De acordo com informações da Agência Brasil, no Brasil, em 2016, foram mais de 35 mil tratamentos clínicos no Sistema Único de Saúde (SUS), em decorrência de Trombose. A doença é caracterizada pela coagulação do sangue, e pode levar a várias complicações de saúde e até a morte. Entre janeiro e julho deste ano, foram quase 17 mil, segundo o Ministério da Saúde.

Não muito conhecida, a trombose é mais comum do que parece e pode atingir várias partes do corpo, não apenas os braços e pernas. Se o coágulo não for combatido pode levar a falência de um órgão.

Segundo o hematologista e membro do Comitê de Falências Medulares da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Philip Scheinberg, são diversos os fatores que podem levar à Trombose, como sedentarismo, obesidade e tabagismo, e no caso das mulheres, a pílula anticoncepcional pode aumentar a coagulação do sangue.

Para evitar a doença, é bom manter alguns hábitos, como praticar exercícios físicos regularmente, evitar fumar e consumir álcool em exagero, e manter uma dieta equilibrada.

Mitos e verdades

Cigarro e anticoncepcional causam trombose? Idosos não podem fazer viagens longas? São muitas as dúvidas que cercam a doença. A Agência Brasil questionou o médico Gutemberg Gurgel para esclarecer algumas delas.

Anticoncepcional e cigarro

Apontada como grande fator de risco para a ocorrência de trombose entre as mulheres, a combinação de cigarro e pílula, de fato, pode favorecer a ocorrência da doença. Isso porque o cigarro é um vasodilatador, ao passo que o hormônio provoca alterações nas paredes das veias, diminuindo a velocidade da circulação. O resultado não é necessariamente o trombo, mas pode ocorrer, especialmente, se associado a outros fatores de risco, como obesidade, tendência familiar e vida sedentária. Por isso, o médico alerta sobre o uso precoce de anticoncepcionais, que têm sido indicados para tratamento de pele de adolescentes, por exemplo, e recomenda evitar o tabagismo.

Gravidez

Mulheres grávidas também devem ficar atentas. A maior quantidade de hormônios femininos circulando no corpo pode desencadear aumento da coagulação. Além disso, o médico explica que o aumento do útero promove a contração dos vasos pélvicos, dificultando o retorno do sangue. Mais uma vez, os casos são mais recorrentes em pacientes que possuem tendência à coagulação.

Como forma de prevenir problemas, além do uso de meias de compressão, Gurgel destaca a importância da prática de atividades físicas especialmente no caso das mulheres grávidas e também de pessoas que vão passar períodos longos com dificuldades de se movimentar, o que ocorre, por exemplo, durante viagens. “É importante usar as meias e buscar caminhar um pouco, pelo menos, a cada duas horas”, explica. Contrair o músculo da panturrilha e colocar o pé no chão também podem ajudar. Em todos os casos, destaca: é preciso tomar água e evitar a desidratação, sobretudo em ambientes fechados e refrigerados por ar-condicionado.

Cirurgias

Em cirurgias e no pós-operatório, o médico explica que há protocolos sobre o uso prévio ou posterior de medicação específica. A situação é delicada, pois envolve risco de hemorragia. Mas, segundo ele, novos medicamentos têm sido desenvolvidos para facilitar o uso, inclusive por via oral, sem necessidade de injeção, o que garante maior segurança ao diminuir o risco de sangramento.

Diagnóstico e tratamento

Gutemberg Gurgel alerta que a TVP é, em geral, assintomática, o que dificulta o diagnóstico. Para evitar surpresas, ele indica que pessoas afetadas pelos fatores de risco busquem pesquisar a situação da circulação sanguínea do corpo, pois a presença de alguma anormalidade genética pode ser decisiva. Outra sugestão é atentar para o aparecimento de edemas, sobretudo quando surgem sem serem precedidos por pancadas e acompanhados por dor ao caminhar.

O jornalista Daniel Fonsêca, 34 anos, sofreu trombose após passar alguns dias imobilizado em um hospital, em decorrência de um trauma. Os primeiros sintomas foram dores fortes, que foram inicialmente identificadas como resultado de alguma distensão muscular. A permanência o levou a realizar o exame ecodoppler, que permite a análise do sistema venoso. Foram constatadas, então, não apenas a existência de trombo, mas até o risco iminente da perda das duas pernas. Submetido à medicação anticoagulante logo após o diagnóstico, escapou de ter sequelas graves, mas passou meses tomando remédios e com dificuldades para dirigir ou até caminhar devido às dores.

Superada a fase mais difícil, foi preciso mudar hábitos e adotar medidas preventivas. Como o anticoagulante gera riscos de hemorragias, após o trauma passou a ampliar o cuidado para evitar acidentes, como andar de bicicleta ou utilizar instrumento cortantes. Meia hora antes de viagens com pelo menos três horas de duração, injetava medicação intravenosa no ambulatório do próprio aeroporto.

Além disso, passou a utilizar meias elásticas de alta compressão. À época, Daniel tinha 23 anos e não escapou do preconceito.“Muitas vezes eu relativizei e negligenciei o uso das meias por causa da questão estética. Passava dois, três meses sem usar por conta do preconceito que existe, ainda mais quando se é jovem”, conta.

As meias são fundamentais para tratar ou prevenir problemas circulatórios em geral, mas a dificuldade para ampliar o uso delas não é só estética. O par, segundo o jornalista, custa entre R$ 160 e R$ 200 e dura apenas seis meses. “Isso é muito relevante, porque grande parte das pessoas que sofrem trombose nos membros inferiores são da população pobre. Gente que trabalha muito em pé ou sentado e não tem chance de prevenção”, como motoristas de ônibus, lavadeiras ou vendedores, alerta.

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