O Pagodart desfilava pelo Circuito Dodô (Barra/Ondina), no Carnaval de 2004, quando Paulo Henrique Araújo dos Santos estava na pipoca com a tia e dois primos. O garoto, de 15 anos, se emocionou ao perceber, ao longe, o som do cavaquinho da banda que já era fã. “Quando vi Flavinho em cima do trio eu não conseguia nem piscar. Comecei a chorar. Fiquei emocionado e decidi que queria ser igual a ele”, revela o novo cantor da banda Black Style, Rick Ralley, que é paulista e tem 23 anos.

Ainda se preparando para o show de estreia – dia 30 de março no Armazém Villas – o agora vocalista de uma das bandas de pagode mais famosas e polêmicas da cidade recebeu o CORREIO para falar sobre seu atual momento.

O convite para integrar a Black Style foi a realização de um sonho. “Quando o empresário me ligou, eu não acreditei. Não tenho palavras para descrever a emoção. Contei a novidade pra todo mundo”, conta um empolgado Rick. Pagofunk No último mês, Rick foi ao Rio de Janeiro para mergulhar no mundo do funk, já que, nesta fase, o ritmo se funde ao pagode em todas as músicas da banda.

Na ida aos morros cariocas, ele conheceu o MC Moreno, com quem compôs a nova música de trabalho da banda, Quadradinho, que está também no álbum O Mesmo Som. Um Novo Show. Com 20 canções inéditas, o trabalho será lançado no mesmo dia da estreia de Rick. Mas os fãs já podem conferir na internet, através do site www.blackstyle.com.br. Em menos de uma semana, já foram mais de 300 mil downloads.

O CD vai inspirar o primeiro DVD com Rick à frente da banda, com lançamento previsto para o segundo semestre. Serão clipes gravados em Salvador e no Rio de Janeiro. Definindo o estilo musical do grupo como pagofunk, Rick afirma que a banda vai seguir com o mesmo suingue, “mas agora com uma pegada mais leve”. “Eu prefiro maneirar nas letras. Tanto que, por sempre seguir esse caminho, fui escolhido para estar hoje na Black Style. Sempre usei da sensualidade sem esculhambar”, ressalta Rick, que confessa se sentir incomodado de cantar músicas mais apelativas.

“Não é tudo que eu canto, por exemplo, que deixo meus filhos escutarem”, acrescenta Rick. Ele é casado há três anos com a secretária Juliana Loureiro, 23, e tem dois filhos – Giulia, 2, e Ruan, de 7 meses.

Nas horas de lazer, Rick curte ficar em casa com os filhos: Giulia e Ruan

Infância difícil

Quando tinha 11 anos, Rick foi colocado no avião pela mãe com passagem apenas de ida para Salvador. Empregada doméstica, Clarice Araújo, hoje com 50 anos, não tinha condição de manter os dois na cidade. “Eu estava passando por um sufoco e achei melhor deixar Rick com minha irmã, enquanto ajeitava as coisas”, recorda.

Abandonado pelo pai quando tinha 2 anos, Rick precisou trabalhar desde cedo. Vendeu picolé, água e catou latinha perto de casa, em Taboão da Serra, na periferia de São Paulo. “Sempre fomos só nós dois e, apesar das dificuldades, o que não faltou foi amor e confiança”, lembra o cantor, que tem dois irmãos por parte de pai e um por parte de mãe.

Rick se interessou pela música por influência da mãe. “Nos almoços de domingo eu escutava muito Jovem Guarda”. Com os amigos, no entanto, só escutava pagode carioca.

Carreira

Em Salvador, no bairro da Boa Vista do Lobato, conheceu e se apaixonou pelo pagode baiano. “Foi amor à primeira vista. Escutei logo quando cheguei. A música é alegre, contagiante”, ressalta. E numa era pré-internet das periferias, a saída para consumir as novidades do pagode se resumia a escutar rádios populares, sempre nos programas de finais de semana, ou comprar CD pirata.

O estilo das bandas servia de inspiração também na maneira de se vestir. “A gente só via na capa do CD o que nossos ídolos usavam. Aí eu ia pra Avenida Sete procurar as roupas falsificadas que os pagodeiros estavam usando e comprava igual. Copiava tudo”, conta.

Daí para uma brincadeira entre amigos de montar uma banda foi um pulo. “E quando sugeriram que eu fosse cantor, na mesma hora pensei: Vou fazer igual a Flavinho!”, diz, referindo-se ao ídolo do Pagodart. Essa foi a primeira de várias outras bandas, todas de pagode, pelas quais o cantor passou antes de estrear na Black Style. Ele já integrou os grupos Swing do P, O Batidão, Barabadás e NoizPodi.

Vaidade

Na oitava série, Rick deixou o colégio e passou a conciliar a música com trabalhos como marceneiro, ajudante de pedreiro e de mecânico. “Sempre tive o sonho de ser cantor, mas o desejo se tornou mais intenso quando minha mãe voltou a morar em Salvador e nos mudamos pra Pirajá. Na minha rua tinha um estúdio e eu não saía de lá”.

E foi lá que teve oportunidade de participar de seleções em outras bandas e conhecer artistas como Léo Santana, do Parangolé, e o próprio Flavinho, ex-vocal do Pagodart. E qual a razão para o nome artístico Ralley? “A dona da banda Swuing do P me ligou e perguntou meu sobrenome para incluir no material de divulgação. Falei o Araújo e ela não gostou. Me disse que teve uma ideia e desligou. Aí, já soube no rádio que, a partir daquele momento, eu era o Rick Ralley. Ela disse que soava bem aos ouvidos… Eu aceitei”.

E se não fosse cantor, o que seria? Designer. “Adoro editar fotos, criar marcas e desenhar. Ainda tenho vontade de fazer um curso de designer”, projeta o rapaz, que se assume mais vaidoso do que a mulher. “Gosto de fazer minhas unhas, passar cremes, usar roupas bacanas. Preciso cuidar da minha imagem, até pela profissão que escolhi”, justifica.

Sete tatuagens decoram o corpo escultural de Rick Ralley, que malha todos os dias desde os 17 anos. Os desenhos se dividem em três temas: família, música e Deus. “Deus é minha fortaleza. O que mais amo, antes de tudo e todos, a quem eu devo agradecimentos constantes por tudo que ele fez e faz na minha vida”, afirma. Fonte: IBahia