Em geral, um caixão é acompanhado de tristeza e lágrimas. Mas não neste domingo. Não na Arena Fonte Nova.
Não para a torcida do Bahia. Pintados de vermelho, verde e branco, feitos de madeira, papelão ou isopor, de todos os tamanhos e formas, os caixões se multiplicavam na arquibancada do estádio baiano acompanhados por largos sorrisos. O torcedor do Esquadrão, com derrota em campo, resolveu fazer do luto alheio uma festa. O Fluminense, após definhar durante todo o Campeonato Brasileiro, deu o último suspiro de 2013: apesar de ter vencido o Bahia de virada por 2 a 1, acabou rebaixado para a Segunda Divisão e se tornou o primeiro campeão brasileiro a cair no ano seguinte ao título.
Os gritos de provocação da torcida do Bahia começaram ainda do lado de fora do estádio. Um torcedor com um caixão parava, contava uma piada e logo se juntava a outros dez, vinte, todos rindo da tragédia do rival carioca. A reação que era de dezenas se transformou na de milhares quando o time do Fluminense entrou em campo. Assim que o primeiro jogador do clube carioca saiu do túnel que liga o gramado ao vestiário, o estádio ressoou um coro que mais parecia rasgar a garganta e atingir direto os atletas das Laranjeiras.
– Ão, ão, ão, Segunda Divisão! – entoaram em uníssono os torcedores do Bahia, certos que a queda do Fluminense para a Série B era apenas questão de tempo.
Empolgado, o assistente de estoque Edmundo Oliveira, de 23 anos, ostentava com orgulho o caixão de papelão feito minutos antes do jogo. A peça, confeccionada com ajuda do primo João Pedro, de 12 anos, fez sucesso na Fonte Nova.
– Todo mundo aqui sabe que o Fluminense vai cair. Fiz esse caixão na correria, trinta minutos antes de vir para a Fonte Nova. Hoje é Segunda Divisão para o Flu na certa – disse Edmundo pouco antes de a bola rolar, enquanto posava para fotos com vários torcedores.
O escárnio ganhou força quando o árbitro iniciou a partida. Cada troca de passes do time do Bahia era motivo de festa. Qualquer erro do Fluminense também. O gol de Wiliam Barbio, no primeiro tempo, só serviu para agitar ainda mais as arquibancadas. Nem mesmo o erro de Talisca ao puxar um perigoso contra-ataque tirou do torcedor do Bahia o sorriso no rosto. Era dia de velório na Fonte Nova, só que a compaixão pelo falecido tinha ficado do lado de fora.
– Caia, Fluminense! E não esqueça que o Bahia foi quem fechou seu caixão – berrava um torcedor do Tricolor baiano enquanto a bola ainda rolava.
No intervalo, o simples anúncio de que o Fluminense estava na zona de rebaixamento provocava aplausos. O time carioca só saiu de foco quando o placar anunciou que o Vitória vencia o Atlético-MG. As vaias inicialmente destinadas ao Tricolor das Laranjeiras foram direcionadas para o Rubro-Negro baiano. Coisas da rivalidade.
Quando a bola voltou a rolar, o comportamento se manteve inalterado. Posse do Bahia era sinal de algazarra. Posse do Fluminense significava uma chuva de vaias, gritos de Segunda Divisão e até coisa pior. Nem mesmo o gol de empate marcado por Wagner, no segundo tempo, mudou o cenário. O dia na Fonte Nova era exclusivo para gracejar o desespero do rival, que lutava com todas as forças para escapar da degola.
Nas arquibancadas, os caixões eram balançados de um lado para outro. Alguns arriscavam músicas improvisadas: tudo para tornar a queda do rival ainda mais dramática.
– Chora, Fluminense! Fluminense chora! Pague a Série B sem reclamar e vá embora – cantou um torcedor, lembrando que o Tricolor das Laranjeiras subiu da Série C direto para a elite do futebol nacional em 2000.
O gol da virada marcado por Samuel abalou um pouco o ânimo da torcida baiana. Durante vários minutos, os torcedores do Esquadrão presentes na Arena Fonte Nova vaiaram o time do Bahia. Mas tudo acabou quando a partida chegou ao final: mesmo com derrota, a arquibancada era pura satisfação. Todos se deram conta de que, apesar do resultado desfavorável, o Fluminense ainda não conseguia escapar do rebaixamento. Apesar de não ser o ideal, o placar foi relegado ao segundo plano. Afinal, os caixões continuavam em todos os lugares. E em nenhum deles estava escrito 'Bahia'.
As informações são do G1.