Um cinegrafista da Band foi ferido na cabeça durante uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus na Central do Brasil, nesta quinta-feira (6). Santiago Ilídio Andrade foi levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, onde passou por cirurgia. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a cirurgia terminou pouco depois da meia noite e a hemorragia havia sido controlada. O estado de saúde de Santiago permanecia grave.

Foto: Globo.Cinegrafista da Band é atingido em protesto no Rio

O cinegrafista foi atingido por estilhaços de uma bomba, mas até o fim da noite não havia confirmação de quem arremessou o explosivo. De acordo com a assessoria da PM, o comandante do 5º BPM (Praça Harmonia) Luis Henrique Marinho, disse que estava a 30 metros do local onde o cinegrafista foi atingido e afirmou ter visto pessoas vestidas de preto lançarem morteiros.

Por meio de nota, o Grupo Bandeirantes lamentou o ocorrido e informou que aguardava no hospital, juntamente com a família do funcionário, os resultados da cirurgia.

O caso foi registrado na 5ª DP (Gomes Freire). Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que repudiou o ocorrido, 117 jornalistas foram feridos durante a cobertura de protestos desde 2013.

Detidos e feridos

Ainda de acordo com a SMS, outras seis pessoas deram entrada no Souza Aguiar com ferimentos diversos. Até as 23h30, as identificações e estados de saúde das vítimas não haviam sido divulgados.

Um microônibus da Polícia Militar foi para 19ª DP (Tijuca) com pelo menos 15 manifestantes. Até as 23h, não havia confirmação do número exato de detidos. Advogados do grupo Habeas Corpus foram para delegacia para prestar auxílio jurídico aos ativistas. Parentes dos detidos também foram para a unidade policial acompanhar a situação.

Início pacífico

Mais uma vez o Rio viu uma manifestação popular terminar de forma violenta. O ato de protesto contra o aumento na tarifa dos ônibus, que começou pacífico na Candelária, terminou em confronto na Central do Brasil. A dois dias de entrar em vigor a nova tarifa dos ônibus municipais no Rio, de R$ 3, centenas de pessoas se reuniram para repudiar o reajuste.

Usuários do transporte público que não participavam do protesto sofreram os efeitos do gás lacrimogêneo e spray de pimenta. O confronto teve início no horário de volta para a casa de quem trabalha no Centro, com a Central do Brasil lotada. Houve muita correria. Jornalistas que realizavam a cobertura da manifestação chegaram a ser agredidos. Usuários reclamaram da truculência da Polícia Militar dentro do prédio em pleno horário de maior movimento.

O objetivo dos manifestantes era promover outro “catracaço”, como o ocorrido em 30 de janeiro, um dia após o anúncio do aumento na tarifa dos ônibus. Desta vez, no entanto, a PM reprimiu o ato. "Foi uma surpresa. A gente não esperava que eles iriam arremessar bomba aqui dentro. Os próprios funcionários da SuperVia saíram batendo nos usuários num corpo a corpo absurdo", disse a psicóloga Sandra Batista.

Foto: Globo.Manifestantes e policiais se enfrentam em estação do metrô do Rio após protesto contra aumento de tarifa

Durante a ofensiva policial, ativistas quebraram ao menos dez catracas. O ar dentro da Central ficou irrespirável. Os policias lançaram inúmeras bombas e dispararam spray de pimenta indiscriminadamente, atingindo mulheres, idosos e até crianças.

Enquanto isso, do lado de fora, um intenso confronto se formou. Todas as entradas da Central foram fechadas pela PM, que lançava bombas de efeito moral para impedir que os manifestantes se aproximassem do prédio. Pedras foram usadas pelos ativistas para revidar o ataque policial.

Estações fechadas

O Metrô Rio informou que, devido à manifestação, os acessos Campo de Santana e Ministério do Exército da Estação Central precisaram ser fechados às 19h30. A SuperVia também fechou acessos da estação Central do Brasil.

Início pacífico

O encontro teve início na Praça da Candelária, por volta das 17h, onde centenas de manifestantes começaram a se concentrar. Com faixas e cartazes, eles criticavam o aumento da passagem de R$ 2,75 para R$ 3, que entra em vigor no sábado (8), reclamavam as péssimas condições do transporte público e defendiam a estatização do sistema de transporte, com consequente estabelecimento da tarifa zero.

