Em entrevista à revista Wired, o diretor do departamento de radiologia no hospital, Haibo Xu, contou que um dos experimentos que estão em andamento é o uso de um algoritmo para detectar sinais visuais de pneumonia associada ao Covid-19 em imagens de tomografia computadorizada. Com essa detecção é possível direcionar os esforços das equipes sobrecarregadas para pacientes com maior probabilidade da doença.

O software pode identificar sinais típicos da pneumonia do Covid-19, porém o diagnóstico de pneumonia não é suficiente para comprovar a infecção pelo coronavírus.  Porém, em conjunto com a triagem permite que os pacientes sejam isolados e encaminhados para testes adicionais, acelerando o início do tratamento.

O algoritmo foi desenvolvido pela start-up Infervision, que desenvolve ferramentas para o diagnóstico de imagem assistido para múltiplas áreas do corpo, incluindo, mas não se limitando, ao cérebro, aos pulmões ao esqueleto e aos ossos. Originalmente, a empresa desenvolvia softwares para a detecção de câncer, mas ampliou o escopo para outras doenças, incluindo males respiratórios, como pneumonia e tuberculose.

Fundada em 2015, a Infervision já recebeu 482,5 milhões de yuans, cerca de US$ 70 milhões em investimentos (R$ 307.300.000), segundo o site CB Insights, sendo o maior investidor o fundo Sequoia Capital, conhecido por ter apostado em empresas que se tornaram gigantes da tecnologia, como Apple e Google.

Com leis relativamente brandas em relação à privacidade, empresas como a Infervision têm à disposição imensos bancos de dados para o treinamento de algoritmos. No caso, a Infervision usou centenas de milhares de imagens radiológicas dos principais hospitais chineses.

A ferramenta já estava em uso no Hospital Zhongnan, assim como em outros hospitais chineses e clínicas na Europa e nos EUA. Segundo o diretor executivo da Infervision, Kuan Chen, o software detectou que havia algo de errado quando seus clientes mudaram repentinamente o padrão, logo após os primeiros alertas do surgimento da doença. O uso da função para detecção de pneumonia, antes pouco utilizada, disparou.

Mais de 2 mil imagens

Imediatamente os funcionários da start-up baseada em Pequim começaram a trabalhar no diagnóstico de pneumonia relacionada ao Covid-19. Sem folga durante as festividades do ano novo lunar, eles receberam imagens da doença recém-descoberta do Hospital Wuhan Tongji, um dos primeiros a receber pacientes com a nova infecção. A versão atual já foi treinada com mais de 2 mil imagens de pacientes com o coronavírus.

O diagnóstico definitivo requer a detecção do vírus causador, o SARS-CoV-2, em fluidos corporais, mas a testagem leva tempo, ainda mais com os laboratórios sobrecarregados pela epidemia. Por esse motivo, o governo chinês recomenda o uso de imagens de tomografia computadorizada como um dos indicadores da doença.

Este é apenas um dos mais de 230 estudos clínicos em andamento sobre o novo vírus na China. O desenvolvimento e a testagem clínica de novos softwares e tratamentos em semanas não é o cenário ideal. Normalmente esse processo leva anos, mas a situação emergencial, com avanço da doença para outros países, inclusive para o Brasil, exige celeridade. Ainda não existe vacina para o vírus, nem tratamento específico para os sintomas. A ferramenta da Infervision, eventualmente, exigirá aprovação formal do governo, mas agora a prioridade é ajudar médicos e pacientes.

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