Os camaçarienses não tiveram alternativa durante a greve dos rodoviários a não ser utilizar os serviços clandestinos. Muita gente que precisa chegar aos municípios próximos teve que concordar que o transporte clandestino chegou em boa hora. “Se não fosse isso minha filha ia dormir sozinha em casa hoje”, disse Dona Estelita dos Santos, que veio de Simões Filho para Camaçari de carona e deixou a filha de 13 anos sozinha em casa.

Em toda parte da cidade – onde funciona como parada para ônibus – era possível ver motoristas aproveitando a oportunidade para ganhar um dinheirinho extra. Foi assim com o aposentado em mecânica de refrigeração, Afonso de Oliveira Dias, 68 anos. Ele deixou de jogar dominó com os amigos para fazer um bico: transportar passageiros para as cidades vizinhas. “Tem que aproveitar. Não é todo dia que os rodoviários param e dão essa oportunidade boa a gente. Amanhã eu encontro os amigos e jogo dominó”, disse rindo.

Para quem precisava chegar a outra cidade para trabalhar o prejuízo foi grande. Que o diga a representante comercial Lorena Luz, 29 anos. Ela contou à nossa reportagem que fecharia um negócio que lhe renderia um bom dinheiro, mas não quis revelar o valor. “Era coisa boa. Agora não sei como é que vai ficar, porque eles tinham pressa e acho que devem fechar com outra representante”, lamentou.

A Estação Rodoviária de Camaçari nem parecia o lugar onde pessoas chegam e partem todos os dias. Completamente vazia, o clima era de tranquilidade. A vendedora ambulante Iraci Pereira da Silva, 26 anos, não vendeu quase nada por causa da greve. “Nem uma balinha saiu de dentro do meu cesto ainda. Mas também eu cheguei tem 40 minutos ainda”, contou.

Agerba

Em toda a Região Metropolitana de Salvador (RMS) e outros municípios baianos, a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) autorizou a suspensão de qualquer tipo de fiscalização contra os transportes clandestinos.

Nas principais rodovias que dão acesso aos municípios da RMS, os agentes de fiscalização não estarão realizando o trabalho. Estão incluídas a BA-093, BA-099 e BR-324. A Agerba estima que pelo menos mil veículos esteja fazendo transporte clandestino.

Por Henrique da Mata