Às 18h20 o grupo deixou a praça e seguiu em passeata até a Central do Brasil, interditando as pistas lateral e central da Avenida Presidente Vargas no sentido Zona Norte. “Não vai ter Copa e nem aumento” era a principal palavra de ordem. À frente do grupo seguiam jovens mascarados e trajando roupas pretas. Todo o percurso foi acompanhado por policiais militares.

Tarifa zero

Mais do que protestar contra o aumento do valor das passagens, os manifestantes dizem lutar pela tarifa zero no transporte público da cidade. Eles denunciam precárias condições de ônibus, metrô, trens e barcas. Além disso, reclamam da falta de investimento do poder publico em obras de mobilidade, o que torna lento o deslocamento de casa para o trabalho.

O discurso dos ativistas procura também denunciar suposto favorecimento das concessionárias que operam o sistema de transporte, alegando ser obscura a relação das empresas com a máquina estatal e que seria obrigação do Estado gerir e subsidiar o transporte público.

No dia 30 de janeiro, outra manifestação contra o aumento das passagens promoveu um pulo coletivo de catracas da Central do Brasil. Centenas de passageiros acabaram também passando pelas roletas sem pagar, estimulados pelos ativistas.

Foto: Globo.Policiais caminham em meio ao pé de extintores de incêndio depois que o fogo em uma barricada de pneus foi apagado no Centro do Rio

O valor da passagem de ônibus vai aumentar 9,09%, como divulgado no dia 29. O anúncio foi feito um dia após o Tribunal de Contas do Município (TCM) votar o relatório sobre o serviço prestado pelas empresas de ônibus no Rio. O TCM informou que não tem competência para decidir se pode ou não haver reajuste no preço das passagens de ônibus e deixou a cargo da Prefeitura a decisão sobre o reajuste.

O decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes que estabelece o reajuste da tarifa determina uma série de adequações que deverão ser tomadas pela Secretaria Municipal de Transportes para fiscalizar o Serviço Público de Transporte de Passageiros por Ônibus (SPPO). Entre as principais obrigações está a contratação de empresa de auditoria para fiscalizar as revisões tarifárias. O documento estabelece ainda, entre outras medidas, que a secretaria exija dos consórcios a adequação dos terminais de passageiros no prazo de até 180 dias e elabore, no prazo de 30 dias, plano determinando que, até 31 de dezembro de 2016, todos os ônibus sejam equipados com ar-condicionado.

Na mesma semana do anúncio do aumento nos ônibus, o governador Sérgio Cabral anunciou, na sexta-feira (31), que serão mantidos os valores atuais das tarifas de trens (R$ 2,90), barcas (R$ 3,10) e metrô (R$ 3,20).

Manifestantes caminham com faixa mostrando frase de protesto contra Cabral e Pezão no Centro do Rio (Foto: Onofre Veras/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)

Operação Pare o Aumento

Assim que foi anunciado o aumento, ativistas começaram a mobilizar manifestantes nas redes sociais para o ato de protesto desta quinta. "Se a passagem aumentar, o Rio vai parar", informa o cartaz publicado no Facebook.

Desde dezembro, quando Paes sinalizou que haveria aumento em 2014, manifestantes foram às ruas para dizer que não aceitariam qualquer aumento. Na noite de 18 de janeiro, um grupo interditou a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio. Em seguida, o protesto continuou na Central do Brasil, onde alguns ativistas também chegaram a pular as catracas.

'Recuo após pressão popular'

Em 1º de junho do ano passado a tarifa dos ônibus do Rio aumentou de R$ 2,75 para R$ 2,95. Após mobilização em outras capitais por causa do aumento da passagem, houve protestos também no Rio e o reajuste de R$ 0,20 acabou suspenso pelo prefeito Eduardo Paes 18 dias depois.

No Rio, foram cinco grandes protestos em repúdio ao reajuste. Na primeira manifestação, cerca de 2 mil pessoas se reuniram no Centro do Rio. O ato, que começou pacífico, terminou em confronto com policiais militares. Um grupo mais radical ateou fogo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Os atos contra reajuste das tarifas do transporte público nas capitais começou em São Paulo. A situação influenciou manifestações no Rio e em outras capitais do país, que também acabaram recuando no reajuste das passagens. Ao anunciar que a tarifa no Rio voltaria a R$ 2,75, Paes disse que a decisão foi tomada em conjunto com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. À época, o prefeito do Rio disse que a conversa entre os dois já vinha acontecendo havia algum tempo.

*G1