Félix Mendonça Jr.: "O PDT não é subserviente ao projeto do PT"

Considerado uma das fortes lideranças do PDT, o deputado federal Félix Mendonça Júnior deixa claro que futuramente vai pleitear a presidência do partido em âmbito estadual.

Segundo ele, embora não existam divergências com o atual dirigente da sigla, Alexandre Brust, a busca pelo comando deve ser um caminho natural. Apesar de considerar que não houve negativa do governador Jaques Wagner (PT) em relação ao pedido do PDT por mais espaços no governo, o pedetista sinaliza que a legenda poderia ser mais contemplada, conforme os seus ideais.

Félix enfatiza também que a proximidade existente entre o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, e o governador não significa que o PDT seja subserviente ao projeto do PT. “A proximidade dele sendo maior ou menor com o governador não muda os rumos do partido”, disse, frisando o apoio à candidatura de Nilo ao governo em 2014.

O deputado indicou também a ligação do PDT com a administração do prefeito ACM Neto ao conter críticas e sugerir que o partido deve torcer pelo sucesso da gestão democrata.

Tribuna – O PDT tem hoje um candidato ao governo para 2014 que é o deputado estadual Marcelo Nilo. Essa é uma posição unânime dentro do partido?

Félix – O deputado Marcelo Nilo se colocou como candidato ao governo e o PDT apoia ele para essa missão. Acho isso bom. O partido cresce tendo um candidato ao governo. O partido deveria ter lançado candidato a prefeito de Salvador. O partido só cresce tentando ser, não importa se vai ganhar ou perder. Todo partido político quer ter um presidente da República e nós queremos também um dia. Nós temos pessoas para isso. Temos lá em Brasília pessoas que têm gabarito, como o Miro Teixeira que é um dos parlamentares mais conceituados da Câmara. Temos nomes muito importantes, como o Cristóvão Buarque, e aqui na Bahia também temos, como o deputado Marcelo Nilo, que se colocou e os companheiros todos o apoiaram.

Tribuna – Existem divergências hoje dentro do PDT? O senhor pretende brigar pelo comando do partido?

Félix – Não. Não existem divergências. O PDT está com Brust, mas lógico que se tiver uma disputa posso ser candidato. Sou candidato natural, já demonstrei meu interesse, mas só quando isso acontecer. Não estou brigando para isso. Mas quando acontecer, sou candidato sim. Alguns companheiros já conversaram comigo.

Tribuna – Caso o deputado Marcelo Nilo não consiga se viabilizar, o seu nome estaria à disposição do partido?

Félix – O deputado Marcelo Nilo é o nosso candidato a governador, mas caso ele não seja governador e tenha uma vaga para a vice-governadoria, por exemplo, para o PDT, esse candidato à vice vai ser discutido dentro do partido e o meu nome pode estar à disposição.

Tribuna – O presidente Alexandre Brust pediu mais espaços para o partido no governo. Como o senhor analisou a negativa do governo em relação a isso?

Félix – Acho que não teve uma negativa. O PDT cresceu e está crescendo ainda. Estamos filiando mais pessoas. Temos aí pessoas de volta, como o ex-deputado Severiano Alves, que vai ser candidato a deputado federal novamente. Tenho conversado com o senador João Durval, que demonstrou interesse em permanecer no partido e disputar ao Senado ou à Câmara Federal. E se ele se candidatar, em minha opinião, será um passeio por tudo que ele fez na Bahia, pelo que representou para o funcionalismo público. Vamos crescer mais ainda. É claro que quando um partido cresce, acaba querendo mais espaço. Agora não vi uma negativa por parte do governador Jaques Wagner. Uma mudança agora com diversos secretários que sejam candidatos a deputado estadual e federal não é viável. Acho que o governador está esperando essa definição para fazer mudanças mais definitivas.

Tribuna – O governador criou espaços para abrigar outros aliados como o PSC. O PDT estaria sendo desprestigiado pelo Palácio de Ondina?

