Uma fila de caixões se formou no chão do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML), no Vale dos Barris, ontem de manhã. O feriado havia sido violento — 24 assassinatos entre sexta-feira e sábado, em Salvador e Região Metropolitana, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP). Mas não era só por isso que às 9h de ontem os setores de reconhecimento e liberação de corpos estavam cheios. Em vez de receber os corpos de seus parentes, as cerca de 30 pessoas que aguardavam no local ouviam dos funcionários do IML que havia “problemas no sistema”.
Foi também o que disseram funcionários de funerárias. “Há cinco dias o sistema caiu e parou de liberar. Hoje, está liberando muito lentamente”, afirmou Jorge Cerqueira, que trabalha em uma funerária na avenida Suburbana.
Um funcionário do IML contou sob anonimato que o processo entre entrada, reconhecimento e liberação do corpo costuma durar, em média, 12 horas. Nos últimos cinco dias, porém, tem levado ao menos 48. Ele não soube informar a capacidade das geladeiras do IML, mas contou que pelo menos 11 corpos que estavam no local na noite de sábado haviam sido deixados para ser necropsiados ontem. Isso sem contar os que haviam chegado no final da noite e durante a madrugada.
Há quatro dias tentando liberar o corpo de Merivaldo Silva Gonçalves, 31, assassinado na última quinta-feira, no Alto de Coutos, a cunhada dele, Edvânia Gonçalves, disse que já havia feito o reconhecimento e apresentado os documentos de Merivaldo mais de uma vez. Mesmo assim, não conseguiu a liberação. Ela contou que o sepultamento, no Cemitério de Periperi, já foi remarcado três vezes. “Todo dia é a mesma conversa, que vai fazer a perícia, mas nada de liberar. Ontem (sábado) disseram que estava entrando na perícia. Hoje (ontem), disseram que ainda nem foi feita”, disse.
Funcionários de funerárias evitavam levar os familiares para reconhecer ou tentar liberar corpos que haviam chegado ontem ou no sábado ao IML. Isso porque, segundo ele, seria uma perda de tempo, já que os corpos não seriam liberados no mesmo dia.
Já Adriana dos Santos, companheira de Anderson Silva Carvalho, 31, morto em Periperi na sexta-feira, teve que adiar o sepultamento, marcado para as 11h de ontem no Cemitério de Plataforma. Além de o corpo não ter sido liberado, ela não poderia fazer o reconhecimento por não ter documentos que comprovassem a união. “Eles falam que tem mais de 20 corpos na frente. Eu trouxe um irmão dele pra reconhecer, mas nada”, contou.
A família de Fábio Santos Machado, assassinado em Lauro de Freitas na sexta-feira, disse que as justificativas não são convincentes. “Falaram que era uma lentidão no sistema, depois que só tinha uma pessoa atendendo. Me deram um telefone para ligar, eles dizem que já foi feita a perícia, mas não consigo liberar o corpo. É um sofrimento até enterrar”, disse Joana Figueira, irmã de Fábio.
A assessoria de comunicação, do Departamento de Polícia Técnica (DPT) negou problemas na liberação dos corpos. Segundo o DPT, houve uma atualização na rede de informática na última quinta-feira, mas que o sistema voltou ao normal no mesmo dia. Quando questionada sobre a situação das famílias que aguardavam a liberação há quatro dias, a assessoria disse que essa lentidão corre em casos de pessoas não identificadas ou que tenham problemas com documentação.
As informações são do Correio.