“Larga esse computador e vai estudar!”. A principal reclamação dos pais está ameaçada diante do crescimento das inovações tecnológicas que auxiliam também na preparação dos alunos que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nos dias 26 e 27 de outubro.

Além dos computadores e tablets, os celulares inteligentes, denominados smartphones, oferecem facilidades para o estudo através de aplicativos que podem ser baixados gratuitamente.

E todos esses equipamentos já são uma realidade nas salas de aula. “Os alunos são hi-tech e buscam esses recursos tecnológicos. Não é possível estudar só pelo impresso”, afirmou a professora e coordenadora de informática do Colégio Anchieta, Márcia Lima.

Alunos do 3º ano do Colégio São Paulo, por exemplo, já trocaram módulos e cadernos por tablets desde o ano passado. O material escolar que antes era distribuído em 12 livros agora é disponibilizado em PDF — e pode ser impresso por aqueles alunos mais tradicionais.

Subsídio
“A compra não é obrigatória e quem já tiver um tablet pode trazer, mas o colégio subsidia uma parte. O valor do aparelho cai de R$ 2.000 para cerca de
R$ 800”, explicou a supervisora pedagógica do colégio, Rita Cavalcanti. “Faz diferença. Enquanto a gente assiste a aula pode buscar mais informações sobre o assunto”, disse Bruno Costa, 17 anos, que confessa ter ficado desconfiado da troca no começo do ano. “Pensei que fosse sentir falta das anotações no papel, mas já me acostumei”, completou.

Thiago Tlessim também ficou apreensivo, mas conta que hoje não usa caderno para nada. “É questão de costume. Só de não ter que carregar aquele tanto de módulo”.

Ele garante ter controle suficiente da ferramenta para não se distrair. “Meus pais não pegam no meu pé. Tenho noção de que preciso estudar. Jogo um pouco, mas é só um pouco, para não perder a prioridade”, contou.

Aplicativos
O caderno de exercícios vem impresso, mas o estudante Lucas Góes explica que existem vários aplicativos que proporcionam o mesmo treino.

Da realização de simulados à formulação de gráficos de desempenho, os aplicativos possibilitam um modo de estudar alternativo, que pode ser realizado em qualquer lugar. O appProva, por exemplo, oferece 9 mil questões e marca o tempo de resolução. Em casos de resposta errada, o dispositivo aponta quais assuntos o aluno deve estudar para evitar novas falhas.

O aplicativo oficial do Enem é o favorito de Thiago Tlessim, que alega já ter testado a maioria. “Ele vem com todas as provas, de 1999 a 2012. Muita gente acaba comprando os exames, mas sai muito caro”, explicou. A dica de Thiago é que dúvidas devem ser tiradas com o professor, já que os gabaritos de aplicativos podem vir errados.

Dispositivos como Descubra o Enem e Enem Free trazem um banco de provas do próprio exame que, após as respostas, geram um resultado para ser comparado com outros testes. O Quase lá Enem foca na diminuição do tempo de prova.

Para não desviar a concentração nas horas de estudo, Lucas desconecta as redes sociais. “Se deixar logado desvia o foco, um minuto você já perde muita coisa”. A internet sem fio é disponibilizada pelo colégio, mas o acesso a redes sociais é bloqueado para evitar a dispersão.

Limite
Para a orientadora do ensino médio do Vitória-Régia Centro Educacional, Christine Torniolo, o limite é fundamental na hora de estudar e o papel tem que ser o principal.

“Muitos alunos têm o hábito de estudar com internet, celular e redes sociais. Apitou, chama atenção. Quando você vai ver já saiu de uma tela para outra. É difícil, precisa de uma conscientização”, exemplificou.