Félix – Não. O PDT não se sente desprestigiado. Ele quer mais espaço, é natural. O PDT quer que seus indicados atuem bem, que sirvam ao governo, já que nós o apoiamos, baseado nos ideais do partido.

Tribuna-Como o senhor avalia o governo Wagner? Um erro e um acerto?

Félix – Um acerto foi ele ter feito um grande trabalho na área de água e de saneamento básico. As estradas estão aí, visíveis como as condições de trafégo estão melhores, construção de hospitais também foi um grande acerto. Um erro não, mas algo que ele pode melhorar mais é a educação em tempo integral e a defesa de medidas para minimizar a seca, não só o governo estadual como o federal.

Tribuna – A proximidade entre Marcelo Nilo e Wagner, o PDT e o próprio conselho político. Isso poderia ser colocado como um sinal de subserviência do PDT ao PT na Bahia?

Félix – De jeito nenhum. O PDT não é subserviente. Nós temos um candidato a governador que é o deputado Marcelo Nilo. A proximidade dele sendo maior ou menor com o governador não muda os rumos do partido. O partido tem os seus ideais, tem uma linha. Nenhum deputado, nem eu, nem Marcelo, nem Paulo Câmara, nem Roberto vai poder mudar a linha do partido. O partido é maior do que um deputado e do que uma pessoa isoladamente.

Tribuna – Como avalia os três primeiros meses do ano da administração do novo prefeito ACM Neto?

Félix – Primeiro nós do PDT temos que apoiar o seu governo porque essa foi a escolha do povo de Salvador. É muito cedo ainda para fazer essa avaliação. Como se diz na gíria do futebol, eu gostei do arriar das malas. Ele chegou com boas intenções, chegou movimentando a cidade. Ele chegou dando um choque na cidade. Desejo que ele tenha sucesso na administração.

Tribuna – Qual será o maior desafio da gestão de ACM Neto?

Félix – Comandar uma cidade sem recursos, comandar uma cidade problemática em todas as suas áreas, uma cidade em que você não consegue andar em uma rua que não tenha buracos, uma cidae que você não consegue passar em lugar nenhum e não fique com medo. Temos que voltar a ter orgulho de Salvador, a ouvir das pessoas que elas têm vontade de voltar a visitar a cidade, algo que não tem acontecido.

Tribuna – O mercado imobiliário passou a viver um clima de tensão após a denúncia da máfia das Transcons. O senhor, como empresário do setor, de que forma avalia a proposta da prefeitura de auditoria?

Félix – Já fui empresário do setor, mas estou um pouco afastado desse setor. Mas acho que tudo que gera dúvidas tem que ser avaliado. Isso é com as Transcons, mas também com outras coisas, como o metrô, por exemplo. O metrô virou literatura de cordel, piada, brincadeira nacional. Tem que se avaliar o porquê desse problema. Ficamos ridicularizados fora da Bahia, pois se questiona o menor metrô do mundo e com o preço mais caro, que nunca se conclui.

Tribuna – Ainda dentro da questão imobiliária, foi falado nos últimos dias sobre o projeto da Mansão Wildberg. Como está essa situação? Há irregularidades?

Félix – Não há irregularidades. É da família, eu não estou lá na gestão, mas pelo que sei tem aprovação e está tudo certinho. Mas pelo que sei não está em venda, ou seja, está em modificação, está finalizando o projeto. Não está à venda ainda, isso eu tenho certeza.

Tribuna – A insegurança jurídica dificulta os investimentos da iniciativa privada em Salvador?

Félix – Claro. Qualquer insegurança, não só a jurídica, dificulta o convívio com aquele local, e aqui em Salvador eu espero que essa fase passe para que a gente tenha as coisas claras e objetivas. Que o empresário possa vir aqui e se estabelecer, sabendo que aquilo que vai encontrar não vai mudar. A clareza é fundamental. Se existe algum ponto obscuro, isso pode servir de dúvidas ou até de má-fé.

