Quando Maria Lúcia dos Santos Gomes, a Nem Gorda, mandava o Bonde da Nem tocar o terror no Subúrbio Ferroviário, o primeiro passo da quadrilha era tocar a campainha da casa de um policial militar reformado.

O PM, sogro da traficante, guardava na garagem de casa, no Alto do Tanque, os dois carros usados nas matanças, um Corsa e um Stilo – este apreendido pela polícia.

Os dois pertencem a  Maria Lúcia.

O PM, que não teve o nome revelado pela polícia para não atrapalhar as investigações, é pai de criação do cabo do Exército Alex Brito das Neves, o Grilinho, apontado pelo titular da 5ª Delegacia, em Periperi, Antonio Carlos Magalhães, como chefe dos matadores do bonde e substituto da mulher à frente da quadrilha.

A casa fica na região que funciona como quartel general de Nem Gorda, nas imediações da Travessa dos Dendezeiros.

Mas as ligações da quadrilha não se resumem a policiais militares.

Segundo a delegada titular do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), Joana Angélica Santos, responsável pelo caso, Grilinho é cabo do Exército.

“Na operação que prendeu Nem, a polícia encontrou documentos que informam que Grilinho é do Exército”, afirmou a delegada.

Segundo denúncias documentadas na 5ª Delegacia, integrantes da quadrilha circulam pelo Alto do Tanque com pistolas automáticas e escopetas, armas de uso exclusivo da PM e das Forças Armadas.

Bonde
A delegada contou que testemunhas que prestaram depoimento na unidade relataram que os dois carros eram usados pelo bonde, principalmente o Corsa.

“O Stilo fica estacionado em frente à casa e o outro dentro da garagem.

Esse foi bastante citado pelas testemunhas”, revelou.

Joana afirmou que no dia da operação para prender Nem Gorda, no domingo, policiais passaram pela casa do PM e viram os dois carros.

Eles estavam atrás do Fiat Stilo, segundo uma testemunha, usado pelo bonde para assassinar Edvandro Conceição Lima, no dia 1º de maio.

Após Maria Lúcia ser detida, os policiais voltaram ao local, mas notaram que o Corsa não estava mais na garagem.

Conforme publicou o CORREIO na edição de quarta-feira, denúncias documentadas na 5ª Delegacia dão conta de que, no dia 16 de janeiro deste ano, houve uma festa na casa de Nem Gorda, regada a cocaína, sob a proteção das pistolas de policiais militares.

Eles eram os seguranças da festa.

Após a prisão da traficante e o enfraquecimento da quadrilha, moradores do Alto do Tanque estão menos receosos de procurar a delegacia para contar novas histórias de terror protagonizadas por Nem Gorda.

“As testemunhas falam da participação de policiais na quadrilha.

Estamos investigando”, ponderou a delegada Joana Angélica.

Investigação
O secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, confirmou a ligação de policiais com a quadrilha e disse que eles já foram identificados.

Anteontem, Nem Gorda prestou depoimento de oito horas na Corregedoria da Polícia Civil.

Ontem, ela foi conduzida ao Presídio Feminino, no Complexo Penitenciário de Mata Escura.

Em vez de tentar reorganizar a quadrilha, o sucessor da traficante, Grilinho, quer se apresentar à polícia.

A delegada Joana Angélica se encontrou com o advogado dele anteontem e pretende ouvir Grilinho na segunda-feira.

Ela não marcou o depoimento para esta semana  porque quis ouvir a traficante novamente e esperar o resultado do exame de balística realizado no revólver calibre 38 apreendido na casa de Nem Gorda no domingo.

O laudo deve ficar pronto hoje.

  “Após o depoimento, vou pedir a prisão preventiva”, avisou.

A polícia ainda não sabe quem está comandando a quadrilha na ausência de Nem Gorda e seu marido.

Segundo um oficial da PM lotado na 18ª Companhia, em Periperi, que pediu para não ser identificado, o bando de Nem Gorda se escondeu e paralisou as atividades.

“A peça principal caiu e eles estão se reorganizando.

É um silêncio falso.

Eles estão se preparando para o contra-ataque”, afirmou o policial.

Barbosa promete expulsar policiais
O secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, afirmou que já sabe o nome dos policiais civis e militares envolvidos com Nem Gorda.

“É o maior prazer investigar crimes cometidos por policiais e verificar quem realmente está de acordo com a política de segurança pública”, disse.

A declaração foi feita durante a apresentação do Programa Pacto Pela Vida, ontem à tarde, no Baby Beef.

Barbosa não divulgou o nome dos policiais e delegados envolvidos, pois ainda está sendo investigada a participação de cada um.

“Todos os envolvidos com o tráfico e com Nem Gorda serão expulsos”, avisou.

A Superintendência de Inteligência e as corregedorias das polícias Militar e Civil interrogaram a traficante.

“Temos que ter cuidado para ela não nos atrapalhar e falar de bons policiais para encobrir os maus”, concluiu Barbosa.

  

* Fonte: CDB