Dona Ronsangela Silva, que vive em Salvador, carrega consigo uma dor constante, uma ferida que segue aberta desde maio de 2017. Foi naquele mês que ela precisou ir ao enterro de alguém que via não só como um familiar, mas também como um parceiro de todas as horas: seu filho, Thadeu Nascimento.
O vendedor foi retirado do apartamento onde vivia, na Fazenda Grande II, e brutalmente assassinado a tiros. As autoridades localizaram o corpo da vítima no dia 5, em São Cristóvão. A dor de sua mãe se torna ainda maior quando constata o descaso com o qual o crime foi tratado.
“Thadeu era um menino sonhador, batalhador, trabalhador e militante do movimento LGBT. Nossa relação era a melhor possível. Nos respeitávamos e eu o ajudava a enfrentar os preconceitos”, Rosangela relembra, frustrada porque tantos sonhos foram interrompidos. O rapaz queria concluir o curso superior de Educação Física e planejava retificar seu nome nos documentos, já que era um homem transgênero. No entanto, acabou impedido pela violência que já tomava Salvador naquela época.
Ele teria sido morto pelo tráfico de drogas após criminosos do bairro onde vivia suspeitarem de que a vítima estaria fazendo denúncias à polícia. A desconfiança dos criminosos aumentou porque Thadeu costumava falar ao telefone na varanda de casa.
A mãe diz que a maioria das chamadas era para ela, já que os dois eram confidentes e conversavam por horas. As ligações aconteciam do lado de fora porque dentro do apartamento não havia sinal.
“Meu companheiro de risos e de choros foi embora tão cedo, simplesmente porque acreditaram em algo que ele não fez”, Rosangela afirma com certeza do que diz.
Antes de ser assassinado, o jovem comentou com a família que estava percebendo movimentos estranhos no prédio, além de achar que alguém estava mexendo na porta de sua casa. Ele também disse ter sido intimidado por um grupo de homens.
Sua morte foi investigada pelas autoridades e, segundo informa a Polícia Civil, o inquérito acabou encaminhado ao Ministério Público em dezembro de 2017. Foram indiciados cinco suspeitos e decretadas suas prisões preventivas pelo 1º juízo da 2ª vara do tribunal do júri. No entanto, não se tem notícia sobre julgamento e condenação dos responsáveis pelo homicídio.
“É como eu digo todos os dias: eu estou viva porque meu coração bate, porque eu ando, porque eu respiro, mas sinto como se tivesse sido enterrada naquele caixão com ele. O pior é que eu vejo como a Justiça não está nem aí”, Ronsangela Silva lamenta.
“Ninguém me dá notícias sobre o processo. Eu pergunto e não tenho direito de saber, aí eu fico louca, porque eu vejo todo dia na televisão mais um jovem morrendo e nada sendo feito”, a mãe conclui.
Nos momentos de desespero ela se apega às lembranças deixadas pelo filho, como a última publicação que o rapaz fez nas redes sociais. “Tô aqui te enviando energias positivas. Seu filhão te ama muito”, Thadeu Nascimento escreveu para Rosangela quatro dias antes da tragédia.
O Bahia No Ar questionou o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) sobre o andamento do processo, mas acabou tendo contato com o mesmo silêncio com o qual Rosangela lida há anos. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) também não se manifestou sobre a questão até a publicação desta matéria.
Oa governantes não se importa porque não anda de guarda Costa e os pobres só serve pra eles na época da eleição