Tribuna – A iniciativa privada poderia ser chamada pelo prefeito ACM Neto para investir mais na cidade?

Félix – Ele vai ter que fazer isso. Vai ser uma obrigação dele fazer isso. Ele vai ter que provocar a iniciativa privada a investir mais na cidade, que as pessoas voltem a ter confiança de aqui estarem.

Tribuna – O governador do estado, Jaques Wagner, deveria dialogar mais com a base?

Félix – É verdade. Eu sinto falta desse diálogo. Eu acho que o governo deveria conversar mais com aqueles que estão lá nos municípios, verificando de perto o que está acontecendo, por exemplo, com a seca, viajando, correndo a Bahia, e os deputados federais também têm essa participação. Não é porque estamos em Brasília que não temos essa ligação direta com os nossos municípios. Eu sinto que se limita um pouco os diálogos com os deputados estaduais e com os federais, é como se dissessem assim: eles são problemas do governo federal ou uma solução do governo federal, mas nós representamos a Bahia em Brasília.

Tribuna – A diminuição das verbas e do tempo do recesso em Brasília deve ser um movimento de cascata em todas as casas legislativas do país?

Felix – Claro. Essa mudança é um anseio do povo. Já aconteceu em Brasília, o 14º e o 15 º aqui na Bahia já acabaram. Eu mesmo tenho uma PEC em Brasília, já está na CCJ tramitando, que limita os gastos das assembleias legislativas com as verbas indenizatórias, sendo 75% no máximo da federal. Em alguns estados, não estou dizendo que é a Bahia, existem absurdos, com três vezes mais gastos do que os da Câmara Federal.

Tribuna – Como avalia a antecipação da disputa de 2014 com todos os partidos colocando seus candidatos ao governo?

Félix – Essa antecipação é boa. É claro que outros pleiteantes interessados vão aparecer e outros vão desistir. As pessoas precisam se interessar por política, não podem ficar reclamando. São aqueles políticos eleitos para governador, presidente da República, para a Câmara dos Deputados, para a Assembleia, para a Câmara de Vereadores que vão mudar os rumos do saneamento básico, da segurança pública, do convívio com a seca, que não é um problema emergencial, pois está aí todo o ano. Agora mesmo vamos trazer o ministro do Trabalho para ver o que ele pode ajudar com a seca, depois vamos tentar trazer o ministro da Agricultura.

Tribuna – Falta prioridade do governo do estado para destravar projetos como o da Fiol e do Porto Sul?

Félix – Não acho que seja falta de prioridade não, mas sim problemas ambientais mesmo. São complicações da região, complicações ambientais. Está saindo até por causa da luta do governo. Neste ponto nós temos que ver a luta, mas não é fácil porque existem legislações próprias e o governo também tem que seguir essas legislações. Mas existe um trabalho desenvolvido.

Tribuna – Como o senhor avalia as críticas da oposição de que o governo Wagner não age de forma célere como a população espera?

Félix – Essa é uma visão que a população vai ter em qualquer governo. Isso eu sinto lá em Brasília também quando queremos colocar um projeto para votar. Mas tem que seguir aquele ritual, passar por várias comissões, votações, aí um pede vistas. Com isso sentimos a morosidade e a população sente mais ainda. Nós temos que tentar simplificar mais o processo para que as coisas aconteçam mais rápido. Essa morosidade é sentida em todas as esferas. Trabalhamos com celeridade, mas as questões nem sempre são como nós queremos.

Tribuna – O senhor é produtor de cacau e tem uma atuação voltada para a região cacaueira. Como o senhor analisa a crise da lavoura hoje e o que pode ser feito para melhorar?

