Peixes de variados tamanhos e espécies têm aparecido mortos, nos últimos dez dias, no litoral da praia de Aratuba, na Ilha de Itaparica (Grande Salvador). Aproveitando a facilidade do pescado fácil, moradores da localidade têm usado os animais para vendê-los e, até mesmo, se alimentar.
"Oxe, eu vou é comer!", respondeu logo o garoto Marcone, de apenas 8 anos, após pegar com as mãos um "barbeiro azul", na tarde de quarta-feira, 5. A brincadeira comum para as crianças virou motivo de preocupação para os pescadores locais, que estão intrigados com a procedência dos peixes.
Barbeiros, badejos, ciobas, vermelhos-dentões, cambubas, rubalos, garoupas, frades, galos, porcos e pampos são apenas algumas das espécies contabilizadas pelo presidente da Associação de Pescadores de Aratuba, Antônio de Brito, 54 anos, conhecido como Cotia.
Durante uma caminhada em um trecho de cerca de dois quilômetros na costa de Aratuba, a equipe de reportagem contabilizou, espalhados pela areia da praia e dentro do mar, pelo menos, 50 peixes, entre mortos e ofegantes. Mas o número é bem maior, conforme o pescador.
"As pessoas acordam cedo para catar na praia. Eu tenho dito para não comer nem vender esses peixes", aconselhou o pescador nativo de Aratuba, antes de completar: "Minha preocupação toda é que a gente não sabe o que têm provocado a morte desses peixes".
Conforme avaliou o pescador, a maioria das espécies afetadas pelo fenômeno, até então, desconhecido, é formada por peixes comuns em alto-mar, nas águas mais profundas. "O que me estranha é que são peixes de pedra, que habitam tocas. Não são do litoral", afirma.
Cheiro forte de carne apodrecida
A aparição dos peixes mortos têm chamado a atenção dos urubus que, atraídos pelo cheiro forte de carne apodrecida, devoraram um badejo de cerca de 20 kg, deixando apenas a carcaça do animal moribundo jazendo na praia.
"Nem todos aparecem mortos. Algo está acontecendo com os peixes, que está impendido eles de nadar, de ficar debaixo d'água. Por isso, eles boiam", observou o pescador Renato Ferreira, 27 anos, cujo pai pegou um pampo com cerca de oito quilos. "São peixes nobres", acrescentou.
A resposta para o mistério que envolve a mortandade dos animais pode estar ali mesmo, na praia, em um local conhecido como Ponta de Aratuba, onde Cotia encontrou uma espessa crosta de um material de coloração esverdeada, inodora, sobre a água e encrustada na laje de pedra.
"Nesse tempo todo que eu moro e pesco por aqui, nunca vi essa mancha estranha na água", garante o presidente da associação, que aproveitou para coletar uma amostra do material com uma pequena garrafa de água mineral. As informações são do A Tarde.