Longe dos holofotes desde o final do mandato como prefeito de Salvador, João Henrique tenta, aos poucos, retomar, de alguma forma, o lugar de fala peculiar, em que atira contra a mídia e a “elite política” soteropolitana. Em entrevista à Rádio Maré FM, do Subúrbio Ferroviário, o ex-prefeito disparou também contra o PP, partido que o acolheu depois de saídas conturbadas do PDT, por onde se elegeu chefe do Executivo, e do PMDB, que o reelegeu.
“Eu estou filiado ao PP, mas o meu partido está com o projeto do governo do estado. A minha visão sempre foi diferente do PT. Aliás, todas as eleições que votei, pode reparar que sempre foi contra o PT e, graças a Deus, sempre vencendo o PT”, avaliou João Henrique.
O assunto surgiu em meio aos comentários sobre a possível participação de JH na eleição em 2014, como candidato a governador, como o mesmo simula – apesar da rejeição das contas de 2009 na Câmara de Vereadores, que o tornaria inelegível até 2020. “Eu acho que o melhor nome, de fato, para concorrer e vencer o governo do estado hoje é o nome do prefeito ACM Neto. Ele é o favoritíssimo para vencer a eleição de governador da Bahia. Nosso nome aparece em segundo lugar. O nosso nome é uma questão de partido político. Eu teria que encontrar um partido político que me acolha”, afirmou o ex-prefeito da capital baiana, que ainda detém a presidência municipal do PP.
Segundo João Henrique, a aproximação entre o PP e o projeto petista no estado, colocada “reiteradas vezes” em público, dificulta a permanência dele junto aos progressistas, principalmente por causa do projeto político de lançar seu nome na briga pelo Palácio de Ondina já em 2014.
“Fica difícil a minha permanência no partido, na medida em que o meu projeto para o governo do estado é muito maior e diferente da visão do PT. Nosso projeto para o estado, a nossa visão para o estado não é a mesma do PT. É muito diferente. Então eu tenho que buscar de fato outra alternativa que seja uma alternativa independente em relação ao projeto do PT para o governo do estado”, comentou o antigo titular do Palácio Thomé de Souza. Seu destino, porém, é incerto. “O PTN pode ser uma opção, mas estou estudando outras também, além dele”, sugeriu.
Ainda que defenda a si próprio para governador, o ex-prefeito considera seu sucessor, o prefeito ACM Neto (DEM), a quem chama de “candidato favoritíssimo”, como o principal nome para enfrentar o projeto do PT para o governo do estado. Porém, João Henrique pondera sobre uma situação que, segundo ele, aconteceu em 2006, dois anos após assumir a Prefeitura de Salvador.
“Ele acabou de se eleger prefeito de Salvador, será que a população de Salvador concordaria com a saída dele agora para disputar e vencer o governo do estado? Eu passei por esse momento que ele está passando, de ganhar uma prefeitura e estar com o nome em favoritismo para ganhar o estado. Eu optei por ficar os oito anos. Não sei se o atual prefeito ACM Neto vai ter essa mesma opção”, pontua.
Diferente do tom adotado na primeira manifestação pública após deixar a prefeitura, quando indiretamente reclamou da conduta do sucessor ao referir-se à administração dele, JH foi mais delicado e admitiu as dificuldades enfrentadas por ACM Neto.
“O prefeito está tentando acertar. Salvador é uma cidade difícil, muito difícil. E não é fácil para ninguém administrá-la. É uma prefeitura muito pobre, é uma cidade que vive da informalidade. É uma cidade sem receita. Fica dependendo o tempo todo da boa vontade do governo federal e do governo estadual”, lembrou João Henrique, que garantiu: “Até o São João a gente vai ter um programa (de rádio). Não só um programa, mas uma participação de um dia inteiro numa rádio em Salvador”.
Presidente do PP afirma não ter sido comunicado
A declaração do ex-prefeito de Salvador, João Henrique, que não encontra espaço no PP para realizar o desejo em ser candidato a governador em 2014 foi rechaçada pelo presidente estadual do partido, deputado federal Mário Negromonte.
Segundo o dirigente, a legenda não foi comunicada sobre qualquer decisão de JH após a saída dele do Palácio Thomé de Souza. “Vamos aguardar o pronunciamento oficial dele. O último contato que tivemos com ele foi no início da campanha eleitoral do ano passado”, apontou Negromonte.
Recebido com festa no PP, que o elegeu presidente do diretório municipal em março de 2011, o ex-prefeito da capital baiana não encontra espaço na sigla desde que houve o recrudescimento da candidatura do correligionário João Leão à Prefeitura de Salvador e o apoio dos progressistas ao projeto político de Nelson Pelegrino, do PT, antes da corrida eleitoral de 2012.
Sem uma candidatura do próprio partido, João Henrique não possuía chances de defesa em meio aos ataques durante a campanha e, entre os primeiro e segundo turnos, se viu obrigado a utilizar de medidas judiciais para tentar salvaguardar a própria imagem. Enquanto isso, a campanha apoiada pelo PP não poupava nas acusações de deméritos à administração de JH na Prefeitura de Salvador.
Questionado sobre a sucessão na direção municipal do partido, Negromonte indicou que o mandato de presidente é de dois anos, “mas isso não quer dizer que não pode ser alterado antes”. A decisão, entretanto, não deve ser tomada por agora. “Tem que ver quando expira o mandato”, completou. Sobre a possibilidade de ter o ex-prefeito como candidato ao Palácio de Ondina, o dirigente não hesitou em responder peremptoriamente.
“Não fomos procurados por João Henrique para falar sobre candidatura a governador. Nunca chamou para conversar. Lá atrás, ele não disse, mas pediu que alguém dele nos procurasse para mostrar o interesse na candidatura. Mas, para ser candidato a governador, o partido tem uma fila antes dele”, reforçou o presidente estadual da sigla.
A falta de sintonia entre João Henrique e a legenda a que está filiado não é nova e foi reproduzida em diversas reportagens da Tribuna. Agora sem mandato, porém, a possibilidade do ex-prefeito migrar para outra sigla torna-se cada vez mais plausível com as recentes declarações de JH. Sobre o possível afastamento dele do PP, Negromonte é taxativo. “A porta do partido é aberta para entrar e para sair”, assegurou. fonte: Tribuna