Luciano Silva Santos, 27 anos. Mais de dez anos no crime. Pelo menos cinco anos atuando como líder de uma das maiores quadrilhas de Pernambués. Apontado pela polícia como autor de mais de 10 homicídios, sendo a maioria de integrantes de quadrilhas rivais. Mais conhecido como Babalu.
Segundo moradores, audacioso o suficiente para ordenar um toque de recolher no bairro em novembro do ano passado. Depois de meses de investigação, o traficante foi apresentado na tarde de ontem pela Polícia Civil, no prédio do órgão, na Piedade.
O traficante estava escondido na casa dos pais, na Baixa do Manu, em Pernambués, quando foi surpreendido pelas equipes do Departamento de Narcóticos (Denarc) e da Delegacia de Entorpecentes (DTE), por volta das 5h da manhã.
Segundo o delegado titular da DTE, Guilherme Machado, Babalu estava com parentes no momento da chegada dos policiais. “As pessoas (que estavam com ele) ficaram com medo de ter algum confronto, mas ele acabou fugindo”, contou.
Segundo Machado, Luciano tentou correr pelo telhado de casas vizinhas para escapar do cerco. “Ele invadiu residências e chegou a fazer uma mulher e uma criança de reféns. Com elas, se trancou em um quarto da casa e os policiais precisaram fazer a negociação para que ninguém se ferisse”. Cerca de meia hora depois, o traficante se entregou.
Para o delegado, a ação foi uma “operação cirúrgica” para capturar especificamente Babalu. Em novembro do ano passado, 125 PMs fizeram uma caçada em busca do traficante, mas ele não foi encontrado.
Ainda ontem, equipes do Denarc e da DTE realizaram uma nova operação em busca de outros integrantes da quadrilha de Babalu, além de drogas e armamentos, de acordo com o delegado Guilherme Machado.
“Temos mais de 20 nomes de pessoas associadas a ele”, disse, sem identificar possíveis integrantes do bando. Até o fechamento desta edição, às 22h, ninguém havia sido localizado pela polícia.
Denúncias
Babalu também é um dos líderes de registro no Disque Denúncia da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Segundo a assessoria da Polícia Civil, mais de 30 ocorrências foram listadas contra ele.
Para o delegado-geral Hélio Jorge, as denúncias anônimas ajudaram a polícia a descobrir o local onde o traficante estava se escondendo. “Foi um trabalho de investigação e inteligência, mas as informações chegadas através do Disque Denúncia são importantíssimas”, declarou.
Babalu não chegou a fazer parte do Baralho do Crime, elaborado pela SSP, mas já era cotado. “Ele era um dos mais denunciados, por ser bastante violento e fazer muito uso de força. (Babalu) tem fama de ser um exímio atirador”, pontuou o delegado-geral.
A fama fez com que o traficante se tornasse muito temido pela população do bairro, de acordo com o delegado Guilherme Machado, da DTE. “Ele movimentava bastante (o tráfico), por ser um criminoso de grande porte com uma quadrilha de muitos integrantes. Ainda manuseava armas de grosso calibre, além de praticar homicídios de forma destemida”, comentou.
Contudo, a polícia diz que não tem como mensurar o tamanho exato do alcance da quadrilha de Babalu porque ele já teria extrapolado os limites do bairro. “A área dele é Pernambués, mas esse é um bairro muito grande. Já temos informações dos tentáculos dele por outros lados”, afirmou o delegado André Viana, diretor do Denarc, sem informar maiores detalhes.
Ainda de acordo com Viana, a polícia ainda está calculando o valor do “patrimônio” de Babalu. “Esse é um dos objetivos do Departamento agora, para fazer um combate mais incisivo ao tráfico”.
Durante a apresentação, contudo, Babalu alegou ser inocente de todas as acusações. “Nunca matei ninguém e não tenho nada com isso. As pessoas não têm provas”, afirmou. Ainda assim, ele será transferido para o Presídio de Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura.
A prisão de Babalu foi resultado de um mandado de prisão expedido pela 2ª Vara de Tóxicos em 2011, por tráfico de drogas. No processo ao que o mandado se referia, ele foi condenado a 8 anos e 4 meses de prisão em regime fechado.
Segundo o delegado Guilherme Machado, Babalu ainda tem outros dois mandados de prisão em aberto, solicitados pela 1ª Vara de Narcóticos e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Operação com 125 PMs tentou pegar Babalu e não conseguiu
Em novembro do ano passado, o CORREIO acompanhou a operação em que 125 policiais militares tomaram o bairro de Pernambués na tentativa de encontrar Babalu. Na época, moradores afirmaram que o traficante determinou um toque de recolher, depois da morte de um rival. O traficante teria ordenado o toque para mostrar sua força na comunidade.
Durante a ordem, lojas e escolas estavam sendo fechadas até duas horas antes do normal. Ao fim da operação, 135 quilos de maconha foram apreendidos pela polícia, além de 40 pedras de crack e cinco carros com suspeita de terem sido roubados. No entanto, não houve nenhum sinal de Babalu.
Ainda hoje, contudo, a polícia não confirma que o toque de recolher existiu. “Alguns dizem que ele determinava algumas situações. Mas se determinava, não determina mais”, disse o delegado-geral, Hélio Paixão.
Cinco bandos disputam o tráfico no bairro, segundo polícia
Não é só a quadrilha que era liderada por Babalu que aterroriza os moradores de Pernambués. De acordo com o delegado Guilherme Machado, outros quatro grupos disputam o domínio do tráfico de drogas na região. “Tem a quadrilha de Beto Fuzileiro, a de Ronaldo e Pito, uma liderada por Macaco e também temos a quadrilha de Nau”, disse.
Segundo Machado, os cinco grupos fazem uso de armas de fogo pesadas, como metralhadoras, escopetas, pistolas e granadas. O bando de Babalu, contudo, era um dos mais violentos. “Eles rivalizavam com as outras, especialmente com a de Beto Fuzileiro e a de Ronaldo e Pito. Essa rivalidade era a responsável por um grande número de mortes no bairro”, apontou.
Com a prisão de Babalu, o delegado diz que já tem ideia de quem poderia ser o substituto do líder da quadrilha. “Todas as forças policiais da área já foram alertadas, porque em operações desse tipo, há risco até de confrontos com rivais”. Para conter os índices de criminalidade em Pernambués, Guilherme Machado destacou que a Polícia Civil tem aumentado as incursões na área. Fonte: Correio