O medo da traição assombra os relacionamentos monogâmicos.

E a maioria dos casamentos passará por um contratempo do tipo, afirma o psiquiatra Flávio Gikovate.

Para ele, quanto mais longa a relação, maiores as chances da infidelidade se tornar um capítulo na vida conjugal – talvez o último.

Além do tempo de união, alguns traços de personalidade também tornam certos parceiros mais dispostos a trair.

“O que leva o indivíduo a ser infiel é a maturidade emocional e o rigor da formação moral”, explicou Gikovate no lançamento do programa de televisão “Traidores”, que será exibido pelo canal Discovery Home & Health.

Para explicar a infidelidade, Gikovate separa as pessoas em dois tipos: egoístas e generosos.

Cada um deles, quando trai, tem motivações e meios diferentes.

O primeiro grupo é composto por indivíduos que não toleram frustrações, e por conta disso não se arriscam a amar profundamente.

Eles não sabem ser contrariados e cuidam mais dos próprios interesses do que dos outros.

Nesse perfil se encaixam as pessoas sedutoras, descontraídas e que recebem mais atenção do que dão.

“Elas não têm remorso nem culpa”, explica o psiquiatra.

Os famosos cafajestes e as mulheres insinuantes fazem parte dessa categoria que, por falta de freio moral, traem quando querem.

“Os egoístas são de vários tipos: cultos, feios e bonitos”, explica Gikovate.

Por outro lado, os generosos só traem quando têm uma motivação especial.

Reservados e discretos, eles se culpam demais, fazem o estilo bonzinho e seguram o desejo de ficar com outras pessoas pelo receio de magoar.

“Ele pensa, pondera, não consegue mentir.

Ele só vai aprontar se o casamento tiver muito abalado ou se as circunstâncias forem específicas”, define Gikovate.

Nesses casos, é mais comum que o homem ou a mulher busque fora da relação estável uma necessidade não atendida, que pode ser sexo, admiração ou respeito.

Ailton Amélio, psicólogo especialista em relacionamentos e autor do livro “Para viver um grande amor” (Editora Gente), acredita que alguns perfis de pessoas apresentam maior pré-disposição para traição.

São eles os narcisistas, que se acham superiores e ficam irritados quando não são tratados assim; os preguiçosos, negligentes e pouco confiáveis; e os insensíveis aos sentimentos dos outros.

“Os mais liberais em termos políticos e sociais também podem trair mais, porque têm menos freios morais”, completa Amélio.

Por mais que a personalidade dê indícios, rotular ou apontar o dedo para um potencial infiel não é simples assim.

“Essas categorias botam todos no mesmo saco, mas as pessoas têm vidas, experiências e entrosamentos diferentes.

Os livros e análises estatísticas sugerem padrões, mas a média não é o João ou a Joana”, pondera Maria Luiza Macedo de Araújo, psicóloga e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade.

Traição sexual ou sentimental?

Uma noite de sexo é certamente diferente de manter uma relação afetiva em paralelo ao casamento.

Assim, a infidelidade sexual é diferente da sentimental.

Gikovate acredita que a sexual é mais realizada pelos homens, porque neles existe um desejo visual mais intenso.

Já a mulher se excita ao se sentir desejada e nem sempre é motivada pelo corpo do sexo oposto para ter uma relação fora do casamento.

As sedutoras, versão feminina do cafajeste, ficam satisfeitas pela vaidade.

“Mulher com freio moral fraco também apronta.

As imaturas, com as primeiras decepções na relação, já traem”, diz o psiquiatra.

A traição sentimental é quase sempre relacionada com frustrações, quando os casais têm pouco sexo, trocam muitas críticas, e nas ocasiões em que uma das partes se sente rebaixada.

Assim, a escapada ocorre quando o insatisfeito encontra o que deseja fora do casamento.

Para Gikovate, esse caso será mais provável entre os generosos.

E é mais difícil de perdoar.

“Quando há envolvimento emocional é mais complicado.

Essa é a maior causa de muitas separações”, diz Maria Luiza.

Nas mulheres, o mecanismo da traição sentimental também não é o mesmo.

A realização sexual não entra tanto em jogo como a perda da admiração e do encantamento amoroso.

“Ela cresce profissionalmente e começa a achar o marido bobo”, diz Gikovate.

Para Lilian Viveros Hawkinson, 47 anos, jornalista, autora do livro “A Traição Feminina” (Editora Matrix), as mulheres raramente traem só por sexo e, em geral, acabam se envolvendo com o amante.

“Claro que têm mulheres com o perfil de transar por transar, mas o que se vê é aquela que está cansada de ser deixada de lado, que quer ser amada, desejada, se sentir sensual, bonita, inteligente”, avalia.

Se a traição parece tão possível na vida prática dos casais, será que ela pode ser superada? A escapada do compromisso do casamento não resolve problemas nem é fácil de encarar, mas em alguns casos pode reabrir um diálogo, na opinião de Gikovate.

Para Maria Luiza, a traição pode ser a oportunidade de redimensionar a relação, se bem conduzida e superada.

“Mas é difícil.

Nos dias de hoje, costuma dar em divórcio”, diz.

*Fonte: IG