Félix – A crise na lavoura do cacau chegou ao seu pior momento. Está em um momento insuportável e insustentável. Na verdade, nunca fomos produtores de cacau. O meu pai, depois da crise, comprou duas fazendas de cacau e virou cacauicultor da crise, muito diferente daquele produtor antigo que tinha produção onde tudo se podia fazer, tinham mais recursos, onde as fazendas tinham de tudo, com grandes casas maravilhosas, igrejas. Hoje o produtor de cacau mal sobrevive porque não dá para pagar o importo de seus empregados. E o que podemos fazer para melhorar essa crise? Podemos fazer muitas coisas para preservar essa lavoura que é ecologicamente correta porque ela, na mata atlântica aqui na Bahia e em outras matas como em Rondônia, ajuda a preservar a mata. É a única cultura que eu me lembre agora que preserva a mata aqui. Se substituirmos o cacau pelo café ou pelo gado, acabou a mata, aquilo vira pasto ou, no caso do café, aquilo vai ser completamente dizimado. Ora, o cacau tem que ser visto com vários olhos. Um é o da ecologia. O produtor do cacau tem que ser remunerado pela preservação. Quando ele preserva a mata, a sua produção diminui e de repente está acontecendo o contrário hoje em dia. O Incra vai lá e diz que sua fazenda não é produtiva e diz que vai usar aquela terra para fim de reforma agrária, o que dizima a mata do mesmo jeito porque as pessoas entram lá e derrubam a mata do mesmo jeito.

Tribuna – Falta uma política clara do governo federal para modificar essa realidade?

Félix – Na verdade falta uma política. Não há uma política para a lavoura do cacau. Eu lá em Brasília tenho um projeto que é o selo verde para o cacau cabruca, é criar um selo verde para que no futuro possa diminuir os impostos, aumentar e facilitar os financiamentos, ter uma remuneração ecológica. Esse selo verde é o início para ter outros fins. Por exemplo, uma produção de derivados do cacau, de chocolate poderia ser incluída na cesta básica. Nessa medida provisória que o governo mandou – se não me falha a memória é a 6909 -, eu fiz duas emendas pedindo a inclusão do cacau na cesta básica e para desonerar também os produtos derivados do cacau. Então se você inclui na cesta básica já é um avanço enorme para a produção do cacau. Por que não incluir na merenda escolar, nas forças armadas? Renegociação da dívida do cacau de todos os produtores, médio, grande e pequeno. Por quê? Porque eles foram induzidos a fazer a coisa errada. Esse projeto já passou pela Comissão de Agricultura e depois pela Comissão de Meio Ambiente. Outros movimentos que podemos fazer é o preço mínimo. Ora, a soja tem o preço mínimo. Isso é fundamental. Uma produção em que você plantando hoje, ela vai passar a dar economicamente viável produzir com seis anos tem que ter a garantia de preço mínimo. Por que outros produtos têm e o cacau não tem? Porque fomos desorganizados. Passou-se o tempo se falando em quem seria o pai da defesa da lavoura do cacau, mas eu não quero ser pai não. Eu quero que todos os deputados hoje sejam defensores da lavoura do cacau. Foi criada a Frente Parlamentar, onde eu sou presidente, mas hoje temos vários deputados participando, como o deputado Geraldo Simões, José Carlos Araújo, Paulo Magalhães. Recentemente encontrei o deputado Fábio Souto e ele também quer participar. Estamos mobilizados para que possamos mudar isso, tomando medidas efetivas tanto no governo federal, quanto estadual para que possamos salvar essa lavoura.

Tribuna – Pra finalizar, como está sendo ocupar o espólio político de seu pai Félix Mendonça?

Félix – É interessante falar sobre isso, hoje que é o aniversário dele. Essa responsabilidade é maior do que o normal, porque lá em Brasília quando eu chego as pessoas dizem: "Ah, seu pai fez um grande trabalho aqui na comissão. E eu, por levar o mesmo nome, tenho obrigação dobrada porque primeiro preciso honrar o nome dele e o meu. Mas acho que estamos construindo um caminho bom, ele está bastante satisfeito e alegre com minha atuação.

Fonte: Tribuna