Enxergar oportunidades em meio à crise. Com esta visão, alguns setores da economia baiana estão conseguindo crescer em 2015, na contramão das queixas generalizadas de estagnação nos negócios. O ramo de estética e demais serviços prestados diretamente às famílias, incluindo vendas diretas em bazar, destaca-se, no estado, com alta de 10,1% no faturamento, acima da inflação, já na casa dos 9%.

No setor comercial, onde a frustração é geral, as vendas de artigos de uso pessoal e doméstico, incluindo os cosméticos, são uma exceção, registrando crescimento
de 9,5%.

Na indústria, a produção de couros, malas e calçados aumentou, ainda que abaixo da inflação (4,2%), assim como o ramo de papel e celulose (3,8%) – este último muito por conta da competitividade gerada nas exportações, com a alta do dólar. No interior, a venda de grãos vive um momento excepcional, com alta esperada de 17% e geração de emprego.

Longe dos prejuízos

O crescimento de determinados setores baianos, em meio à crise, foi constatado em análise feita pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), com base nas pesquisas mais recentes, divulgadas em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento considera o desempenho entre janeiro a maio deste ano, na comparação com o mesmo período em 2014.

No Polo Industrial de Camaçari e adjacências, onde a indústria petroquímica registrou queda de 4,5% no período avaliado pela SEI, as empresas exportadoras têm conseguido superar a crise, a exemplo da Dow Brasil, em Aratu, que espera ter, justamente agora em 2015, o melhor desempenho da história da companhia, há 40 anos no estado. A empresa vende insumos químicos para espumas, fibras e fragâncias.
Na Paranapanema, em Dias D’Ávila que vende cobre para vergalhões e ligas, as vendas para o mercado externo aumentaram 101% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.

Já o setor automotivo baiano (leia-se Ford e empresas sistemistas) também teve crescimento no período: de 19%., “mas é mais uma tendência de recuperação , diante da queda de 25% registrada no mesmo período em 2014”, explica o coordenador de Acompanhamento Conjuntural da SEI, Luiz Mário Vieira.

Sem crescer, mas pelo menos mantendo as vendas estáveis, estão as lojas de departamentos, “sobretudo as que ofertam miudezas e quinquilharias”, como frisa Vieira. No varejo, o segmento de supermercados, hipermercados e produtos alimentícios não tem vivido os melhores dias, mas também não tem tido maiores perdas: “O crescimento de 0,3% revela agora uma boa estabilização, isto porque a população já chegou ao limite dos cortes previstos”.

Na conta da beleza
Sobre o bom desempenho do setor de estética e cosméticos, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Consultores do Ramo de Beleza do Estado da Bahia (Sincobe), Dadi Damasceno, justifica: “O que aconteceu foi que, com a crise, as pessoas passaram a optar mais pelo “faça você mesmo”, deslanchando a atividade dos profissionais do setor, sobretudo os que trabalham com demonstração.

É o caso de Jeane Santos, que vende produtos de maquiagem e tratamento de pele, em sessões agendadas na residência de clientes, em Salvador. “Ensino como a pessoa deve usar o produto, com oferta de itens de alta qualidade, numa ótima relação custo/benefício”, diz. Secretária executiva, ela passou a atuar no ramo da beleza agora em 2015, contribuindo para um aumento de 20% na renda familiar. “Não tem segredo: nada melhor do que cuidar da autoestima, quando se está enfrentando dificuldades na vida”, conclui Dadi Damasceno, do Sincobe.
*A Tarde.