanças, poderíamos comparar de que forma tem havido melhorias”, ressalta. Ainda assim, analisa que, se for bem planejada, a substituição dos radares pode beneficiar a segurança no trânsito da capital. “Mas, para favorecer a política de mobilidade como um todo, você não pode ir num ponto só”.

Ela aponta, nesse sentido, que a fiscalização não deve se pautar, unicamente, em sanções para os indivíduos que cometem infrações. “Temos que desconstruir essa visão de caráter punitivo por meio de multas”, critica. Integrante do Centro de Estudos de Transportes e Meio Ambiente (Cetrama), a pesquisadora enfatiza que a atualização tecnológica, junto com os investimentos em engenharia de tráfego e infraestrutura viária, deve estar aliada a outros dois pilares; além do policiamento e fiscalização, por meio do trabalho de agentes, policias e guardas, à garantia da educação formal para o trânsito, em diferentes níveis de ensino.

Com informações do Correio