De acordo com uma atualização no relatório que aponta dados sobre o andamento das pesquisas em relação a vacina contra o novo coronavírus (Covid-19), até a terça-feira (2), estão em desenvolvimento pelo menos 133 candidatas, sendo que dez delas estão na fase clínica, o que siginifica dizer que, já estão sendo testadas em humanos. A informação foi publicado no site da Organização Mundial de Saúde (OMS).

No entanto, embora os estudos avancem em escala mundial, alguns especialistas acreditam que a imunização contra a Covid-19 não estará disponível em 2020. Projeções positivas estimam um prazo de 12 a 18 meses, que, inclusive, seria considerado um recorde na história da ciência. A vacina mais rápida já criada, até agora, foi a da caxumba; ela levou pelo menos quatro anos para ficar pronta.

O relatório mostra ainda que outra hipótese, contra a qual todos os pesquisadores lutam, é a de que uma vacina efetiva e segura nunca seja encontrada. O vírus do HIV, por exemplo, que causa a Aids, é conhecido há cerca de 30 anos, mas suas constantes mutações nunca permitiram uma vacina.

O médico infectologista do HC-FMUSP, Álvaro Furtado Costa, destaca “Está todo mundo muito otimista, mas estudo de vacina é algo muito complicado. A maioria deles para na fase 3, de testes clínicos, pelos problemas que aparecem. É importante discutir essa possibilidade (de não se ter uma vacina)”, opina.

O imunologista que lidera um estudo na USP, Gustavo Cabral, concorda com a análise de Álvaro. Para ele, “a vacina é o melhor caminho profilático [preventivo], mas não é o único caminho, há também os tratamentos. Para o HIV não há vacina e as pessoas que têm o vírus podem ter uma vida normal. Sabemos que aproximadamente 80% das pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 não desenvolvem a Covid-19 ou têm sintomas leves. O problema são os outros 20% e o risco de fatalidade, hoje de 6%. Mas há centenas de estudos sobre medicamentos neste momento”.

Procedimento

Para encontrar uma vacina efetiva, os pesquisadores precisam percorrer diversas etapas. Primeiro, existe uma fase exploratória, com pesquisa e identificação de moléculas promissoras, conhecidas como antígenos. O segundo passo consiste na fase pré-clínica, em que ocorre a validação da vacina em organismos vivos, usando animais, os ratos, por exemplo.

A partir daí, é chegada à fase clínica, em humanos, que é dividida em três momentos:

-Fase 1: avaliação preliminar com poucos voluntários adultos monitorados de perto;

-Fase 2: testes em centenas de participantes que indicam informações sobre doses e horários que serão usados na fase 3. Pacientes são escolhidos de forma randomizada (aleatória) e são bem controlados;

-Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da eficácia/segurança e prever eventos adversos; só então há um registro sanitário

Das dez vacinas em testes em fase clínica, algumas aparecem em estágio mais avançado, como a desenvolvida pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, que vai iniciar testes na 3 e que imunizará mais de 10.260 voluntários no Reino Unido.

Essa vacina é produzida a partir de um vírus (ChAdOx1), que é uma versão enfraquecida de um adenovírus que causa resfriado em chimpanzés. A esse imunizante foi adicionado material genético usado para produzir a a proteína spike do SARS-Cov-2 (que ele usa para invadir as células), induzindo a criação de anticorpos.

Brasil

No Brasil, duas pesquisas aparecem na fase pré-clínica no relatório divulgado pela OMS. Um dos projetos é liderado por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pelo Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor). A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Foto: Reprodução / Arquivo pessoal

O pesquisador responsável pelo estudo, Gustavo Cabral, é imunologista pela USP e pós-doutor pela Universidade Oxford e na Universidade de Berna, na Suíça. Seu grupo trabalha com plataforma de vacina baseada em partículas semelhantes ao vírus (VLP, em inglês). Já há testes com animais.

“Quando um vírus entra nosso corpo, o sistema imunológico ataca. Não queremos utilizar o vírus, queremos usar partículas semelhantes ao vírus. Fizemos com chikungunya, Streptococcus e agora Covid-19. Essas partículas são apenas uma base que estimula o sistema imunológico. Nele, a gente coloca alguns pedaços do coronavírus, fragmentos proteicos ou proteína inteira, dando estímulo ao sistema imunológico para produzir anticorpo”, explica.

A outra vacina, que também em fase pré-clínica, é realizada pelo INCTV (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas), que tem base técnica elaborada pelo Grupo de Imunologia de Doenças Virais da Fundação Oswaldo Cruz-MG.

“Nossa técnica consiste em usar o vírus da influenza como vetor vacinal. Como se trata de um vírus defectivo para a multiplicação, ele não causa a doença, mas gera produção de anticorpos. Com esse processo, uma das possibilidades é desenvolver uma vacina bivalente, que possa ser usada contra influenza e contra o coronavírus”, destaca o pesquisador Ricardo Gazzinelli (líder do Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e coordenador do INCTV).

Alguns especialistas frisam que as vacinas demoram, em média, dez anos para ficarem disponíveis ao público, após o início dos estudos.

Tratamentos

Enquanto a vacina contra a Covid-19 não é efetivada, a busca é por medicações que possam diminuir a taxa de mortalidade da doençae, assim, tentar recuperar os pacientes infectados.

O ensaio clínico iternacional Solidarity, da OMS, é desenvolvido também no Brasil, por meio da Fiocruz, e acontece em 18 hospitais e 12 estados, com pesquisa de diferentes medicações.

Ainda conforme informa o relatório, medicamentos usados para outros tratamentos podem ser adequados para combater o novo coronavírus. No entanto, a adaptação também exige muita pesquisa e precisa ter erros minimizados.

Hoje, as pesquisas são, por exemplo, com antivirais, a exemplo do remdesivir (utilizado inicialmente para tratar ebola e hepatite C, e testado em Reino Unido, EUA e Japão).

“Existem muitos estudos acontecendo com drogas na entrada do vírus, mas todos estudos ainda iniciais. Por enquanto não há nenhuma droga que resolva 100%”, alerta Álvaro Furtado Costa.

A hidroxicloroquina segue liberada pelo Ministério da Saúde brasileiro para o tratamento de pacientes no estágio inicial da Covid-19, embora tenha tido testes interrompidos pela OMS, já que apresenta efeitos colaterais graves, como maior chance de parada cardíaca. Ademais, até o momento, não há estudos que atestem sua eficácia contra a Covid-19.

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