Às 6h30 de ontem, já com 30 minutos de atraso, o ferry-boat Pinheiro deixou Salvador rumo à Ilha de Itaparica. Após 40 minutos de viagem, uma pane no leme, dispositivo responsável pela direção, fez com que a embarcação parasse no meio da Baía de Todos os Santos, precisando ser rebocada por outro ferry.

O que a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Transportes (Agerba) classifica como um “incidente”, é descrito de outra forma por quem passou quase uma hora de incerteza no mar. "Sabe o que é pânico?! É o que está acontecendo aqui. Três horas já dentro desse ferry”, disse, por telefone, o engenheiro Jobim Soares, 55 anos.

Espera

A tensão se agravou, segundo os passageiros, por conta da falta de informação depois que a embarcação parou, o que levou um grupo a cobrar explicações. “Eles não executaram nenhum procedimento de segurança. O comandante só deu satisfações no microfone por que cobramos, pessoas passaram mal e não tivemos assistência. A empresa se ausentou de tudo”, contou o passageiro Jorge Fernandes.

Marinheiro, Jorge diz ter percebido algum problema desde a partida. Ele chegou a entrar em contato com a Capitânia dos Portos assim que percebeu que a embarcação teve dificuldade de deixar o terminal de São Joaquim.

“Ele (o comandante) tentou dois lançamentos e teve que voltar de popa (parte de trás). Ficamos 30 minutos dentro do ferry em Salvador. Ficou parecendo que o leme já estava quebrado, mas, mesmo assim, de forma imprudente e com gente pedindo para descer, disseram que não e deu no que deu”, relatou Fernandes.

A Internacional Marítima, empresa responsável pela operação do sistema, negou que o atraso na saída tenha sido por causa de problemas mecânicos, mas não apresentou outra justificativa.

Eduardo Pessôa, diretor-executivo da Agerba, defendeu a operação: “Nenhum comandante sairia se a embarcação estivesse quebrada. O comandante, na hora que percebeu o problema, teve o cuidado de diminuir e não perder a máquina (manter a embarcação ligada)”. A Agerba, entretanto, abrirá um procedimento para apurar o que causou o problema.

Sem parar Segundo Pessôa, é de conhecimento da Agerba que há 30 dias os ferries não passam por manutenção minuciosa. “Vamos investigar, mas não acredito em negligência. O sistema opera sem parar desde o dia 20 de dezembro para atender a população, então não tem havido tempo para uma manutenção grande”, disse o diretor.

Pessôa afirmou ainda que foi solicitado à Internacional que realizasse serviços pontuais de manutenção à noite. O último reparo no Pinheiro foi na semana passada, segundo a Internacional Marítima.

Com capacidade para 800 pessoas e 50 veículos, o Pinheiro foi adquirido na década de 1980. Na viagem em que ocorreu o defeito, havia 427 passageiros a bordo. “É um incidente desagradável, são embarcações antigas. O problema foi em uma das bombas que dá controle ao leme, que só estava respondendo a bombordo (à esquerda)”, explicou Eduardo Pessôa.

Reboque

O reboque do Pinheiro foi feito por outro ferry, o Juracy Magalhães, que também estava com passageiros. Tecnicamente, não se pode dizer que o Pinheiro ficou à deriva porque não se perdeu o controle da embarcação.

Questionado sobre a prudência do uso de um ferry com passageiros para reboque, Eduardo Pessôa disse que não é obrigatório ter uma embarcação só para esse fim. “As pessoas já estavam embarcando (no Juracy). Diminuímos a quantidade e antecipamos a saída para resolver logo. Não que isso seja um procedimento normal, mas foi feita de forma ordeira, com o pessoal da manutenção e da segurança. Não houve risco”.

Durante o dia de ontem, os ferries Anna Nery, Ivete Sangalo e Juracy Magalhães ficaram em operação – o Agenor Gordilho estava em manutenção. Até as 19h, o Pinheiro não tinha voltado a operar. Sem dar um prazo, a Internacional informou que ele volta “o mais rapidamente possível”.

Ferries: dois novos previstos para fevereiro

Falhas como a que atingiu o ferry Pinheiro, ontem, têm relação, em boa parte, com a idade das embarcações, de acordo com a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Transportes da Bahia (Agerba).

O governo promete que, durante o mês de fevereiro, dois novos ferries chegarão para a travessia da Baía de Todos os Santos. As duas embarcações foram compradas na Grécia. Uma tem capacidade para 212 e outra para 168. Além disso, a capacidade de transporte de passageiros deve aumentar em 75%. “Nosso esforço é que, beirando o Carnaval, essas embarcações já estejam operando”, afirma o diretor da Agerba, Eduardo Pessôa.

Além disso, no dia 19 de fevereiro, será definida a empresa ou o consórcio que vai operar o sistema ferry-boat. O edital de licitação foi publicado no dia 8 de janeiro. A Internacional Marítima opera o sistema através de um contrato emergencial. As informações são do Correio.