No que se refere à distração, Márcia aponta que ela pode acontecer independentemente da tecnologia. “Antes, o aluno pegava a caneta e ficava rabiscando. Claro que o whatsapp é mais atrativo. Quando o aluno quer dispersar, ele vai dispersar”, analisou a orientadora, que ressalta a necessidade do professor aprender a lidar com essa realidade. “Até do Facebook é possível tirar proveito, pegar o gancho e tratar outra coisa”, aponta.

Já para Christine, os instrumentos de estudo tradicionais podem ser apenas complementados pela internet. Ela explica que a incômoda “conversa paralela” das aulas foi substituída pela troca de mensagens.

“Alunos que levam tablets e celulares como alternativa ao caderno têm que ter a consciência de que essas ferramentas podem tirar a atenção e comprometer a aprendizagem em sala”, opinou.

“Falta maturidade e conscientização. Até os adultos usam celular em cinema e teatro quando não podem”, completou. No Vitória-Régia Centro Educacional, o uso de dispositivos móveis em horário de aula é punido e o aluno pode ter o equipamento apreendido pelo professor.

Outro ponto negativo sobre a presença das tecnologias na rotina de estudos é a acomodação, levantada por Márcia. “O aluno precisa criar também. Senão ele encontra um aplicativo que vai ensinar a resolver uma equação do segundo grau e não se preocupa mais com o desenvolvimento. A tecnologia facilita, mas não pode deixar os cálculos de lado”, explicou a professora do Colégio Anchieta.

Mãe de uma aluna do 1º ano, a pedagoga Gislene Andrade conta que a filha estuda conectada nas redes sociais. “Às vezes, ela está lendo um slide e no facebook, mas faz parte, basta ter consciência do limite. Uma conversa no bate-papo pode ser sobre o assunto”, pondera. Laís Andrade não tem smartphone. Apesar de já ter pedido um aparelho, a mãe conta que ela não tem necessidade de mais um mecanismo para desviar atenção.

Escola tem estúdio para professor poder gravar aulas para internet
Assim como os alunos, os professores também se apropriam das tecnologias — mas como ferramenta de ensino. A presença da lousa interativa nas salas de aula é um exemplo disso.

Segundo a professora e coordenadora de Informática do Colégio Anchieta, Márcia Lima, os educadores não conseguem mais dar aula sem o auxílio tecnológico.

“Já pensou pegar um giz e desenhar o corpo humano no quadro? Vai levar muito tempo. Hoje o professor de Biologia coloca na tela, às vezes, até em 3D, com recursos multimídia de som e animação”, comparou a professora de Informática.

As aulas em vídeo, disponibilizadas na internet, também são uma prática dos educadores na tentativa de facilitar a compreensão, já que o estudante vai poder rever a explicação o número de vezes que achar necessário.

O Colégio Anchieta possui um estúdio para os professores realizarem as gravações e, em caso de dúvidas, existe uma sala de treinamento. “Tem profissionais durante todo o dia para auxiliar na edição e ajudar o professor que seja mais antigo a utilizar os programas”, explicou.

Para Márcia, os professores têm que acompanhar a evolução. “Quando você é professor e gosta do que faz sempre vai buscar maneiras de deixar as aulas mais interessantes e o aluno satisfeito”, concluiu.

Cuidado com o ‘internetês’ na redação
Um aspecto percebido pelos educadores quando o assunto é a influência da internet se refere à linguagem, principalmente quando o assunto é a redação. A ampla utilização de palavras reduzidas e códigos pode atrapalhar na hora de adequar a linguagem à formalidade.

“A linguagem online é própria para aquele ambiente. Nas questões discursivas, por exemplo, eles são avaliados a partir da linguagem formal”, afirmou a orientadora do ensino médio do Vitória-Régia Centro Educacional Christine Torniolo.

Segundo a educadora, são comuns alguns momentos de confusão — por isso, a presença do papel e caneta é essencial. “O aluno tem que lembrar que mesmo com os recursos tecnológicos, ele vai voltar ao papel. Na hora da prova, não tem aplicativo”.*Correio